Crítica: Hacks brilha na 2ª temporada, sendo atual e hilária
Segunda temporada de Hacks no HBO Max vale cada episódio, e prova de que a série tem fôlego para ótimas histórias.
Hacks retornou para a segunda temporada no HBO Max e já se foi. Com apenas oito episódios, a sensação é que tudo passou tão rápido, que nem deu tempo para aproveitarmos com calma as aventuras de Déborah Vance e sua trupe. Mas, ao menos, no fim da jornada, a sensação é de que cada minuto valeu a pena.
Em uma era de comédias fracas, ou descompromissadas em serem relevantes, Hacks se destacou e apenas não ganhou o Emmy no ano passado porque uma outra comédia muito popular (Ted Lasso) abocanhou o prêmio merecidamente. De qualquer forma, Hacks se manteve pronta para um segundo ano em que deixar claro que: essa é uma série divertida, leve, gostosa de se assistir e muito relevante para a TV.
Deborah Vance, apenas… e Ava
A força de Hacks, sem dúvidas, se mistura com a força da vencedora do Emmy, Jean Smart. Ela é revigorante e com um timing perfeito, pronta para fazer de Deborah Vance uma personagem que por si só já vale a maratona da série.
No segundo ano, após se desentender com a sua roteirista Ava, a comediante está pronta para um recomeço. Com isso, a segunda temporada coloca as duas em um rápido pé de guerra, mas resolve isso de forma fácil e sutil. Porque Hacks não quer perder tempo em colocar duas mulheres duelando. A TV já está batida dessa guerra, e o texto da série do HBO Max entende que essa é a oportunidade para tratar de assuntos mais interessantes.
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Tanto Deborah quanto Ava são representações do perdido, ou daquele que não tem ideia do que fazer em certo ponto da vida. Enquanto Ava está jovem, e tem um mundo pela frente, Deborah sente que ela tem um tempo de experiência – mas que isso não a impede de ainda se redescobrir.
O interessante é que uma entende que precisa da outra para se redescobrir. Ava, enquanto roteirista, e Deborah enquanto ser humano.
Evolução é a chave da 2ª temporada de Hacks
A medida que os episódios da segunda temporada de Hacks avança, eles deixam claro que nunca é tarde para se redescobrir ou se reinventar. Mas para isso é preciso evoluir.
Claro, Deborah é uma figura que nunca vai deixar de ser excêntrica – a ponto de uma venda de garagem, ela parar e comprar um gigantesco armário que precisa ser levado em seu ônibus. Ou então, ela comprar todo o estoque de perfume das lojas da região, após a marca descontinuar a fabricação daquele que se tornou “o seu cheiro”. Mas, mesmo diante disso, Deborah evoluiu. Ela se mostra mais humana em muitos aspectos, e tudo isso porque ela passou a olhar para si de outra forma.
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Deborah passou anos se blindando para um cenário que exigia que ela fizesse isso, principalmente por ser mulher. Mas, agora, ela viu que também é necessário ter os pés no chão, olhando para si – e para os outros com mais generosidade.
O fato dela topar refazer um show, contanto seus altos e baixos, é a prova disso. E mesmo que o mundo esteja tentando tirar ela da jogada, ela ainda pode contar com pessoas que enxergam o talento dela, e que não vão deixar isso acontecer.
Coadjuvantes também brilham
A explosão de Hacks acontece, porém, porque Jean Smart conta com uma ótima equipe de apoio. E, tirando Ava, que de certa forma também é uma protagonista, aqui temos ótimos coadjuvantes.
Desde Marcus, que também refez uma jornada sobre viver apenas para o trabalho, passando por Jimmy, que abdicou de tudo para acreditar em Deborah, os personagens de Hacks conseguem se encaixar no cenário, quase como peças de um quebra-cabeça. Sem eles, nada disso funcionaria bem.
Durante a temporada, até mesmo personagens menores como Kayla (que deveria ter mais tempo de tela) conseguiram ser hilários na medida certa. E é isso que faz de Hacks uma série apaixonante.
Gostinho de quero mais
A segunda temporada encerra com uma nota alta, quando Deborah consegue vender seu especial que ela tanto batalhou para fazer nesta temporada. E a prova de que ela conseguiu também sua evolução é de que, no final, ela dispensa Ava. Não por vingança, ou algo do tipo. Mas porque ela entende que se Ava ficar com ela, a roteirista não vai encontrar a evolução que Deborah alcançou.
Embora Ava tenha ajudado Deborah a alcançar essa mudança, infelizmente, Deborah não pode fazer o mesmo por ela. E Ava então sai despedaçada, embora, com um trabalho já engatilhado. Só que o fato de Deborah ter dado empatia para Ava – algo que talvez ela não tenha nunca recebido em sua vida, nem pessoal e profissional – fez com que Ava sentisse essa demissão.
A cena final, com Ava ficando triste por Deborah desistir do processo – indicando que elas não se reencontrariam no tribunal -, é a prova disso.
Com isso, Hacks encerra a segunda temporada dando um gostinho de quero mais. Não que tenha necessidade, porque a história termina fechada. Mas é por vontade do público, de querer passar horas dando risadas ao lado dessas incríveis atrizes, em um roteiro importante, necessário e grandioso, sobre o papel da mulher na sociedade.
Hacks é atual, refrescante e tudo o que precisamos na TV. A torcida é que Deborah volte para um novo ato. Estaremos aqui para assistir!
Nota: 5/5