Fãs de O Senhor dos Anéis estão furiosos com “Anéis de Poder”

O Senhor dos Anéis é uma das séries mais aguardadas do ano. Alguns fãs, entretanto, estão furiosos com os rumos do show.

O Senhor dos Anéis

Recentemente tivemos um primeiro vislumbre de O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder.

A Amazon está apostando muito em The Rings of Power. A mera existência do programa convida a comparações com a inovadora trilogia O Senhor dos Anéis de Peter Jackson, um marco do cinema. Ainda mais do que The Wheel of Time, The Rings of Power é uma tentativa transparente do streamer de produzir “o próximo Game of Thrones”. As estimativas iniciais sugeriam um orçamento de US$ 1 bilhão para seis temporadas, mas estimativas mais recentes sugerem que a primeira temporada custou US$ 465 milhões.

Como tal, o serviço de streaming provavelmente esperava uma recepção positiva ao primeiro material publicitário a chegar à Internet. Como acontece com qualquer nova adaptação de um trabalho com um fandom dedicado, entretanto, a resposta online tem sido barulhenta e tumultuada

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O Senhor dos Anéis Trailer

Devemos escutar os fãs da internet?

Parte disso é a reação reacionária que acompanha qualquer projeto moderno com personagens femininas ou de cor, e os showrunners Patrick McKay e J.D. Payne são sinceros sobre o quão pouco eles se importam com essas reclamações. Parte disso reflete um conservadorismo no fandom. Outras queixas dizem respeito à arte da adaptação, especialmente as alterações feitas na cronologia do material de origem. Outros, por outro lado, simplesmente não gostam do título.

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A divulgação de todo esse material publicitário em um período concentrado trouxe todas essas reclamações à tona, principalmente para quem usa as redes sociais. Claro, vale ressaltar que a internet não é a vida real. Há uma tendência a assumir que o volume e a intensidade do discurso online se traduzem no mundo real de uma forma que não é verdade.

Há uma tendência, portanto, de superinflar a importância dos fãs para o sucesso de projetos como este, em detrimento do público mainstream mais relaxado, que não usa as redes sociais de forma tão efetiva.

O Senhor dos Anéis sempre foi um material difícil de adaptar

Claro, os fãs de J.R.R. Tolkien tem sido historicamente um grupo muito tradicionalista e conservador. A trilogia de Peter Jackson pode ser amada pelo grande público, mas enfrentou uma batalha difícil tentando atrair um fandom hardcore que parecia quase ressentido com os romances sendo adaptados.

No lançamento de A Sociedade do Anel, por exemplo, alguns fãs reclamaram da decisão de Jackson de aumentar os papéis de personagens femininas, e outros reclamaram que Jackson estava “estuprando o texto”.

Ódio rende mais engajamento

As reações extremas ao material prévio de The Rings of Power são a regra e não a exceção. Hoje em dia, portanto, os comentaristas online não precisam realmente assistir à mídia para gerar uma opinião sobre ela.

Há vários fatores em jogo aqui. O mais cínico é o lado da oferta. Existe toda uma economia online baseada em indignação fabricada. Isso quer dizer que estúdios e pessoas envolvidas nas produções podem gerar ódio e indignação on-line propositalmente. A entrevista de uma ex-funcionária do Facebook fez barulho recentemente ao revelar informações assustadoras, mas esperadas. Nas redes o ódio sempre gera mais engajamento do que o amor e a concordância. 

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No entanto, há também o fato de que grande parte da cultura pop moderna é abordada com reverência quase religiosa. Há uma razão pela qual os fãs ficam obcecados com “o cânone”. Esses filmes e programas de televisão não são apenas filmes e programas de televisão; são monumentos erguidos em homenagem a essas propriedades intelectuais maiores. Nesse clima, os materiais promocionais são tratados com um nível de escrutínio proporcionado a um texto sagrado, com os fãs muitas vezes passando quadro a quadro pelos trailers.

O Senhor dos Anéis

Fãs analisam e comentam cada migalha de informação

Afinal, esse tipo de material promocional se tornou um evento em si. Agora existem teasers para trailers, transformando trailers em lançamentos multimídia ansiosamente esperados. Stephen Colbert organizou um bate-papo virtual antes do lançamento do trailer de Duna.

De certa forma, essa é a conclusão lógica da era moderna da “sopa de conteúdo”, onde franquias populares são destiladas em pacotes disformes de conteúdo consumível. Os estúdios, portanto, não vendem mais uma experiência individual, como um filme ou um show. Em vez disso, eles empacotam universos e franquias inteiros. A expectativa é que um determinado show ou filme não seja uma entidade em si, mas um aperitivo para a próxima coisa. São cenas pós-créditos, participações especiais de surpresa provocando projetos futuros, o inevitável gancho da sequência.

O Senhor dos Anéis
Imagem: Divulgação.

Fãs estariam certos em temer Os Anéis de Poder?

Para ser justo, há razões para desconfiar de The Rings of Power. Muito do que tornou a trilogia original tão atraente foi a visão criativa e a autonomia de Jackson. Com isso em mente, talvez haja algum motivo de preocupação de que a Amazon tenha movido a segunda temporada do programa para o Reino Unido (em parte) para que os executivos pudessem “monitorar” mais de perto a produção.

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Mesmo assim, parece um pouco cedo para gastar tanta energia se preocupando com uma série que já encerrou a produção em sua temporada e está a meses do lançamento. Afinal, as campanhas publicitárias podem ser enganosas – muitas vezes intencionalmente.

Trailers são enganosos, para o bem ou para mal. Lembre-se do trailer de Planeta dos Macacos: A Origem, que ficou abaixo do esperado, mas teve um filme excelente. Ou então Esquadrão Suicida, que teve um trailer fantástico, mas um filme fraquíssimo. A resposta é esperar e julgar o produto apenas quando tivermos uma visão completa dele.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.