And Just Like That… tem começo amargo mas coerente | Crítica
Sex and the City retorna para revival no HBO Max. Com o nome And Just Like That..., produção conquistou fãs.
Sex and the City é um sucesso. Isso é fato. A série da HBO chegou tão longe no fim dos anos 90/começo dos anos 2000 que garantiu ainda dois filmes no seu pós-vida. Ainda assim, grandes rumores rolavam sobre um terceiro filme da franquia. O filme foi cancelado por uma série de problemas internos, mas os fãs não ficaram muito tempo tristes, pois veio o anúncio quase inevitável: a série teria uma continuação. Com um membro a menos no elenco e uma quebra de expectativas, And Just Like That… chega ao catálogo do HBO Max. A questão é: valeu a pena voltar?
São novos tempos com And Just Like That…
Na série original, mulheres no meio dos seus trinta anos falavam de suas vidas amorosas depois dos vinte. E ainda, na cidade mais badalada do mundo. Vinte anos depois, a continuação tem uma boa oportunidade de discutir maturidade, aceitação de envelhecimento, bem como a vida, ainda assim muito animada, de pessoas na meia-idade.
Somando a esse fato, o trio principal também produz os novos episódios. Dessa forma, trazendo mais uma chance da série abordar assuntos relevantes e manter esse contato honesto com o público.
Dito isso, o tom de And Just Like That… é muito similar ao já familiar do público de seis temporadas e dois filmes. E esse é um dos grandes méritos desse retorno. Com tantas mudanças na vida das personagens, é natural que o tema principal seja a mudança. Nada deveria ser como antes, como é dito e muito corretamente num diálogo entre Carrie e Miranda.
Logo, não podemos esperar que em quase vinte anos, desde o fim da série original, as personagens tenham se mantido estáticas na espera de novos episódios. Mantendo suas características originais, temos a chance de acompanhar o desdobramento dessas personalidades ao chegarem nos seus cinquenta. Então casadas e com uma vida totalmente diferente. Tanto é que tudo isso é estabelecido no primeiro diálogo da série, de cara.
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Aqui, fica um elogio à linguagem do programa que se atualizou e incorporou temas mais atuais (como podcasts e influência digital), sem parecer forçar a barra demais. O texto não nega que é escrito ainda pelo mesmo Michael Patrick King de todos os anos anteriores – e isso é uma coisa boa.
O elefante no quarto
Desde o inicio de sua produção, And Just Like That… sabia que seu maior desafio seria superar a ausência de Samantha. E conseguiu, muito bem até. Não entendam mal, o buraco que a personagem deixa é gigante. Desde o inicio, a dinâmica de interações foi pensada para quatro personagens e cada uma trazia uma personalidade diferente, que se somava às diversas facetas que uma pessoa pode adotar em sua vida.
Com a ausência de Kim Cattrall, intérprete de Samantha, devido aos diversos conflitos internos, a série corria sério risco de ficar sem um de seus pilares de sustentação e desmoronar.
Por isso, trataram logo em sua primeira sequência do tema. Dos dois tabus que a série apresentava – as personagens obviamente estavam mais velhas e uma das amigas não estava presente -, nada mais havia para discutir depois de dez minutos de episódios. Além de um bom truque narrativo para se livrar de um “problema”, mostra o respeito devido a uma protagonista que tanto marcou a trajetória da franquia até aqui.
A ausência de Kim tem muito a ser sentida no que diz respeito à temática da idade. Sendo a mais velha do grupo, seria interessante ver como a série abordaria a vida da personagem depois dos sessenta e as questões inerentes. Mesmo assim, ainda há formas de se fazer isso com novos rostos. Dito isso, o assunto foi resolvido, pode se seguir em frente, pois as outras personagens ainda tem muito a nos oferecer.
Sim, isso aconteceu
Para sua estreia, And Just Like That… quebrou as expectativas e, além disso, resolveu seguir por um caminho mais amargo. Sem perder a leveza, abordou um tema não muito recorrente na franquia. E, igualmente, deixou muitos fãs indignados mundo afora.
Sem discutir o evento em si para aqueles que não viram os episódios, a trama usada serve de oportunidade para discutir e nos mostrar o amadurecimento das personagens centrais. Bem como seus núcleos familiares. Assim, o estabelecimento das carreiras e vidas pessoais de cada uma é interessante de acompanhar.
O retorno dos coadjuvantes antigos é um dos pontos positivos. A química entre Chris North, intérprete do Mr. Big, e Sarah Jessica Parker, a Carrie, entrará eventualmente na lista de maiores da TV. Vinte anos de casal nas telinhas e os dois continuam efervescentes. Dado o relacionamento conturbado dos dois e o fato de Carrie ser a protagonista-mor da série, faz sentido ser mais difícil de nos convencer que ela segue no casamento perfeito, sem problemas e vivendo a vida de sempre, sem crises. Porém, as cenas dos dois juntos elimina qualquer dúvida. Eles estão juntos e felizes.
Diga que valeu
And Just Like That… veio com a proposta de continuar o legado da série original e dos filmes. Assim, podemos ser categóricos ao afirmar que a meta foi atingida. Portanto, o tom estabelecido tanto para os episódios como para as personagens é bem consistente com o passado, mesmo assim se mantendo aberto as mudanças do tempo, uma decisão muito esperta. Quem vai esperando algo diferente infelizmente sairá decepcionado.
Com um tom inicial mais amargo, lembrando da realidade da vida, a continuação de Sex and the City apresenta o velho arroz com feijão de sempre envolto a todas as situações contemporâneas que você possa imaginar – incluindo menções diversas à pandemia. E isso é exatamente o que prometeram aos fãs. Que venham mais episódios!
Nota: 4/5