Chicago PD, NCIS e mais: Pesquisa alerta grave problema em séries policiais

Séries policiais como Chicago PD e NCIS estariam deturpando realidade e colocando como heróis policiais corruptos. Até onde essa romantização é problema?

Séries policiais como Chicago PD teriam problemas
Imagem: Netflix-Divulgação/NBC-Divulgação

Séries como Chicago PD estariam contribuindo negativamente para a realidade

Quando se assiste uma série de TV de comédia, de terror ou de ficção científica futurista, é fácil enxergar o limite entre realidade e ficção. No entanto, parece que quando se trata de séries policiais – como Chicago PD ou a franquia NCIS, por exemplo, as opiniões dos espectadores podem acabar sendo distorcidas.

É o que aponta uma pesquisa recente feita nos Estados Unidos. De acordo com o CinemaBlend, o estudo analisou como os populares dramas criminais da TV são consistentemente culpados de deturpar a imagem do que realmente é crime e de todo o sistema criminal.

Pesquisa analisou 26 séries com trama policial

O relatório foi criado pela organização de justiça racial “Color of Change em parceria com a Universidade do Sul da Califórnia. A pesquisa analisou centenas de episódios de 26 séries exibidas entre 2017 e 2018. Entre elas estão séries como How to Get Away with Murder, Brooklyn Nine-Nine, Chicago PD, Seven Seconds e NCIS.

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Os resultados do estudo fazem um alerta revelador para o desequilíbrio entre o conceito de autoridade e o senso de justiça em várias das séries. Principalmente, quando se trata da forma como pessoas negras são retratadas, bem como a alta frequência com que policiais que infringem a lei são tratados como heróis ao invés de criminosos.

Policial bom x policial mau

Um dos principais “maus exemplos” apontados pela pesquisa vem da série da NBC, Chicago PD. Assim como em outras produções analisadas, Chicago possui um protagonista que constantemente quebra regras, ignora abusos e preconceitos, em nome da resolução de casos: Hank Voight, interpretado por Jason Beghe. Se a série resolvesse condenar Voight por todas as suas infrações, não haveria episódios suficientes para mostrar ele cumprindo pena, não é verdade?

Entre todos os 353 episódios examinados, apenas 6 personagens ligados ao sistema criminal foram retratados como acusados de crimes em decorrências de suas ações ilícitas. Isso acontece em NCIS: New Orleans, Bull e Seven Seconds.

Já em NCIS: Los Angeles, How to Get Away with Murder e Máquina Mortífera, foram detectados 4 personagens afastados de seus cargos por seus comportamentos e 3 que tiveram punição através do salário. Mas a pesquisa revela que nenhum personagem foi descrito como condenado por se envolver com atividades ilegais, com uma única exceção. Em Seven Seconds, da Netflix, apenas um policial de um grupo de vários infratores, foi considerado culpado por envolvimento no assassinato de um jovem negro. No entanto, tal fato foi utilizado pela trama justamente para expor a falta de justiça para determinadas vítimas, a cultura de violência dentro das corporações e a não responsabilização dos agentes.

O que a pesquisa da Color of Change tenta dizer é que talvez se as séries exibissem as consequências adequadas para os personagens ofensivos, haveria um equilíbrio mais próximo à realidade.

A representação de negros em séries continua estereotipada

Paralelo ao problema da normatização dos policias corruptos nas tramas, está outro problema histórico: a estereotipada representação de negros em produções audiovisuais. Segundo o relatório, ainda é comum que os papéis designados para personagens negros nas séries do gênero policial sejam de suspeitos ou criminosos.

Portanto, em essência, o espectador tem assistido policiais brancos quebrando regras para derrubar criminosos negros sem nunca serem punidos. Além disso, isso contribui – ainda que inconscientemente – com o racismo estrutural. E, por sua vez, também afeta potencialmente a maneira como os cidadãos comuns veem o esforço da polícia no mundo real.

Mas, como toda e qualquer pesquisa, além dos questionamentos também há um debate sobre o que pode ser feito para resolver o problema. Para os pesquisadores, é extremamente importante que pessoas negras estejam envolvidas no processo de roteirização de séries policiais. Isso porque, uma vez que essa população ainda costuma lidar com essa atenção policial injustificada e injustiças desse tipo.

A importância da diversidade nas salas de roteiristas

Deveria ser lógico, mas não é. Se alguém vai escrever sobre uma cultura a qual não pertence, ela deve procurar alguém que pertença aquele grupo. A pesquisa observou que em um universo com mais de 275 roteiristas, apenas 9% eram pessoas negras. Isso quer dizer que 20 das 26 séries analisadas não possuíam nenhum roteirista negro na equipe. Apenas Criminal Minds, Shades of Blue, Luke Cage, Seven Seconds, Orange is the New Black, How To Get Away with Murder registraram a presença de um ou mais profissionais negros na sala de roteiristas.

Pesquisa vê como perigosa a romantização das violações policiais

Os pesquisadores concluem que essa falta de propriedade de discurso é um desperdício, pois poderia ter utilizado para estabelecer um diálogo real com o público.

Quando roteiristas evitam representações explícitas de perfis raciais, eles apagam uma realidade importante. Ao fazer isso, eles estão construindo uma versão higienizada do sistema de justiça criminal que implica que não há viés racial quando se trata de quem é alvejado pela polícia, acusado por promotores, condenado em tribunal e cumprindo pena na prisão”, diz um trecho da pesquisa.

O texto também faz o alerta para o perigo da “romantização” da corrupção policial:

 “Mitificar o sistema de justiça criminal – implicando que a justiça é feita porque as regras são violadas, que abusos e danos são raros, que o viés racial e o racismo sistêmico não existem, que os métodos policiais atuais mantêm as pessoas seguras e são necessárias para solucionar crimes – é perigoso. Além disso, esses fatores negam aos espectadores a oportunidade de considerar a verdade e minar as forças que trabalham contra a injustiça, especialmente a injustiça racial”, ressalta a publicação.

O Mix de Séries destaca que os argumentos listados neste artigo não representam necessariamente a posição do site e de sua equipe como tudo todo, mas reafirma a importância de cada vez mais se discutir as maneiras como as séries são feitas e exibidas, respeitando sempre toda a diversidade social, sexual, racial, étnica, cultural  e de gêneros.

E vocês, o que acham sobre isso? Deixem nos comentários suas opiniões.

A íntegra da pesquisa “Color of Change“, com 71 páginas, está disponível neste LINK.

Sobre o autor

Italo Marciel

Redação

Jornalista por formação e publicitário por aproximação. Desde a graduação, circulo entre as duas áreas e isso me preparou para atuar com mais segurança e amplitude na Assessoria de Comunicação Política, área na qual trabalho desde 2013. Ao todo, já são são oito anos gerenciando a comunicação de parlamentares do legislativo municipal. Entre as minhas principais atribuições estão: criação e gerenciamento de conteúdo textual e visual (artes, fotos e vídeos) para redes sociais; planejamento de pronunciamentos; preparação de pauta para reuniões e entrevistas; relacionamento com a imprensa. Além disso, tanto tempo no meio me trouxe conhecimentos intermediários de assessoria parlamentar, onde auxilio na construção e revisão de projetos e no relacionamento com pastas do poder público de direto interesse dos mandatos. No Mix de Séries atua como jornalista e redator de notícias gerais, desde 2017. Também produz críticas e conteúdos especiais voltado para a área de streaming.