Critica: 4ª temporada de 3% trouxe fim satisfatório e cheio de ação

Crítica da quarta e última temporada de 3%, série original Netflix. Distopia brasileira sobre um mundo dividido marcado pela desigualdade.

Critica 3 temporada de 3%

3% encerra sua jornada com drama e esperança de um mundo melhor

A distopia da Netflix 3%, produzida por Pedro Aguilera, chegou a sua quarta e última temporada trazendo ação, conflitos de ideais e reflexão. A série fez história ao se tornar a primeira produção brasileira da Netflix, e em sua última temporada, o roteiro não perde tempo em jogar o espectador no meio da ação, amarrando as pontas soltas. O caminho é conturbado até o fim.

Os sete episódios finais da série são competentes ao trazer uma conclusão para a saga distópica, ainda que não seja um encerramento satisfatório e épico. O mais interessante é que a quarta temporada realmente se parece com uma temporada final, com tantos conflitos, revelações e senso de urgência em cada episódio. Muitas informações sobre o passado e o casal fundador são reveladas através de flashbacks que guardam algumas surpresas e reviravoltas.

A trama começa com um pequeno salto temporal após os eventos caóticos do final da temporada anterior. O conflito entre o Maralto e a Concha chega ao limite, com uma guerra iminente que pode acabar com a divisão da sociedade e mudar tudo. Alguns membros do conselho da Concha vão para o Maralto para uma visita diplomática, mas nada sai como planejado e todos são obrigados a tomar decisões extremas, cada grupo visando seus interesses.

Um novo processo se inicia sob as ordens de André (Bruno Fagundes), depois que ele deu um golpe no Conselho do Maralto e passa a comandar tudo com mão de ferro. O processo dessa vez é muito mais cruel e sádico. André se mostra descontrolado e tirano. A única capaz de impedi-lo é Michele (Bianca Comparato), sua irmã. As tramas se movem muito rápido, com vários conflitos acontecendo ao mesmo tempo.

Visita diplomática gera grandes consequências

Enquanto o Conselho do Maralto busca a soltura de Marcela e sua tropa e algum tipo de acordo, o Conselho da Concha tem apenas um único plano em mente: explodir o Maralto acabando com a desigualdade, a divisão e a ilusão de uma vida melhor que o Processo causa nos habitantes do Continente. No entanto, mesmo o plano sendo simples, sofre alguns contratempos que os jovens da Concha precisam lidar e improvisar.

Movidos por justiça e vingança, a ingenuidade do plano de fazer com o Maralto o que eles fizeram com o Continente traz um cenário talvez nunca considerado. E daí surgem novos problemas. De toda forma, é interessante ver como o povo do Maralto lida com sua queda social e seu novo status quo. O conforto e o luxo rapidamente se transformaram em desespero e escassez de recursos, como era no início de tudo e assim ainda é no Continente.

O pensamento de que a igualdade é uma ilusão convincente faz ainda mais sentido nessa reta final. A visão idealizada pelo povo do Continente sobre o Maralto ser um lugar perfeito, cheio de recursos e uma vida perfeita logo é destruída. Marcela é a prova de que apesar de ter tudo e ser superior, não há felicidade verdadeira nessa comunidade. Apesar de todo conforto, vivem ali pessoas destruídas emocionalmente, com uma vida marcada por perdas. Aqui podemos aplicar a máxima, “Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza”.

Protagonismo da série muda seu foco na reta final

Michele sempre carregou o título de protagonista da produção. A personagem sempre esteve envolvida em toda ação, no centro de todas as crises, tomando decisões arriscadas e duvidosas. No entanto, na última temporada, é possível notar que Michele fica mais em segundo plano. Mas ela ainda tem importância na trama. Ela e André representam a polarização e as divergências de ideais dessa sociedade prestes a colapsar. O embate é decisivo e traz um encerramento para os dois.

Sendo assim, Joana (Vaneza Oliveira) ganha mais espaço na trama e se destaca. A busca para descobrir suas verdadeiras origens revela um lado mais vulnerável que Joana não gosta de externar. Ela não gosta de expressar sentimentos e tenta se manter firme, mas agora ela apresenta certa fragilidade quando o assunto é descobrir quem é sua mãe. Mesmo não tendo uma conclusão, Joana reconhece sua verdadeira identidade.

Quem ganha destaque também é Marcela (Laila Garin) ao explorar sua chegada ao Maralto. Os valores da família, a tradição de todos pertencerem aos 3%, o senso de pertencimento e meritocracia. Tudo é pauta para conversas acaloradas. A personagem consegue ser humanizada e protagoniza o quinto episódio, um dos mais dramáticos de 3%. O desenvolvimento de Marco (Rafael Lozano) está relacionado a sua mãe, e ao legado que sua família representa. Em seu processo de desenvolvimento, ele finalmente descobre e aceita quem ele de fato é.

Glória (Cynthia Senek) continua sendo uma personagem provocativa que desperta reflexões no público por suas ações. Ela percorre um caminho perigoso, cega por poder, egoísmo e falsas promessas. Suas ações a levam para uma conclusão dramática. Rafael (Rodolfo Valente) que sempre foi dúbio em suas motivações também recebe atenção principalmente ao se reaproximar de sua família.

“E o passado é uma roupa que não nos serve mais”

3% sempre foi sobre seus personagens, e não seria diferente no final. Cada um experimentou um processo de amadurecimento diferente, mas igualmente doloroso. Em suas quatro temporadas, ao longo de seus 33 episódios, a série agradou alguns e incomodou outros, com alguns diálogos fracos, atuações que deixaram a desejar e por vezes a falta de algo mais crível, se mantendo sempre na superficialidade do que era proposto.

A série abordou muitos temas importantes, como a crítica social universal sobre desigualdade e desta vez a desconstrução de um “ideal”. O recurso de flashbacks sempre foi bem utilizado para entregar mais peso e contexto em suas tramas. Para uma produção de ficção científica com orçamento baixo, se comparado a outras produções, a série brasileira da Netflix se encerra com um saldo positivo.

O episódio final é problemático. O mundo que antes era dividido se torna um só, colocando todas as facções em rota de colisão. A resolução do conflito final vem justamente de uma ideia do passado, mas não tem muita emoção. O último teste idealizado pelo Casal Fundador não faz sentido e quebra totalmente o ritmo do episódio que precisa encerrar tantas histórias.

Mas ainda que não seja um final perfeito, a série encerra bem sua jornada. A musica de Belchior no final descreve perfeitamente a situação. E nos leva a refletir que às vezes para construir é preciso desconstruir. O mundo idealizado por Joana pode ser um pensamento ingênuo, mas lança um facho de esperança sobre a humanidade com sinais de uma democracia prestes a emergir. Sem apelar para um final feliz, 3% conclui sua história de forma satisfatória.

Abaixo trailer da 4ª e última temporada. Todos os episódios já estão disponíveis.

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Sobre o autor
Yuri Moraes

Yuri Moraes

Bacharel em Direito, estudante de Marketing Digital. É fascinado pelo universo dos heróis e apaixonado por séries e filmes. Livros de suspense policial são seus favoritos. Boa música e reality shows nao podem faltar. A série favorita, The OC. No Mix, colabora com algumas críticas de séries como, Blindspot, Ozark, La Casa de Papel entre outras.

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