Crítica: 2ª Temporada de Mindhunter mantém o nível e coloca os personagens no meio da ação

Crítica da segunda temporada de Mindhunter, série criminal da Netflix que examina as mentes dos criminosos através de um estudo desenvolvido pelo FBI.

Drama mostra como a escuridão está se espalhando na sociedade

Após quase dois anos, a Netflix trouxe novos episódios de Mindhunter, uma das melhores séries do seu catálogo. Logo no início, o objetivo é amarrar as pontas do final da primeira temporada, mostrando como está a equipe da UCC (Unidade de Ciência do Comportamento). Bem como trata de preparar o terreno para o que vem a seguir.

A unidade passou por mudanças e, com isso, surge um novo diretor. Ele chega com muita energia e não esconde o quanto ele acredita no projeto que Ford e sua equipe estão desenvolvendo no FBI. Com isso, eles ganham mais espaço e mais investimento para expandir o estudo. Tench e Wendy precisam lidar com algumas questões pessoais enquanto continuam o trabalho, assim como Ford, que após o último encontro com Edmund Kemper desenvolveu ataques de pânico. O assassino BTK ganha mais espaço na trama e, finalmente, os agentes do FBI tomam conhecimento de seus crimes hediondos. No entanto, novos assassinos também são apresentados.

Basicamente, a primeira temporada apresentou um grupo de pessoas sentadas numa sala e, ali, estabelecendo padrões. Tudo isso, afim de categorizar e entender as mentes dos assassinos. Porém, a segunda temporada deixa o estudo teórico em segundo plano e coloca os agentes no meio da ação. Eles não estão mais apenas usando técnicas de perfil comportamental, mas agora os agentes estão fazendo serviço de campo. Estão colocando em prática toda sua pesquisa, o que eu considero um grande acerto da temporada.

Os assassinatos das crianças de Atlanta

Os detetives agora estão no mundo real. Ainda que o estudo continue, é preciso viver casos atuais a fim de resolvê-los aplicando seus métodos de estudo. É seguro dizer que é somente a partir do terceiro episódio que a trama central começa a ser desenvolvida. Ford toma conhecimento sobre o caso dos assassinatos das crianças negras em Atlanta. Ele ouve o apelo do grupo de mães que busca justiça por seus filhos.

A cidade vivia um bom momento na política, havia elegido o primeiro prefeito negro, o que era motivo de comemoração. Entretanto, a comunidade estava assombrada pelas mortes violentas de suas crianças e a opinião publica estava dividida sobre a autoria dos crimes. A desconfiança da Klan era obvia. Afinal, toda a historia da comunidade negra foi marcada por gerações de violência e racismo sistêmico. Mas Ford segue seus instintos e cria sua própria linha de investigação.

Apesar dos assassinatos não seguirem um padrão, isto é, o mesmo modus operandi, Ford se mantém convicto que se trata de um assassino serial. E quando as suspeitas recaem sobre um homem negro da comunidade, o caso se torna ainda mais polêmico. Ainda que um homem tenha sido condenado por duas mortes, o caso dos 28 assassinatos de Atlanta nunca foi solucionado. Os crimes ocorreram entre 1979 e 1981.

A história do estrangulador BTK 

Mindhunter continua abordando a vida de BTK como uma espécie de easter egg em todos os seus episódios. Se na primeira temporada o espectador era provocado com cenas curtas de um homem fazendo coisas triviais até apresentar seu fetiche sádico por cordas, na segunda temporada ele ganha camadas mais reais. Conhecemos BTK como Dennis, um homem de família que vive com uma esposa cada vez mais perturbada com suas perversões.

Dennis Rader é mundialmente conhecido como BTK (Bind-Torture-Kill) que significa amarrar-torturar-matar. Ele foi um assassino serial que praticou seus crimes entre 1974 a 1991 seguindo o modos operandi que seu nome sugeria. Ele insultou e brincou com a polícia e a mídia, usando cartas e pacotes descrevendo em detalhes seus crimes. Entretanto, SPOILER ALERT: ele só foi capturado em 2005.

Segunda temporada aposta em outros casos famosos 

Outro caso bastante conhecido também foi explorado. Trata-se do Filho de Sam (Assassino do calibre 44) que ficou conhecido pelo autor dos crimes, quando David Richard Berkowitz confessou ter assassinato seis pessoas e ferido outras sete com seu revólver Charter Arms Bulldog calibre 44. Ele alegava que o cão de uma vizinha estava possuído pelo demônio e lhe dava ordens para cometer tais crimes. Os assassinatos ocorreram entre 1976 a 1977, sendo preso em agosto de 77.

