Crítica: 1×05 de 9-1-1: Lone Star prova que a série tem um bom discurso
Crítica do quinto episódio de 9-1-1: Lone Star, série criada por Ryan Murphy, Brad Falchuck e Tim Minear, exibida nos Estados Unidos pelo canal Fox.
Melhor da série até então, quinto episódio de Lone Star é um estudo didático sobre elementos essenciais à vida humana
Gênero e sexualidade atravessam importantes discussões na contemporaneidade, oportunizando, sempre, debates acalorados. Deste modo, as narrativas ficcionais se apropriam comumente desses termos para construir novas visões sobre esse espectro cercado de tabus e complexidade.
Enquanto característica essencial à vida humana, a sexualidade já encontrou muitas formas de irromper no audiovisual, colocando as estruturas de afeto, orientação sexual e sexo sob olhares plurais e multifacetados. Do outro lado, porém, as discussões sobre gênero ainda carecem de olhares mais cuidadosos e sensíveis, mas, felizmente, já dão passos significativos no ecossistema midiático.
Quando 9-1-1: Lone Star estreou, logo ficou nítido que a série não era tão somente uma aposta mercadológica que tentaria beber da fonte do programa que a originou. Já no episódio piloto, as ideias foram postas na mesa e um discurso afiado sobre minorias encontrou o seu lugar. Afinal, em Lone Star há mulheres em lugares de poder, coadjuvante muçulmana, homem negro trans, personagens com transtornos psicológicos. Tudo isso no mesmo lugar, com roteiristas que sabem sobre quem e para quem estão falando.
Os tabus da masculinidade
Em seu quinto episódio, “Studs”, sai do papel uma ideia ousada e surpreendente. Aqui, a história enfoca três personagens centrais: Owen, Judd e Paul – este último com o arco mais interessante. Cada um deles lida com um entrave individual que, no fim, quer falar sobre a mesma coisa – em diferentes níveis de complexidade, é claro.
Judd é posto à prova de um problema bastante comum ligado aos homens. Sua mulher, Grace, se vê cansada de um casamento onde não há toque, não há desejo, só há convivência, conveniência e condescendência. Eles se amam, se ajudam, se afetam, mas a parte sexual da coisa fica marginalizada. Desde o início, o homem já se apresentou enquanto sobrevivente de um desastre com transtorno pós-traumático, mas até quando ele poderia deixar que isso continuasse declinando o seu casamento? Com uma narrativa curta e sensível, a pertinência no discurso de Grace foi certeira: tudo foi resolvido e a pequena jornada de autoconhecimento proposta pelo arco foi bonita.
Com um humor ácido, acompanhado de bem-vindas sutilezas, quem também se destacou no episódio foi o arco de Owen. Tem sido interessante acompanhar a trajetória de descobertas e infortúnios proporcionados pela doença que o assola.
Como se não bastasse a tristeza de ter que lidar com o câncer, Owen agora descobre que o tratamento que está fazendo pode lhe causar problemas de ereção. Quando conhece a amável Zoe, o problema dá as caras. Envolto a isso, há uma discussão didática e necessária sobre masculinidade, que o roteiro reforça com um brilho e elegância chocantes. Owen é aquele protagonista que dá orgulho de ver.
Televisão também é lugar de discurso
Por último, e talvez mais importante na seara dos problemas sociais contemporâneos, fica a jornada de Paul e os desafios da transfobia. Após salvar Josie de – pasmem – uma chuva de purpurina em uma briga de boate, ele acaba se envolvendo romanticamente com a moça, que, a princípio, parece bastante interessada em conquistá-lo.
E aí, porém, que os desafios começam a aparecer. Tomado por inseguranças construídas, historicamente, a partir dos relacionamentos em que já esteve, Paul acrescenta a história uma vivência de homem trans, negro, que salta aos olhos de tão importante. Suas dúvidas, seus questionamentos e suas angústias são extremamente necessárias e o que o texto faz, gradativamente, é colocar na tela o que é ser uma pessoa trans e como é difícil fazer com que as pessoas entendam a resistência que se faz, dia a dia, para que sejam tratadas com mais dignidade e empatia.
Josie, então, mostra que não está pronta para se relacionar com um homem trans, em uma cena de marejar os olhos, que coloca a perversidade da história e a presente realidade em sua faceta mais cruel e devastadora. Ser minoria, afinal, é um exercício de sobrevivência.
Notas do episódio de Lone Star:
1: Ainda acho que Josie deve retornar para uma trama de redenção.
2: Foi lindo de ver TK e Carlos, ao final, levando Paul para se divertir.
3: Esse episódio fez uma bela costura para falar sobre masculinidade. Não esperava tanta sutileza.
4: É chato repetir isso toda semana, mas ainda acho que as emergências de Lone Star nem se comparam às de 9-1-1.