Crítica: 2ª parte de O Mundo Sombrio de Sabrina é melhor e – infelizmente – maior
O Mundo Sombrio de Sabrina retorna melhor, com boas histórias e ótimo visual, mas a falta de humor e a duração excessiva prejudicam o resultado final.
2ª temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina traz retorno de personagem
Melissa Joan Hart, a Sabrina da série original, disse não ver muita graça na nova adaptação das aventuras da bruxinha adolescente. De certa forma, Hart tem razão: falta graça, humor, em O Mundo Sombrio de Sabrina. O clima dark funciona, mas a impressão que fica é que toda a leveza foi sugada, deixando os personagens à mercê de demônios, monstros, bruxas e um sem-fim de seres sobrenaturais. Não entenda mal: a abordagem sombria é deliciosa, e é melhor trabalhada nesta segunda parte, mas Sabrina poderia encontrar alguns momentos mais claros durante sua caminhada.
Um dos maiores acertos da segunda parte é isolar cada capítulo em uma narrativa fechada. A nova temporada (por mais que seja chamada de “parte”, encaremos esta como uma temporada) tem um arco geral. E ela apresenta os pés fincados na ótima mitologia da série. Entretanto, tenta criar aventuras separadas e independentes a cada episódio. No primeiro há uma disputa entre jovens bruxos, no terceiro, um estranho ritual para o Dia dos Namorados. A primeira temporada também apresentou abordagem semelhante, mas os resultados são mais positivos desta vez.
Além disso, por trazer Sabrina mergulhada em sua nova realidade de bruxa, a segunda temporada foca muito mais na bruxa do que nos personagens coadjuvantes. Há espaço para seus amigos mortais, por exemplo, mas o centro dos dramas e aventuras é Sabrina. O mesmo serve para a família da jovem, que recebe menos espaço, mas ainda tem chance de brilhar.
O visual segue como uma das principais forças da série
O visual é outro aspecto que melhora na segunda temporada. A fotografia sombria torna-se mais compreensível, já que podemos enxergar o que acontece mesmo na escuridão. Um ponto problemático da primeira temporada era o “embaçamento” dos limites do quadro. Quem prestou atenção no aspecto técnico da primeira parte, percebeu que diversas cenas surgiam “borradas”, com uma estranha distorção ou embaçamento nas laterais e cantos da tela. O objetivo, talvez, era criar uma atmosfera assustadores, mágica ou ameaçadora, mas acabou apenas prejudicando a fotografia do programa. Desta vez, o vício foi aparentemente limado, deixando o visual mais limpo e aprazível.
Pois uma das grandes forças de O Mundo Sombrio de Sabrina reside justamente no quesito técnico. A direção de arte é um destaque à parte. A casa de Sabrina, bem como a escola de bruxaria. Todos os espaços são preenchidos com detalhes e formas inventivas. E isso deixa o universo da série mais crível e lógico dentro se suas próprias regras, já que constrói uma identidade visual orgânica e fechada em si. Os figurinos também chamam atenção, e estes são os poucos elementos da série que ainda brincam com cores, fugindo da escuridão geral. Perceba que cada personagem – principalmente Sabrina – possui um estilo bem delineado, e que suas roupas indicam suas personalidades e humor.
Muita coisa está melhor, mas a duração e o ritmo são os maiores problemas
O grande problema de Sabrina, contudo, é a duração dos episódios. Problema recorrente em projetos da Netflix, há aqui um alongamento absurdo de situações e narrativas. Voltada para o público jovem e carente de bom humor, O Mundo Sombrio de Sabrina possui capítulos com inexplicáveis 60 minutos de duração. Trata-se de uma série que precisa sem mais ágil e direta, mas é prejudicada por um roteiro autoindulgente. Por mais que a versão original de Sabrina na TV seja totalmente diferente, era uma série com capítulos de 20 minutos, bem resolvidos e dinâmicos. Aqui, alguns episódios são maiores do que os de Game of Thrones, por exemplo, que possui uma infinidade de personagens e tramas.
Assim, O Mundo Sombrio de Sabrina se beneficiaria imensamente se fosse mais curta. Com mais humor e menos enrolação, Sabrina seria consideravelmente mais divertida. Pois não se engane: esta é uma série que serve apenas como passatempo. Não é um programa complexo ou adulto. Quem procura por Sabrina, busca um momento de diversão, de relaxamento, e episódios com mais de 50 minutos não garantem isso. Ser escapista, leve e divertida não é um problema, e talvez seja o momento de Sabrina reconhecer isso.