Crítica: Demolidor retorna à boa forma em terceira temporada competente

Ainda que tenha problemas de ritmo, Demolidor retorna à boa forma com terceira temporada sólida e divertida, focada em Murdock e o excelente Rei do Crime.

Imagem: Netflix/Divulgação
Imagem: Netflix/Divulgação

Série voltou à boa fórmula do primeiro ano… 

Quando a primeira temporada de Daredevil foi anunciada, a Netflix ainda era uma promessa e a parceria com a Marvel prometia voos arriscados e excitantes para o canal. Alguns anos e uma porção de séries depois, o resultado é agridoce. O streaming está consolidado, mas o universo de heróis desenvolvido é inegavelmente problemático, sendo mais irregular do que aquele criado pela DC na CW. É fato que Demolidor é o melhor programa do ambicioso projeto entre Marvel e Netflix, mas mesmo ele foi afetado pelos tropeços das séries coirmãs.

Demolidor, tanto o personagem quanto a série, retornam em ritmo de recuperação nesta terceira temporada. Depois de servir de trampolim para outras séries e personagens e de participar de uma equivocada reunião em Os Defensores, o Homem Sem Medo renasce. O objetivo agora é reaver a própria identidade, se conhecer no processo de cura e reencontrar seus poderes. Tudo enquanto seu maior inimigo, o Rei do Crime, ameaça um retorno às ruas.

Grande acerto é focar no protagonista

O grande acerto desta terceira temporada é, portanto, focar no protagonista e em seus demônios. Em seus dois primeiros anos Demolidor sofreu do mesmo mal que todas as outras produções da Marvel, no cinema e na TV: preocupou-se demais em preparar o terreno para o futuro e esqueceu de desenvolver os próprios personagens. O segundo ano, principalmente, resolveu dedicar tempo excessivo para Elektra e Frank Castle. Ambos são ótimos personagens, mas acabaram ofuscando o principal. A série que era do Demolidor acabou sendo mais uma peça qualquer dentro de um universo maior que no fim nem compensa o esforço.

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É positivo constatar, portanto, que esta terceira temporada vem pensando em Matt Murdock e Demolidor, além de dedicar boa parte de seu tempo àquele que talvez seja o melhor vilão da Marvel no audiovisual: o Rei do Crime. A série, é claro, não deixa de desenvolver seus coadjuvantes, e todos possuem um bom tempo de tela. Ainda assim é preciso achar um balanço, principalmente de ritmo, pois o programa sempre enfraquece quando foca em qualquer coisa que não seja o protagonista e seu vilão.

Ritmo segue como o grande problema

Ritmo, aliás, sempre foi o grande mal das séries da Marvel em parceria com a Netflix. Certa vez li um artigo que escancarava uma realidade que muitos fãs não querem enxergar: as séries da Marvel na plataforma são grandes enganações. São programas com um fiapo de história, roteiros para preencher no máximo quatro ou cinco horas, mas que são estendidos para dez ou 13. Os roteiristas então preenchem as lacunas com uma porção de subtramas inúteis, personagens sem brilho e diálogos vazios.

Jéssica Jones, Luke Cage e, principalmente, Punho de Ferro sofrem deste mal. Demolidor ameaça a todo momento seguir por este caminho obscuro, mas recupera o fôlego antes de ser tarde demais. O episódio de estreia da terceira temporada, por exemplo, é arrastado, cansativo, testando a paciência do espectador ao limite. O segundo também sugere a mesma abordagem, mas logo encontra a batida certa e recupera os cacos antes que não houvesse mais recuperação. Assim, fique atento: caso goste da série, tenha paciência, pois o início é lento e problemático.

Felizmente, os pontos fortes da série seguem no lugar

Charlie Cox segue encarnando o personagem da melhor forma possível, funcionando muito bem tanto como Murdock quanto como Demolidor. As cenas de ação seguem excelentes, com coreografias bem elaboradas e um ótimo trabalho de câmera.

Quem rouba a cena, contudo, é Vincent D’Onofrio. Sempre que Wilson Fisk está presente, não há nada que lhe ofusque ou seja mais importante que suas palavras ou ações. D’Onofrio encara o personagem com uma mistura de seriedade e paródia que enriquece o sujeito e eleva seus objetivos.

No fim, a terceira temporada de Demolidor funciona, sendo melhor que o segundo ano e bem próxima do primeiro. Recuperando o foco assim como Murdock recupera a audição, Daredevil acalma o público mais afoito e agrada aqueles que já são fãs.

Para ser ainda melhor, a Netflix/Marvel precisa se preocupar ainda mais em desenvolver seus programas de forma isolada, sem se preocupar com o resto do universo. Além disso, talvez seja interessante repensar o formato, diminuindo a duração de temporadas, por exemplo. Seja escapando de prédios desabados ou brigas feias, o Homem Sem Medo sempre terá a companhia do público cada vez que retornar.

Fique ligado: a terceira temporada de Demolidor estreia na Netflix no dia 19 de outubro.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.