Crítica: 3ª temporada de The Crown mostra Olivia Colman em roteiro apagado
Crítica da terceira temporada de The Crown, série da Netflix que introduziu nova fase estrelando livia Colman. Todos os episódios estão disponíveis.
Como Olivia Colman se saiu sendo a nova rainha de The Crown?
The Crown retornou, e com ela toda a nobreza de ser uma das séries mais caras da Netflix.
A atração, que esteve fora do ar por mais de dois anos, precisou de um tempo para desenvolver a tão esperada transição em que a atriz Claire Foy passou o bastão de protagonista para Olivia Colman, recém vitoriosa no Oscar. A espera, no entanto, valeu a pena?
Temporada deixou os sentimentos divididos
Que The Crown é uma série espetacular, ninguém pode questionar. Tudo parece funcionar, em relação a fotografia, cenários e direção. Mas ao mesmo tempo, ela também sempre foi uma série na qual o público sentia estar pisando em ovos, talvez com medo de infringir uma visão que pudesse ser amplamente criticada pela família real. De qualquer forma, The Crown também não poupou em mostrar um Príncipe Philip amargo, ou uma Rainha apática em algumas situações – tudo, questionado pela coroa Inglesa.
Porém, a terceira temporada pareceu estar cautelosa demais. As tramas mostradas foram todas interessantes, como a história de Anthony Blunt (um ex-espião russo que conseguiu ficar infiltrado na coroa por anos), o Desastre de Aberfan (que tirou a vida de 144 vidas, e recebeu uma reação fria da Rainha no início), além claro da chegada do homem a Lua. Essas tramas, por si só, são de extrema riqueza, mas aqui parecem dar lugar para uma abordagem sem vida e com pouca graça.
A questão da chegada do homem a Lua, por exemplo, é uma perda de oportunidade tremenda em retratar um dos grandes momentos históricos. Como será que a Rainha se sentiu ao ver seu filho rebelde, o Estados Unidos, conquistando tal feito “apenas” 200 anos depois de se libertar das amarras Inglesas? Ver um eclipse literal em cima do império britânico é algo que The Crown ficou devendo, uma vez que o episódio “Moondust”, o sétimo da temporada, prefere se concentrar em como o Príncipe Philip, o Duque de Edimburgo, tem seus sentimentos de menino ferido por ser um militar velho que não consegue pular em órbita.
O público não está preocupado com os sentimentos de Philip. Eles querem que o roteiro explorem os verdadeiros sentimentos de Elizabeth, algo que torna-se quase inexistente nessa temporada. Isso, por muito pouco, anula toda a temporada.
Rainha sem protagonismo
Um padrão mostrado na segunda temporada acaba se repetindo. No texto do roteirista Peter Morgan, Elizabeth é a pessoa menos importante da história. Ela vira uma personagem vaga, exceto como um meio de reagir às artimanhas de seus eventos familiares e mundiais. Isso é um desperdício de talento de Olivia Colman, que é uma das atrizes mais consagradas da atualidade. Assim, ela patina em um episódio que centra-se nos dilemas da princesa Margareth, o Príncipe Charles, Philip, a mãe do Príncipe Philip, Lorde Mountbatten, o tio nazista David, entre outros… Tudo isso para termos Elizabeth, ao final do episódio, reagindo a algum problema.
Essa abordagem parece um tanto preguiçosa, para uma série que ficou mais de dois anos fora do ar. O roteirista prefere mostrar cenas da rainha olhando pela janela, pensativa, ao invés de explorar o turbilhão de emoções que ela deve estar sentindo. Afinal, não é fácil ter o cargo que ela tem. O resultado é como se Elizabeth fosse um robô, sem sentimentos e totalmente desumana em muitas situações.
O que salva The Crown
Como no primeiro e segundo ano, o que salva a série são as performances, mesmo que tenham de relutar nos problemas de roteiro. Colman, como dito, é um espetáculo da natureza. Sua performance é sempre algo impressionante de assistir e talvez ela tenha sido a escalação mais acertada dessa nova fase. Ela não apenas ameniza os buracos emocionais nos roteiros de Morgan, mas também cria tendências profundas. Os olhares de Colman, por exemplo, roubam a cena em diversos momentos. Tobias Menzies está totalmente confortável no papel de Philip, mostrando um personagem mais arrogante – e até com mais brilho – do que o interpretado por Matt Smith nas duas primeiras temporadas.
Helena Bonham Carter é uma escolha curiosa: ela é uma ótima atriz, em um ótimo papel, mas mostra-se desconexa à transgressão da primeira fase da série. Suas cenas, basicamente, estão regadas a álcool e a loucura, que resultam em um melancolismo artificial em muitos momentos. Falta profundidade, e o sentimento de que não estamos vendo uma personagem multidimensional predomina.
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Josh O’Connor talvez roube a cena em muitos momentos com um retrato empático do Príncipe Charles, mostrado protegido e destruído. Ele, certamente, terá oportunidades para crescer na quarta temporada, e estamos na torcida para que isso aconteça. Além disso, ressaltamos que o figurino deverá mais uma vez abocanhar o Emmy, assim como o designe de produção – embora, em 2018, tenha perdido para Game of Thrones. Mas com o drama da HBO fora do caminho, a vitória deverá ser certa.
Assim, o sentimento de ambiguidade predomina na linha narrativa de The Crown. Nós gostamos da série, gostamos dos personagens, gostamos das histórias. Mas algo fica faltando, em meio a algumas características “preguiçosas” do roteiro apresentado. Infelizmente, a impressão que fica, no final da jornada, é que ainda estamos esperando a temporada começar.
Todos os episódios de The Crown estão disponíveis na Netflix.