Crítica: Sandman, da Netflix, prova que todo sonho é possível

Sandman é a adaptação que os fãs sempre sonharam. De visual caprichado e narrativa fiel, série tem tudo para ser um dos sucessos do ano.

Sandman

Por muito tempo, Sandman esteve no grupo em que O Senhor dos Anéis permaneceu por décadas: o das adaptações infilmáveis. Por anos, a obra de J.R.R. Tolkien foi considerada a mais difícil e improvável para virar filme. A larga escala (em mundo, personagens e narrativa) e a complexidade da trama afastavam qualquer aventureiro. Com Sandman a coisa não era diferente, e a HQ de Neil Gaiman passou muito tempo aguardando por uma equipe corajosa o suficiente para adaptá-la. 

Muitas foram as tentativas de dar vida a Sandman nos últimos tempos. No cinema, sua história ampla parecia não caber. Assim, a televisão parece ter se tornado o lar perfeito para suportar a criação épica de Gaiman. A TV, entretanto, precisou se desenvolver antes de dar vida a Morpheus e companhia. Em 2022, parece que finalmente o meio e a tecnologia parecem capacitados para adaptar Sandman, que chega à Netflix cercada de expectativa.

E é uma ironia enorme que O Senhor dos Anéis esteja recebendo uma adaptação em série no mesmo ano.

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Adaptação é fiel às histórias em quadrinhos

Sandman acerta em cheio ao decidir manter a adaptação o mais próximo possível do material original. Ao transpor as páginas de maneira quase religiosa, a série já conquista os leitores. Além disso, envolve o público em geral justamente por confiar na potência narrativa criada por Gaiman. Isso porque o autor é mestre na criação de universos, mas também é expert no desenvolvimento de personagens e narrativas envolventes. 

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Não é à toa, por exemplo, que as melhores adaptações de Stephen King sejam justamente as mais fiéis (Um Sonho de Liberdade, Conta Comigo, À Espera de um Milagre). Com Neil Gaiman, a lógica é a mesma. Quando as adaptações se afastam, os problemas aparecem. American Gods, por exemplo, sofria sempre que se distanciava do livro Deuses Americanos, mas surpreendia cada vez que referenciava as páginas originais. 

Sandman

Sandman entrega um universo complexo com muitos personagens – sem jamais ser confusa

Com Sandman, então, a qualidade é instantânea, já que o roteiro se mantém colado às histórias em quadrinhos. De todo modo, a série sabe quando divergir de sua origem, e sempre que o faz, é com excelência. Sandman, afinal, é uma HQ gigantesca não só em extensão, mas em escala. São mundos, personagens, criaturas e objetos que povoam a narrativa do início ao fim.

Em suas páginas, surgem diversos personagens da DC Comics. Muitos deles, entretanto, não podem ser usados na adaptação. Assim, outros nomes e rostos são utilizados, mas o roteiro jamais se deixa cair por isso. 

Em sua primeira temporada, aliás, Sandman confia na inteligência do espectador sem jamais confundi-lo. Logo, a história deste primeiro ano é a mais clássica possível: protagonista tem um problema e precisa ir do ponto A ao B e depois ao C até que atinja seus objetivos. Assim, a série diverte sem tornar as coisas muito complexas, um erro que A Roda do Tempo e Shadow and Bones cometeram, por exemplo.

Imagem: Divulgação.

Elenco parece ter nascido para viver personagens da saga

É claro que, para isso, alguns diálogos soam expositivos demais. Ainda assim, estes momentos se revelam necessários para que a trama avance e o roteiro não fique preso por muito tempo em algo desnecessário. A ideia de colocar o corvo Matthew na linha de frente, aliás, é acertada, pois concede ao protagonista, geralmente calado, uma desculpa para conversar. E, assim, informar ao espectador alguns pontos importantes.

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Neste aspecto, vale apontar, que Tom Sturridge é o Sonho perfeito. Sua versão do personagem é soturna, mas demonstra bom humor. É calado, mas sabe se expressar muitíssimo bem. Em suma, é um retrato cuidadoso e certeiro do Morpheus original. O mesmo se aplica a Jenna Coleman, confortável no papel de Johanna Constantine. Sua versão do conhecido personagem é fiel ao original, trazendo a mesmíssima persona vista nas páginas. Que agora Constantine seja uma mulher não faz diferença alguma. 

Superprodução de encher os olhos, mas que nunca esquece os personagens

Sandman, ainda, enche os olhos com uma belíssima produção. A direção de arte se esbalda nos traços originais para criar espaços e objetos belos e ricos. Os efeitos visuais, por sua vez, aumentam a escala, e nada – nem ninguém – fica menor por falta de orçamento ou vontade. Se em outros tempos uma adaptação de Sandman poderia cortar custos, agora temos uma recriação fiel e que não deixa nada para trás. 

Neil Gaiman, então, pode se sentir feliz, pois esta talvez seja a melhor adaptação de um de seus trabalhos. Sandman é bonita e envolvente, com capítulos rápidos e que acertam ao contar histórias relativamente isoladas, mas que funcionam no contexto geral. No fim, Sandman prova que todo sonho é possível.

Nota: 4,5/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.