Crítica: Grand Army é necessária e a série do momento na Netflix
Crítica da série Grand Army, nova produção original da Netflix que aborda diversas questões envolvendo racça, preconceito e sexualidade.
Série adolescente da Netflix se propõe a temas relevantes
Grand Army estreou na Netflix que, mais uma vez, investe em conteúdos para adolescentes. Mas ao contrário de algumas tramas fúteis e vazias que vemos por aí, a nova produção tem um texto relevante e extremamente necessário para os dias de hoje. E aborda alguns conceitos e tabus da sociedade que, se tivessem sido discutidos há algumas décadas atrás, poderia ter evitado anos de injustiças, segregações e preconceitos.
A atração é baseada na peça Slut – The Play, escrita por, e conta a história de um colégio, o Grand Army. Como todas as instituições de ensino, existem os estereótipos – mas aqui eles são explorados de formas cruas, intensas, mostrando o grau de importância para alguns diálogos.
Grande evento abre a série, mas não a dita
O primeiro episódio é bem lento – e por isso nunca devemos julgar uma série por seu piloto. No entanto, ele insere um acontecimento extremamente importante para o andar das histórias da série, que é um atentado, no Brooklyn, Estados Unidos, há poucas quadras do colégio. Porém, o espectador se engana ao pensar que o atentado dita os conflitos dos personagens. Isso porque, cada um deles, possuem dilemas que acabam os fazendo esquecer que, no fim dia, eles estiveram próximos de um ataque terrorista.
O pânico mostrado na escola serve para a discussão intensificada sobre terrorismo e preconceito racial, que principalmente nos Estados Unidos é visto no dia a dia. O interessante é que, através dos estudantes, é possível explorar questões étnicas que não são dilemas exclusivos de jovens, mas sim de minorias em qualquer idade.
Preconceito, lutas e sexualidade são protagonistas
Logo no segundo episódio, vemos um avanço no nível do texto ao vivenciarmos um momento de preconceito que acontece dentro da própria escola. Existe implícito, ou explícito dependendo da interpretação, de que a supremacia branca da escola dita as regras, não importa o que aconteça. Se o que Dom – personagem vivida por Odley Jean – passa fosse vivenciada por uma branca, e se Jayson e Owen fossem também brancos, eles enfrentariam a mesma consequência? É bem provável que não.
Outro momento importante é a politização do corpo feminino liderada por Joey, que usa uma camiseta escrita “mamilos livres” e enfrenta a mesma direção, apoiada por alguns amigos.
Porém, o público nem imagina que a mesma personagem, pouco tempo depois, acaba vivendo uma das cenas mais angustiantes da série, envolvendo justamente questões sexuais. Mas no caso, algo mais agressivo, e contra a sua vontade. Acontece que, desde o primeiro momento, Joey não liga para o que ela desperta em seus amigos. A “sexualização” está na cabeça de quem olha aquilo com tal olhar. Mas, infelizmente, a série expõe esses pensamentos, e mostram a interpretação desses assediadores, que entendem essa sensualidade como um sinal de “sim” quando, em muitas vezes, é não.
Ainda assim, Grand Army diz aos telespectadores, o consentimento deve ser solicitado ao longo do caminho – não importa quais suposições alguém tenha sobre como a situação está progredindo. Qualquer outra coisa é estupro.
Nem tudo são flores
Infelizmente, o tempo de tela dos personagens – talvez por serem muitos – são complicados. Por vezes, sinto que os protagonistas negros ainda não têm um grande desenvolvimento em suas relações assim como os brancos. E esse pode ter sido um erro que interferiu, de alguma forma, na saída turbulenta de alguns roteiristas negros da atração, durante sua produção.
Leia também: Grand Army, 2ª temporada, data de estreia e spoilers
E igualmente, a condução da temporada também carece de dar importância para a questão do atentado, que se torna algo sem relevância na vida dos personagens.
Mas de alguma forma, Grand Army consegue ousar em uma forma que muitas série nem sonham em chegar. E ao final da trajetória, pensamos que são necessárias mais séries nesse estilo. Ou seja, desafiadoras.
Grand Army pode nem se tornar a série do momento na Netflix, mas reafirmo: ela é necessária – e muito.