Critica: 1×05 de Pátria acrescenta arrependimentos e muita raiva a história
Crítica do quinto episódio da primeira temporada de "Pátria" nova série do canal HBO, intitulado "El país de los callados".
No episódio mais forte até agora, Pátria mergulha em Arantxa, traz o batismo de sangue de Joxe e nos apresenta Gorka
Depois de passar da metade da história, Pátria deixa um pouco de lado o foco na rivalidade entre Bittori e Miren, e abre mais a amplitude para alcançar outros personagens. Igualmente, em outras histórias, mas que direcionam sempre ao mesmo plot principal, onde a protagonista Bittori busca saber qual membro do ETA que puxou o gatilho e tirou a vida de seu marido Txato?
A estrutura em espiral da série, voltando aos mesmos eventos através de diferentes pontos de vista, continua a dar bons resultados justamente por causa dessa abertura. No episódio mais forte até agora, a série mergulha em Arantxa e Gorka, que junto com o mais velho dos três irmãos Joxe Mari, permitem acrescentar nuances, cinzas, medos, arrependimentos, desamparo e muita raiva a história.
Dois irmãos condenados à prisão perpétua.
O episódio de Pátria começa nos dias atuais, com Joxe Mari recebendo na prisão uma carta de sua irmã. E enquanto ele começa a ler, temos Arantxa narrando o que escreveu para ele, e passamos a ver momentos da vida atual da filha de Miren e suas dificuldades devido às suas limitações. Em um desses momentos, em uma cena forte, vemos Arantxa tomando banho, nua, mas sempre com ajuda de Celeste, sua cuidadora, e de sua mãe. E ela pede para a colocarem em frente ao espelho, e a vemos contemplar-se no reflexo, depois de muito tempo sem se amar, o que deixa claro a infelicidade na qual ela vive.
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E sentimos o peso dessa infelicidade de Arantxa quando ela diz para seu irmão: “Você tem sua prisão e eu tenho a minha. A minha é meu corpo. Recebi prisão perpétua ”. Dessa forma, os dois irmãos foram condenados à prisão perpétua, porém, com condenações diferentes. Com isso, o paralelo de Arantxa com seu irmão se completa ali, assim temos às imagens do terrorista preso, enquanto sua irmã completa: “E há outra diferença entre a sua condenação e a minha: Você está preso por causa do que fez, já no meu caso, o que fiz para merecer isso?”.
O episódio não explica o que deixou Arantxa tetraplégica
Ela envia uma foto sua atual para seu irmão na prisão. “Eu quero que você me veja como eu sou agora. De que adianta se esconder?”, queixou-se Arantxa com pena de si mesma. Joxe Mari se choca ao ver a irmã na cadeira de rodas e muito diferente dos anos anteriores, quando ele iniciava seus primeiros passos ao se alistar ao grupo terrorista ETA. O episódio não explica o que deixou Arantxa tetraplégica, mas deu a entender que ela será o catalisador para o previsível arrependimento de Joxe Mari.
Além disso, não posso deixar de elogiar a interpretação da sensacional Loreto Mauleón, sua atuação no presente momento da vida de Arantxa tetraplégica e, assim como, nos flashbacks, quando ela busca independência de seus pais, ao mesmo tempo, liberdade e distância da guerra política de sua cidade.
Gorka foge e é dominado pelo remorso
Os flashbacks de Arantxa são significativos e, bem como, reafirmam seu poder como personagem. Logo, mesmo nos mínimos detalhes, o medo a vence. E é nesse momento que o relato narrativo que o personagem de Gorka dá à irmã, faz todo o sentido. Gorka é outro que, assim como sua irmã, também foge. No entanto, é dominado pelo remorso. Entretanto, seu aparecimento repentino e retumbante na história serve, como nenhum outro personagem até agora, para explorar a complexidade da culpa, tanto individual quanto social.
Gorka é um cara decente, sensível e culto, que foge da cidade para respirar um pouco de liberdade. Os roteiristas deram a Gorka uma pista e ele dançou mostrando seus gostos e cruzes. Testemunhamos sua alegria na adolescência, quando ele conta a seus pais sobre o prêmio literário (também, em uma cena maravilhosa, vemos Joxian se orgulhar do poema de seu filho), mas também contemplamos os momentos tensos, quando o filho mais novo de Miren é acusado de colaboracionista. Observamos o detalhe do nervosismo de Gorka e da falta de jeito ao tentar acender o coquetel Molotov, e nos alegramos com o sorriso despreocupado – liberado daquele peso nos ombros, simbolizado até fisicamente pelo corte de cabelo – que ele expõe na galeria de arte ao conhecer seu namorado.
Joxe Mari comete seu primeiro assassinato
Embora Arantxa e Gorka sejam os destaques do episódio, existem alguns outros momentos relevantes que valem a pena comentar. Como o batismo de sangue de Joxe Mari. Ele comete seu primeiro assassinato como membro do ETA. A cena é forte. O assassinato é filmado diretamente. Seco. Com dois tiros a sangue frio e um terceiro no pedido de clemência da vítima.
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Já o outro momento é, novamente, a relação entre Bittori e Arantxa. Seus encontros estão se revelando a parte mais autêntica e emocionante da história, talvez devido à sua sutileza. A ternura daquela batidinha de luz no rosto delas ao caminharem juntas na praça, lembrou aquelas cenas do cotidiano de uma vida feliz, pontuadas pela melodia suave e comovente de Pátria, que apresenta a dignidade vitalista daqueles dois “restos” de pessoas: a velha “louca” e doente, que empurra a “invalida” que precisa de ajuda até mesmo para limpar a boca, encerra mais um capítulo, ainda sem revelar os detalhes da morte de Txato, que deu início a essa história.
E você, o que achou do quinto episódio de Pátria? A história está sendo exibida sempre aos domingos na HBO e HBO Go. Continue acompanhando todas as novidades do mundo das séries aqui no Mix de Séries.