Crítica: Avatar 2 e o espetáculo puro e simples de James Cameron

Avatar: O Caminho da Água é um espetáculo belíssimo, mas não arrisca em seu roteiro. História simples serve para visuais impressionantes.

Avatar

Quando Avatar foi lançado nos últimos dias de 2009, o mundo era outro. A febre do 3D não havia chegado com força, o topo das bilheterias pertencia a outro filme e a indústria estava em outro momento. Netflix e streamings eram uma realidade distante e a internet estava em outra fase. O Orkut ainda existia e os blogs, simples e pessoais, pipocavam na rede.

Por estes e outros motivos, o primeiro Avatar é um marco recente no cinema e na cultura. Na época, ainda um jovem adolescente, saí da extasiado da exibição. Logo escrevi uma resenha entusiasmada para um blog que eu mantinha à época. Coisa pequena, com poucas visitas mensais. Ainda estava longe de me tornar jornalista e dedicar boa parte da carreira ao cinema, TV e cultura.

Um novo Avatar para um novo mundo

Hoje, mais de treze anos depois, a aguardada sequência de Avatar chega aos cinemas. Muito mudou do lado de cá, embora o amor pelos filmes e séries permaneça. Quando o primeiro longa ganhou o mundo, o jornalismo impresso, de revista, ainda dava respiros seguros no Brasil. A obra de Cameron ganhou capas, artigos, críticas e por muitas semanas só se falava em Pandora.

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Agora, a internet tem um papel muito maior na vida e nas decisões das pessoas. As revistas minguaram e a Marvel se tornou um monstro. Há outros peixes no mar. Fazer mais de 2 bilhões na bilheteria, então, talvez seja tarefa muito mais árdua. James Cameron, entretanto, é um mago, um artista com total domínio de sua criação e ofício. Não devemos, portanto, duvidar de sua força.

Segurança do diretor e sua equipe são impressionantes

Ainda que Avatar: O Caminho da Água não tenha o frescor do original, a sequência consegue manter o público de queixo caído com tamanho arrojo técnico, pois não há, em nenhum filme recente, efeitos visuais tão impressionantes e seguros como os vistos aqui. O que a equipe do longa atinge aqui são níveis estratosféricos de qualidade. Tudo reflete a segurança de Cameron.

O cineasta é tão seguro de si – e até mesmo megalomaníaco – que não há vergonha alguma de colocar bebês na’vi em cena, ou “baleias” que quase falam e entendem linguagem de sinais. Apesar de soar ridículo, Cameron faz tudo funcionar porque ele acredita cegamente naquilo. Ao encarar tudo com seriedade e criatividade, o diretor faz com que o público embarque nas viagens de Pandora.

Sua coragem é tanta que, na maior parte do tempo, estamos vendo apenas efeitos digitais, sem qualquer indícios de elementos reais. Em outros momentos, vemos pessoas reais interagindo com personagens e criaturas totalmente virtuais. E tudo funciona. Não há um detalhe que soe mal feito ou artificial.

A impressão que fica é que alguém finalmente descobriu como realmente se usa o CGI e está jogando isso na nossa cara.

Roteiro é ponto mais duvidoso do projeto

Falta, entretanto, um pouquinho mais de tempero no roteiro e um pouco menos de enrolação. São visíveis os momentos em que Cameron quer investir e brincar, e aqueles em que ele apenas passa os olhos.

A introdução, por exemplo, é um atropelo de informações e viradas narrativas importantes, mas que duram poucos minutos. Há outras sequências, entretanto, que ganham uma quantidade considerável de minutos, inchando momentos que poderiam ser menores.

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O que Cameron e seu time de roteiristas poderiam ter feito, por exemplo, era diminuir o número de personagens, deixando mais espaço para os protagonistas e para a narrativa se tornar mais complexa.

O fato é que metade da família de Jake Sully é subdesenvolvida, enquanto toda a equipe de vilões é praticamente descartável. Ao tentar aumentar o escopo, O Caminho da Água acaba inflando o que não precisava.

Riqueza de detalhes de Avatar enche os olhos

Ainda assim, Cameron e seu time são hábeis e merecem aplausos ao tentarem fazer uma sequência legitimamente diferente do longa original. Sempre que possível, O Caminho da Água é um filme visualmente diferente do anterior. Assim, a direção de arte se esbanja com novos cenários e criaturas. E o povo da água é exuberante em cada detalhe.

A criatividade e atenção aos detalhes, aliás, é o que enriquece a franquia. A pele dos novos na’vi, por exemplo, é mais clara, enquanto seus braços e caudas são levemente alterados, o que é vital para sobrevivência na água. Além disso, a composição de cenários, criaturas e conceitos jamais esquece elementos reais, do nosso mundo, que ajudam na identificação e surpresa do público.

Apesar de mudanças, O Caminho da Água é um espetáculo

Avatar 2, entretanto, tem duas perdas notáveis no time. O primeiro é James Horner, compositor habitual de James Cameron. Ele venceu dois Oscar por sua trilha e canção de Titanic e também compôs as faixas do primeiro Avatar. Horner, entretanto, faleceu em 2015, deixando Cameron sem um amigo e compositor.

Em O Caminho da Água a função ficou à cargo do pouco conhecido Simon Franglen, e a mudança é notável. Franglen não tem o mesmo faro, tampouco talento, de Horner, o que deixa a trilha sonora apática e repetitiva.

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Na fotografia há outra mudança. Sai Mauro Fiore e entra Russell Carpenter. Ainda que Carpenter faça um ótimo trabalho, a fotografia aqui talvez seja mais contida, ou dependa mais da mão de Cameron e menos da criação do diretor de fotografia em si. De todo modo, O Caminho da Água é um nocaute visual.

Avatar: O Caminho da Água é, no fim, um espetáculo puro e simples. Simples por ser claro, indiscutível. Mas também por não arriscar em sua narrativa ou personagens. Cameron, entretanto, costura tudo tão bem – e conta suas histórias com tanto talento – que ignoramos a simplicidade de sua narrativa. Afinal, uma boa e velha história, ainda que simples ou repetida, sempre vale a pena.

Nota: 4/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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