Já Charles Manson é um nome citado desde a primeira temporada. Ford sempre apresentou fascínio pela mente do criminoso e não escondia seu grande desejo de entrevistá-lo. Na segunda temporada de Mindhunter Ford e Tench finalmente conseguem a oportunidade. A cena densa da entrevista mostra um trabalho incrível do ator Damon Herriman na pele de Manson. Não por coincidência, esse ano marca o 50° aniversario dos assassinatos de Sharon Tate e seus amigos. Manson nunca encostou nas vitimas, mas manipulou sua “família” para comentar os atos mais bárbaros.

Agentes continuam sua pesquisa em Mindhunter. Imagem: Netflix/Divulgação.

Os personagens

Como deveria ser, a segunda temporada mergulha na vida de seus agentes revelando novas camadas. Encontramos Ford visivelmente abalado pelo último encontro com Kemper. O abraço que ele ganhou foi um gatilho que mexeu com suas emoções. O resultado foi um ataque de panico. Mas se ele começa fragilizado, ao longo dos episódios com ajuda de seus amigos, ele vai retornando a estrada que estava trilhando, com sua pesquisa sobre a mente dos assassinos. Seu envolvimento com os casos de Atlanta dá ao personagem novas oportunidades que o ator Jonathan Groff soube aproveitar bem.

Wendy Carr (Anna Torv) também ganhou mais espaço em sua vida pessoal. Ela decide se abrir a oportunidade de ter um relacionamento lésbico, ainda que em segredo. Wendy é uma personagem forte que sempre foi sozinha, e muito disso se deve ao trabalho e ao fato de viver em um ambiente conservador e dominado por homens. E ser lésbica era um desafio ainda maior na época. Ainda que essa subtrama seja interessante, parece não se fundir de maneira orgânica com a trama central.

Como se já não bastasse para Tench viver com o horror da violência no seu trabalho, ele precisa encarar um caso de assassinato que aterroriza sua comunidade e que está intimamente ligado a sua família. Tench sempre precisou equilibrar trabalho e família. Mas ver seu filho envolvido em um assassinato deixa o personagem em um conflito ainda maior. Nancy Tench (Stacey Roca) ganha mais espaço ao retratar a vida a esposa de um agente do FBI enquanto lida com a trauma do filho.

Ford é o que mais se envolve emocionalmente nos casos. Sua inteligencia, raciocínio e metodologia são indiscutíveis. Ele está disposto a correr riscos, enquanto Tench carrega sempre um comportamento feroz e meio cético. Mesmo com as diferencias, a dupla continua funcionando.

Considerações finais

David Fincher sempre se interessou pelo pela complexidade dos casos de serial killers, vide alguns sucessos em sua carreira como Seven e Zodiaco. Com Mindhunter, ele provoca o espectador a mergulhar na mente demoníaca e narcisista desses assassinos. Eles demostram total desprezo pela vida das vítimas e uma satisfação que chega a ser desconfortável. Em uma segunda temporada mais pratica do que teórica, a série conseguiu explorar mais seu universo e seus personagens inspirados em pessoas reais.

Mais uma vez, a violência não é explorada como geralmente ocorreria em uma típica série do gênero. A direção de Fincher prefere conduzir o espectador a experimentar todas as emoções apenas ouvindo os relatos com riqueza de detalhes a mostrar os atos hediondos. O ritmo, ainda que não seja acelerado, se apoia na direção competente de Fincher que mantém o interesse do público do início ao fim.

Mindhunter segue como uma produção voltada para o público adulto, que valoriza a profundidade do texto e a direção cinematográfica de David. A segunda temporada mantêm as cenas entre Ford e Tench conversando com assassinos, trazendo tensão e combate intelectual. Não há como não pensar na possibilidade absurda dos agentes serem atacados por algum dos criminosos. A série apresentou um amadurecimento ao trazer um roteiro complexo que explora as relações pessoais e profissionais. Já estou ansioso para acompanhar os avanços dos agentes da UCC.

Sem dúvidas, continua sendo um título imprescindível de maratonas dentro da Netflix.

Sobre o autor
Yuri Moraes

Yuri Moraes

Bacharel em Direito, estudante de Marketing Digital. É fascinado pelo universo dos heróis e apaixonado por séries e filmes. Livros de suspense policial são seus favoritos. Boa música e reality shows nao podem faltar. A série favorita, The OC. No Mix, colabora com algumas críticas de séries como, Blindspot, Ozark, La Casa de Papel entre outras.

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