Crítica: 2×12 de New Amsterdam foi marcado por altos e baixos
Crítica do décimo segundo episódio da segunda temporada de New Amsterdam, intitulado "14 years 2 months 8 Days", exibido nos EUA pela NBC.
“Hoje foi um dia cheio de milagres”
Quem acompanha minhas reviews de New Amsterdam já sabe, certamente, como valorizo a capacidade da série de lidar com temas importantes sem superficialidade. Entretanto, no último episódio, “14 anos, 2 meses, 8 dias“, a fórmula não funcionou tanto.
De saída, quero destacar que os temas levantados pelo episódio foram todos interessantes. Mas o problema, na minha leitura, esteve nas resoluções. O mote do episódio, repensar posições, convicções, normas, relações, não teve êxito em levar os personagens a algum ponto novo, tampouco gerou a comoção prometida em seu ótimo início.
Um olhar para o jovem Kapur
Certamente, o ponto mais tocante do episódio foi sua abertura, em que acompanhamos um jovem (e cabeludo) Vijay Kapur em suas visitas rotineiras a Jacob, um paciente em coma. A cena, muito bem dirigida, mostra a passagem do tempo para ambos. Enquanto Jacob envelhece na cama, sob o olhar atento de seu médico, temos os indicativos do sofrimento de Kapur pela morte da esposa.
Linda cena, seguida por uma reação de Jacob, o que anima sua esposa, esperançosa em ter o marido de volta. De certa forma, a trama envolvendo Kapur foi a melhor explorada ao longo do episódio, abordando o sofrimento de quem tem uma pessoa querida em estado comatoso por tanto tempo.
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Além disso, o drama familiar foi comovente e reflexivo para nosso querido neurologista. Kapur convence os filhos a abraçarem a mãe e a ajudarem no processo de aceitação da perda. Talvez sua trama no episódio reverbere no restante da temporada, mantendo o crescimento do personagem.
Mas, agora, os pontos, a meu ver, baixos:
Humanização versus tecnologia
Este não foi o primeiro episódio em que New Amsterdam propôs uma crítica à centralidade da tecnologia na prática médica, o que transforma a interação entre profissional e paciente, tornando mais impessoal. No episódio anterior, por exemplo, essa crítica já estava presente, com o roteiro apontando para uma humanização dos serviços.
Apesar de ser uma crítica válida (existem longas discussões sobre isso), esse foco do episódio na ideia de que o “old fashion way” permite maior interação entre os profissionais e com os pacientes fica um tanto forçada. Não é só voltar a preencher receituários ou olhar prontuários em papel que melhoram essas relações (isso é uma visão muito de país desenvolvido).
Na própria série, de fato, há melhores exemplos de humanização: Vijay e Iggy são os principais. Mas, tudo bem, vejamos aonde as mudanças propostas ao longo dos episódios levarão. O risco é sempre forçar a suspensão de descrença do espectador.
Fé versus ciência
Toda série médica que se preze, certamente, terá um episódio para abordar esse tema. Como em todos os casos, o personagem médico se coloca como defensor da razão, do concreto, da ciência, enquanto a pessoa vinculada à fé fala do inexplicável, do intangível, do milagre.
Desta vez, contudo, até foi tentado algo um pouco diferente. O discurso do líder do grupo de oração foi mais próximo de uma posição filosófica e psicológica. Finalmente, o desfecho foi o mais previsível: o paciente com uma doença desconhecida/rara/incurável milagrosamente se recuperou.
Por favor, não quero desmerecer nenhuma religiosidade, tampouco defender uma super racionalidade da medicina. A questão é que New Amsterdam preza por ser uma produção que discute os temas com cuidado, lançando olhares novos; mas, num momento tão delicado para as ciências e de conservadorismo exacerbado, a produção perde a chance de fazer uma discussão mais ousada.
Além disso (para quem me acusar de chato por exigir de série uma discussão), esse tipo de desfecho já está muito batido. Alguém realmente achou que o garoto não se recuperaria? Por sinal, a série lança uma crítica importante ao uso dos cigarros eletrônicos e dos vaporizadores, uma questão ainda pouco falada no Brasil, mas central à saúde pública nos Estados Unidos.
Sistema versus pessoas
O coração de New Amsterdam é, sem dúvida, sua visão crítica ao sistema de saúde dos EUA (leia-se, modelo liberal defendido por muitos aqui no Brasil). Essa perspectiva está inclusive no material de origem da produção, o livro “Twelve Patients”, e rende ótimas histórias ao longo dos episódios. Porém, às vezes a barra é forçada um pouco.
Neste episódio, tivemos um exemplo que desafia a suspensão da descrença e outro simplesmente brega. O primeiro se refere ao esforço de Iggy e Helen em ajudar uma paciente que precisa de uma cirurgia plástica para lidar com excesso de pele nos braços, resultado de tratamentos para obesidade. A história é ótima, traz uma boa reflexão para Iggy e sobre o sistema (como doenças mentais são negligenciadas e outras, como a obesidade, são estigmatizadas).
Entretanto, a saída é pitoresca: “vamos lhe dar um câncer”, disse Helen. Assim, a paciente conseguiu a cobertura de sua cirurgia pelo seguro-saúde. Emocionante trama, saída absurda (não a primeira, nem a segunda na série).
A parte brega tem ficado pelo esforço do roteiro em transformar Castro em uma “vilã”. Finalmente, ela é uma caricatura de uma antítese de Max e Helen, preocupada em soluções de longo prazo, pouco afeita à interação clínica etc. Mesmo sendo crível, a construção da personagem gera momentos quase ridículos, como o diálogo com Helen em que, de repente, ela solta uma fala sobre estar acima da protagonista na hierarquia.
Enfim, tomara que resolvam logo essa trama, ou humanizando Castro, ou tirando-a da posição atual.
Um episódio que começou muito bem, mas entregou pouco. Exceção feita, talvez, a mais um ponto no crescimento de Max como pai, mas isso, certamente, será tema para os próximos episódios.
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Confira o vídeo promocional do próximo episódio.