Crítica: Black Summer tem 2ª temporada divertida e ousada

Black Summer, da Netflix, retorna para uma segunda temporada divertida, tensa e ousada. Série não decepciona no visual e na narrativa.

Black Summer

O grande diferencial de Black Summer, desde o início, foi a abordagem inovadora com a qual desenvolveu uma típica história de apocalipse zumbi. Enquanto pouco ou nada de novo surgia na narrativa, a produção encontrava diversas maneiras de entregar o básico de uma maneira diferente. Sabe aquela receita básica, tipo feijão com arroz? Black Summer serve isso, mas muito bem feito e com um tempero único e especial.

O início da segunda temporada, por exemplo, é o exemplo perfeito dessa abordagem original da série para personagens e temas tão conhecidos pelo público. Por mais que estejamos acompanhando ataques de zumbis, tão explorados pelo Cinema e TV, por que não mostrá-los através de planos sem cortes, com ação bem enjambrada? Ainda que o texto não invente a roda, quem sabe um roteiro não linear dê um gosto diferente? E é nisso que Black Summer aposta: diversificar o básico para fazer algo surpreendentemente fresco e convidativo.

Imagem: Divulgação/Netflix

Ação de Black Summer segue sendo de primeira linha

A brilhante sequência inicial, por exemplo, é basicamente uma perseguição, com um zumbi incansável no encalço de duas pessoas. É ao entregar um excelente plano sequência que o simples vira uma complexa orquestração. Além do belíssimo trabalho do diretor John Hyams e seu diretor de fotografia, é preciso aplaudir o trabalho da equipe de dublês e de efeitos práticos. A cena, que começa tensa, mas devagar, escala em tensão e explode numa insana sequência de um zumbi agarrado ao teto de um carro em alta velocidade.

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Os planos sem cortes, aliás, são marca registrada da série, que entregou belas sequências na primeira temporada. Desta vez, as cenas estão ainda maiores e mais intrincadas. A escala fica ainda maior se analisarmos a ousadia da narrativa, que vai e volta no tempo e no espaço para amarrar uma história simples e direta. É impossível não pensar em Amnésia, por exemplo, e correr para montar um quebra-cabeça que nos é proposto de trás para frente. Tudo isso, é claro, numa surpreendente mudança de cenário, já que agora saímos da cidade para nos aventurarmos em bosques congelados.

Estrutura não-linear surpreende pela ousadia e inteligência

Mas a ousadia de Black Summer não para por aí. É realmente louvável que a série mate um de seus protagonistas logo nos primeiros minutos da temporada. Assim, é interessante acompanhar como este personagem retorna em outros momentos. Fica estabelecida, portanto, a ideia de que ninguém está realmente à salvo em Black Summer. Logo, cresce a tensão e a incerteza, e o roteiro encontra mais liberdades para inserir e retirar personagens.

Imagem: Divulgação/Netflix

A estratégia de explorar acontecimentos fora de ordem rende ótimos momentos de tensão. Note, por exemplo, quando vemos um episódio em que várias pessoas habitam uma casa. Nós sabemos de antemão que, logo depois, a casa está praticamente vazia, pois não vemos mais aqueles personagens. Assim, começa a curiosidade para saber o que aconteceu para levar aquelas pessoas e aquele local do ponto A ao ponto B. Essa estrutura não-linear funciona na maior parte do tempo e dá uma nova cara e dimensão ao show.

Segunda temporada de Black Summer é um dos pontos altos da Netflix em 2021

Os únicos momentos em que a estratégia não funciona são aqueles em que inevitavelmente confundimos nomes e rostos. Dois ou três homens de barba se confundem no entra e sai de pessoas. Um zumbi aqui parece aquele sujeito acolá e uma nova moça parece uma outra de um capítulo anterior. Com o tempo as coisas se ajeitam, mas é preciso o mínimo de atenção para que a experiência não se perca por completo.

Assim, a segunda temporada de Black Summer se revela uma continuação atípica e corajosa. Tratando-se de uma série curta e pouco conhecida, é digno de aplausos o risco que a produção assume tanto em sua abordagem visual quanto narrativa. Sem medo, o programa resgata pouquíssimos personagens da primeira temporada e insere nomes e contextos totalmente diferentes. Para ser mais adequado, aliás, este segundo ano poderia se chamar Black Winter. Além de se passar em outra estação, a segunda parte da saga é bem diferente do anterior, o que justificaria a troca de nome.

Imagem: Divulgação/Netflix

Simplicidade e ousadia na mesma medida

Divertida, tensa e direta ao ponto, Black Summer é um dos programas mais interessantes da Netflix no momento. Simples e ousada na mesma medida, a série vai na contramão do que se esperaria de um projeto que precisa de atenção e audiência para sobreviver. Do lado de cá, torcemos pela renovação e por uma terceira temporada ainda mais enérgica e inovadora.

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E então, o que você achou da segunda temporada de Black Summer? Deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades do Mix de Séries.

Nota: 4/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.