American Crime Story Impeachment começa desinteressante | Crítica
Terceira temporada de American Crime Story estreia mostrando o processo de Impeachment do Presidente Bill Clinton nos EUA.
Durante seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton se viu no centro da maior polêmica do seu governo. Governo, esse, que já era envolto em polêmicas desde o primeiro dia. Nenhum, todavia, maior do que o escândalo sexual envolvendo Monica Lewinsky. A jovem funcionária da Casa Branca teria sua vida revirada de ponta cabeça por seu envolvimento com o presidente, que apresentava um péssimo histórico de avanços nas mulheres ao seu redor.
Por isso, entrou para a seleta lista de presidentes que sofreram impeachment no país. Essa é a história da nova temporada de American Crime Story, série de Ryan Murphy. Quase lenda urbana em algum momento, o novo ano da série foi prometido há um bom tempo e parecia nunca sair do papel – a última temporada da atração foi lançada em 2017. No entanto, com todas as idas e vindas, finalmente Impeachment está entre nós. Para bem ou para mal. Qual será?
Sarah Paulson no Ryanverso
A história real que baseia essa temporada é rica em tramas paralelas e personagens com interesses próprios. Mesmo assim, é indiscutível que três são os personagens-chave para entender o impeachment de Bill Clinton: o caso de gigante proporção na mídia, Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton, que cresceu aos olhos do público como a esposa traída e o próprio Clinton. De cara, vai a primeira decepção: nenhum deles tem destaque verdadeiro na estréia de American Crime Story.
Leia também: Revelado o que vem por aí em Impeachment American Crime Story
Dizer que Sarah Paulson é uma atriz extremamente talentosa é chover no molhado. Mesmo sendo o caso, fica aqui registrado que ela é. Contudo, nada justifica ela ser a protagonista absoluta do primeiro episódio de uma trama que o público espera encontrar outros personagens no olho do furacão. Sua caracterização como Linda Tripp, figura importante nessa trama, é íncrivel e ajuda a descansar um pouco a imagem da atriz nas séries do autor – que certamente a mantém presa num cativeiro. Entretanto, para uma estréia, a personagem pouco simpática só contribuiu para o tédio que dominou boa parte dos seus sessenta minutos.
Expectativa vs Realidade em Impeachment
Boa parte da experiência no consumo de grandes produções começa nas expectativas, infelizmente. Nesse quesito, American Crime Story Impeachment criou uma nuvem de antecipação em torno da trama de Bill Clinton com Monica Lewinsky. Para confirmar, basta observar qualquer trailer, comercial ou poster da temporada. É só isso que figurou a divulgação por semanas. Assim, parece pelo menos estranho a produção gastar um episódio inteiro que pouco aborda essa questão.
Seguindo o ponto de vista de Linda Tripp sobre a situação, a série nos faz questionar: quem liga para o ponto de vista de Linda Tripp? Novamente, não que ela não seja uma personagem importante da trama, mas simplesmente não é a pessoa que o público espera – justamente por causa da divulgação da própria emissora que produz o seriado. E talvez nem os próprios criadores acreditam nessa linha que escolheram seguir. Isso se mostra no episódio mais arrastado e com pouco à mostrar.
Em contraste com a primeira temporada da série, que narra a história do julgamento de OJ Simpson, a diferença é gigante. Ryan Murphy, que dirige os primeiros episódios de cada temporada, já se provou em outras ocasiões. Em filmes ou episódios para TV, o criador/diretor se mostrou competente em criar tensão e interesse do público pela trama – algo essencial em American Horror Story. Todavia, aqui ele se mostra quase desinteressado na história também, perdendo bastante do requinte e cuidado que a direção já mostrou com a série alguns anos atrás. Pesa fortemente também o fato de nenhum criador assinar o roteiro dessa estréia.
A construção de figuras reais
Ao desenvolver essa temporada, Ryan Murpy tinha uma condição: ter Monica Lewinsky na produção. Nada mais justo, considerando que ela que teve a vida praticamente destruida pela mídia. E assim aconteceu, como seu nome nos créditos de produção confirma. Assim, o nível da cobrança sobe. A caraterização de todos os personagens, especialmente Monica, deve ser nada além de exepcional. Mais uma vez, assim aconteceu. Beanie Feldstein brilha sem dificuldade e aproveita sua chance de mostrar outro lado de seus talentos, visto que a atriz é mais conhecida por papéis de comédia.
Numa dobradinha sensacional com Sarah Paulson, que incorpora a personagem complicada com seu talento absoluto, a dupla salva os últimos minutos do episódio – que se destacam por serem os únicos verdadeiramente interessantes. Aqui, fica aquela triste sensação de quando o filme termina exatamente no momento que estava ficando bom. Uma pena!
Tá faltando mas pode melhorar
Uma armadilha comum e que American Crime Story Impeachment caí com muita facilidade é vista aqui. Algo comum para estadunidenses, que produzem grandes conteúdos que são exportados para o mundo todo, mas fazem questão de dialogar apenas com os seus. Diferente do que já foi feito antes na mesma série, o início dessa temporada de American Crime Story foi de americanos para americanos. Por se tratar de um assunto muito presente nos debates até hoje, uma vergonha para os democratas, a abordagem foi menos didática e acaba excluindo quem não conhece muito do que se passou.
A terceira temporada da série começa com boas intenções e, talvez, boa vontade. Mas, mesmo assim, erra e com uma certa frequência. Da ambientação à localização do público, a série parece focar em elementos menos impactantes da trama e construir o caminho até o topo num trabalho de formiguinha. Tem espaço para melhora e desenvolvimento mais emocionante, digno de um drama de Ryan Murphy e colaboradores frequentes. Assim sendo, esperamos. Esperamos bem mais e por muito mais.
Nota: 3.0/5