Crítica: Eu Nunca…, série da Netflix, é envolvente e ótima de assistir
Crítica da primeira temporada da série Eu Nunca... produção original Netflix, que estreou na plataforma de streaming nesta segunda (27).
Eu Nunca… é uma série diferente. E diferente, é bom!
Eu Nunca… é a nova série de comédia adolescente da Netflix. E eu realmente nem sabia que ela estava para estrear. Pode-se dizer que esse é o tipo de produção que acaba caindo de paraquedas na sua lista de maratona, sem qualquer pretensão de assistir. Mas já notou que essas séries acabam virando uma excelente maratona?
Há tempos eu busco uma série nova adolescente que me faça encher os olhos – com exceção de Sex Education, que é uma das melhores coisas na TV atualmente. E ao me deparar com Eu Nunca… (Never Have I Ever, em inglês), encontrei com algo totalmente diferente. Se olharmos o panorama atual de séries que valem realmente uma maratona, ser diferente é muito bom.
Criada por Mindy Kaling e Lang Fisher, Eu Nunca acompanha a história de Devi (Maitreyi Ramakrishnan), uma garota que teve um trágico começo no ensino médico após perder o pai e ficar paralítica – temporariamente. Quando ela começa o segundo ano, ela quer uma vida nova. Principalmente, porque ela também quer um namorado. É assim que Paxton (Darren Barnet) entra na sua lista de prioridade. Mas a forma como a série vai desenrolando os fatos, adicionando elementos interessantes como a cultura indiana, faz de Eu Nunca... uma produção extremamente interessante.
O que torna Eu Nunca… atraente
Essa série sem dúvida é um guilty pleasure, e tem muitas características de tal. Mas nenhum desses prazeres culposos que amamos funcionaria sem a protagonista. Devi é uma uma mistura ideal de ser uma pessoa compreensivelmente egoísta, cega para algumas questões, legitimamente engraçada, fundamentalmente boa e profundamente atenciosa – quando quer.
Mas agora falando sério, tudo o que ela quer é ser uma adolescente normal. Ela quer ser convidada para uma festa, apenas para recusar drogas; ela quer entrar para sua faculdade dos sonhos, Princeton; também quer manter suas amizades que são extremamente carinhosas (já já falamos delas); ela quer ser vista e observada.
A história de Devi cresce aos olhos do espectador, utilizando elementos extremamente cativos, ao colocar o adolescente como um ser humano que possui dilemas além do “idiota”. Certamente, a série estudou muito “Sex Education” para entender como é necessário falar com o adolescente. Humaniza-lo, e dizer que está tudo bem não estar tudo bem.
Além disso, mostrar Devi como uma indiana é parte fundamental para tornar Eu Nunca… uma série diferente. É a partir dali que moldamos a história da protagonista, sua participação em entediantes festas religiosas e, principalmente, a maneira como ela lida com a perda do pai.
Ótimos coadjuvantes
Outra parte fundamental que faz a engrenagem de Eu Nunca… girar são os coadjuvantes. As amigas, Eleanor e Fabiola dão um show a parte, cada uma com seus dilemas. A primeira, atriz, é ignorada pela mãe. A segunda, se descobre gay e quer ser aceita pela família. Mas principalmente, elas precisam que Devi também queira estar lá por elas, a medida que a protagonista afunda demais nos seus dilemas e esquece que todo mundo tem algo para resolver.
Outro personagem muito interessante de se ver é Ben – o nêmesis de Devi. Um dos episódios da série é focado em contar a sua história, e diria que é um dos mais interessantes. Apesar de estereotipado, Ben serve para mostrar que muitos adolescentes são ignorados pelos pais, e que acabam se sentindo sozinho, quando não deveriam. Além disso, a disputa dele com a protagonista é hilária. E em certo ponto, obviamente, isso acaba convertendo o público a torcer para que os dois fiquem juntos. Mesmo que isso, em momento algum, torna-se uma certeza.
Até Paxton, que aparenta ser superficial, tem um background interessante com uma irmã tendo Síndrome de Down, e um esportista que é geralmente é visto apenas pelo seu corpo escultural, e não pelo coração, como Devi faz.
A familiares de Devi são ótimos também, incluindo sua mãe que tem ótimos momentos em cena, e sua prima Kamala, que tenta fugir a todo momento de um casamento arranjado.
Vale a pena assistir
A série lembra um pouco a atmosfera de Jane The Virgin, com o tema da imigração, e os paralelos jovens envolvendo a sexualidade. Mas o legal é que, assim como Jane, Eu Nunca… utiliza uma história com aspectos fictícios para trabalhar emoções extremamente realistas.
Eu Nunca… não poupa na hora de usar palavrões ou ser mais sensual. Mas mesmo assim, ainda exala a ingenuidade que alguns personagens de TV precisavam ter.
Ao começar um episódio, você rapidamente se vê envolvido com a trama e, quando percebe, já maratonou os dez episódios. O único problema encontrado? Não ter mais depois que acaba.
Todos os dez episódios de Eu Nunca… estão disponíveis na Netflix.