Crítica: 2ª temporada de Killing Eve destaca Villanelle em uma montanha russa de emoções
Crítica da segunda temporada de Killing Eve, série disponível no Brasil pela Globoplay.
Killing Eve está melhor do que nunca
Atenção, este texto contém pequenos SPOILERS sobre a segunda temporada de Killing Eve.
Killing Eve começou sua segunda temporada através de rumos desconhecidos. Na crítica do começo da temporada, destacamos que não havia muito o que imaginar sobre para onde a série iria. Entretanto, ela surpreendeu a ponto de inserir reviravoltas enigmáticas, mas que ao mesmo tempo esclareceram a proposta da atração para este ano. Dessa forma, podemos garantir que Killing Eve esteve ainda melhor.
A hora e a vez de Villanelle
Se existe alguém que brilhou nessa temporada, esse alguém é Judie Comer. A atriz, com sua Villanelle, simplesmente engoliu o protagonismo de Sandra Oh, que trouxe uma Eve mais contida. Porém, interpreto esse caso como um equilíbrio, para destacar que não há um protagonismo solo nesta série.
Tanto Eve quanto Villanelle são estrelas de uma história em que elas se completam. E o desígnio dos novos episódios foi justamente exaltar as qualidades da assassina, para então ressaltar que a “mocinha” andava por caminhos perigosos – ou se não, semelhantes a da antagonista.
Mas os trejeitos de Comer estavam incríveis. É como se Villanelle roubasse a atenção de qualquer cena que protagonizava. Da maluca que foge do hospital, após ser esfaqueada por Eve, até a mulher decidida e multifacetada que fica incrivelmente charmosa com qualquer coisa que veste. Judie Comer provou seu talento múltiplas vezes nesta temporada, e será merecido um reconhecimento no Emmy e Globo de Ouro.
Trama envolvente
Nesta temporada, tivemos um enredo interessante. A trama foi impulsionada pelo bilionário Peel (Henry Lloyd-Hughes), que tinha uma única missão: matar seus inimigos através de arma letal criada por ele. Tal arma era uma espécie de mecanismo de busca. Dessa forma, a arma podia tanto descobrir quanto esconder os segredos mais obscuros de todo mundo.
Claro que Eve foi colocada na rota dessa arma, mas a grande sacada dos roteiristas foi convergir a história para que a personagem de Sandra Oh não fizesse isso sozinha. Assim, Eve se dá conta de que precisa de um trunfo para capturar tal arma. Sim, Villanelle. O MI6, dessa forma, recrutou a irresistível assassina para se aproximar de Peel – o que ela fez com sucesso. Mas maníaco por controle, ele acaba também mantendo uma vigilância constante na loira.
A aproximação de Villanelle e Eve, trabalhando juntos no caso, proporcionou na temporada uma montanha russa de emoções. Isso porque, não sabíamos o que esperar de Villanelle. Ao mesmo passo, conhecemos a espécie de devoção que a assassina tinha por Eve, em uma espécie de respeito. Tanto que, no início da temporada, a assassina chamada de Ghost chegou a criar um atrito entre elas. Mas ainda bem, os roteiristas rapidamente abandonaram essa história, dando destaque para a “cabeça do crime”, a quem Ghost estava ligada – Peel.
Heroína corrompida
Durante toda a temporada, a série brincou com a loucura. E usou Eve como peça de peão para mostrar que esse sentimento pode ser instalado até mesmo na pessoa mais sã. Do batom vermelho que tinha uma lâmina dentro, até o fato dela se aproximar de uma pessoa nos trilhos do trem e pensar em empurrá-lo, a loucura de Eve foi sendo despertada aos poucos.
Aliás, a série já havia sugerido isso, em uma cena que uma psicóloga informou a chefe do MI6, Carolyn (Fiona Shaw), que Eve tinha sido a única pessoa em um seminário a não desviar o olhar da foto de um cadáver. Vale ressaltar, também, que o modo como ela se fascinou pelos atos de serial killers vai de uma forma além que uma pessoa da inteligência faria.
Todo esse emaranhado de sentimentos culminou em um episódio final eletrizante na segunda temporada. A trama deixou no ar que a MI6 manipulou, o tempo todo, a relação de Villanelle e Eve para que elas eliminassem uma ameaça em potencial – sem que tivesse sangue nas mãos do serviço secreto. Além disso, ao ver Villanelle sendo quase morta por um mandante dos Doze, Eve hesitou mas acabou golpeando o capataz com um machado até a morte. E ela acaba por ficar extremamente chocada por suas próprias ações.
Final excitante
Os instantes finais, sem dúvidas, entregaram um dos melhores momentos da série. “Tudo bem se você se sentir estranho“, assegurou Villanelle para Eve. “Você acabou de matar alguém pela primeira vez. Com um machado.”, disse ela quase que comemorando.
E logo em seguida, em meio ao choque por ter tido a coragem de cometer um assassinato para salvar a vida de Villanelle, Eve descobre que fora manipulada mais uma vez. Villanelle tinha uma arma, que poderia ter usado a qualquer instante. Entretanto, ela se convenceu de que precisava ser salva por Eve, para despertar esse lado insano que ficava enclausurado. É um ciclo que se completa na série de forma brilhante. Porém, o efeito foi reverso em Eve, e agora ela destaca que não tem mais qualquer medo de Villanelle. Isso claro, antes de encararmos o gancho final que certamente deixará o espectador de Killing Eve roendo as unhas até a terceira temporada.
Dessa forma, Killing Eve provou que conseguiu evoluiu a forma de contar suas histórias em muitos sentidos. Manteve a consistência de seu roteiro, sem patinar em tramas desnecessárias, e ao mesmo tempo elevou a heroína da trama para um outro lado. Agora, o que separava a sensatez de Eve em relação a Villanelle não existe mais. E o modo como isso foi construído é deslumbrante.
Após duas – e curtas – temporadas, a série se mostrou extremamente relevante e ainda é uma das melhores séries da TV atualmente. Certamente, um prato cheio para quem é fã de boas histórias.
Todas as duas temporadas de Killing Eve estão disponíveis na plataforma Globoplay.