Crítica: Designated Survivor fala muito no 2×18, mas só mostra falta de criatividade
Review do décimo oitavo episódio da segunda temporada de Designated Survivor, da ABC, intitulado "Kirkman Agonistes".
Desviando de um golpe de cada vez.
Designated Survivor sempre teve um problema sério com organização e perspectiva. Seja em relação aos núcleos, a história principal e as secundárias, sem contar com a mensagem. Qual assunto que trataremos agora e onde queremos chegar. Garantir ao telespectador que a narrativa que está sendo criada aqui é importante. Argumentar que sim, esse ponto de vista acerca daquele assunto doméstico ou tópico internacional é importante. Foi por causa desse diálogo que The West Wing se tornou um guia para qualquer drama que resolvesse retratar o funcionamento e trabalho de uma Casa Branca. Sem contar com os feitos de Scandal, Veep, House of Cards e Madam Secretary. Precisa-se de um propósito. Urgentemente!
Minha preocupação vem num momento complicado e um tanto temeroso para uma série que quer ser renovada, apesar da sua audiência medíocre. Mesmo assim o drama resolveu falar de um tema desconcertante, porém cada vez mais atual. O que acontece quando o Presidente se torna mentalmente incapaz para liderar a nação e tomar decisões? De acordo com a constituição do país, remove-lo a partir do voto da maioria do seu gabinete. É verdade que já discutimos esse assunto em 2017 quando Madam Secretary levou ao ar o ótimo Sound and Fury, mas temos aqui uma boa oportunidade de ver qual a visão dos roteiristas de Designated Survivor sobre o assunto. Sem nenhuma surpresa, fiquei frustrado com o tom, com as ideias, com a execução. Enfim…
Depois que fitas de conversas entre Kirkman e seu psicólogo são divulgadas na internet, há um grande esforço na Casa Branca para descobrir quem foi o responsável pelo vazamento. Como já disse anteriormente, fazer uma caça às bruxas nunca deu certo nem mesmo na realidade, muito menos na ficção. Mesmo assim, todos os celulares dos aliados mais próximos foram recolhidos para “maior análise”. Com todo o país ouvindo as lamurias e inseguranças do chefe da nação, começa-se a questionar seu verdadeiro estado emocional. Será que ele tem condições de governar o país?
Imprensa serve pra que mesmo?
Mesmo que o episódio não responda essa pergunta com firmeza, acredito que meu maior problema com Kirkman Agonistes talvez não seja tanto com essa parte fantasiosa, mas sim com a total falta de compreensão sobre o trabalho da imprensa. Mais precisamente da imprensa nacional. Infelizmente essa falta de perspectiva tem um histórico indesejável desde quando Emily pediu para que um jornalista fosse investigado. “É para proteger o presidente”, diz. Retórica que espelha os “argumentos” dos aliados de Richard Nixon durante o Watergate.
Desta vez acredito que a incompreensão sobre o trabalho da mídia foi ainda mais profundo. Numa das cenas finais do episódio, vemos Seth (Kal Penn) ir até a sala de imprensa para atacar os jornalistas e defender o presidente. Mesmo que tal ato pareça normal em tempos de Sarah Huckabee Sanders, Sean Spiecer e “fatos alternativos”, não era assim a alguns anos atrás. É claro que é desconfortável perguntar sobre a sanidade do presidente. Comentei, inclusive, na resenha anterior. Mas esse é o trabalho da imprensa. Com diversas fitas mostrando uma aparente dificuldade emocional, é dever dos jornalistas cobrar da Casa Branca uma resposta consistente, definitiva e segura ao povo.
Fico triste em ver Michael J. Fox comendo pelas beiradas. Ele foi importantíssimo para a conclusão de The Good Wife, por isso merece maior atenção (e empenho) dos roteiristas nos próximos episódios. Pela promo abaixo é possível inferir que veremos uma grande reviravolta envolvendo Kim Raver. Porém, vale lembrar que os problemas de Designated Survivor são muito maiores do que a ausência de viradas novelescas.