Crítica: I am not okay with this, da Netflix, merece ser a sua próxima maratona
Sophia Lillis brilha em narrativa que mistura dramas adolescentes com elementos sobrenaturais. Rápida e divertida, I am not okay with this vale a maratona.
Mistura de drama, comédia e ficção, I am not okay with this é curtinha, divertida e bem intencionada
Com sete episódios de aproximadamente vinte minutos, I am not okay with this tem pro volta de duas horas e meia de duração. É muito menos do que tem O Irlandês, por exemplo, e não é muito maior do que a maioria dos filmes do último Oscar. Enquanto série, o novo projeto da Netflix é uma dramédia bem intencionada que agrada. Como um todo, quase como filme, a investida perde o brilho ao não aprofundar seus temas e personagens da melhor forma.
Ainda assim, assistir I am not okay with this é um alívio, um frescor depois de tantas outras séries da plataforma que extrapolam a paciência do público ao alongar seus capítulos. Aqui, o tiro é curto e objetivo, sem rodeios ou excessos.
Se por um lado temos um show dinâmico e que jamais cansa, por outro temos uma história que nunca mergulha nos diversos temas que tangencia. No final, o resultado é positivo, mas deixa um gostinho de “quero mais”.
Série é baseada em HQ do mesmo criador de The End of the Fucking World
Na trama, Sydney é uma adolescente introvertida que lida com os problemas insuportáveis da juventude. Sua amiga está cada vez mais popular e distante, seu pai faleceu há um ano e sua mãe é fria como gelo. Sem perspectiva alguma, a garota vê duas coisas estranhas acontecerem: espinhas aparecem em sua coxa e poderes sinistros começam a aflorar. Na descoberta da própria identidade e das novas capacidades, Sydney faz amigos e encontra mistérios pelo caminho.
A brevidade da série e o atropelo de suas narrativas vêm da HQ na qual se baseia. Escrita pelo mesmo criador de The End of the Fucking World, Charles Forsman, a HQ comprime diversos acontecimentos em pouco mais de 150 páginas. Semelhante a Fucking World em estrutura, texto e visual, IANOWT pincela uma história que poderia ser enorme. De todo modo, a HQ consegue passar a sua mensagem, embora apresse assuntos e se encerre de forma abrupta.
Vale apontar, ainda, que a adaptação é fiel ao material original. Embora mude a ordem de certos acontecimentos (o que se revela uma decisão acertada, sob o ponto de vista dramático) e alguns detalhes, a série faz um belo trabalho ao dar vida às páginas. Trata-se de uma adaptação próxima e respeitosa, ao estilo de Fucking World.
A grande diferença, claro, é que o projeto da Netflix expande as narrativas, desenvolve alguns personagens e encorpa a mitologia, que pode crescer indefinidamente na TV.
Sophia Lillis, de IT, brilha em narrativa que mistura dramas adolescentes com elementos sobrenaturais
Na linha de frente, Sophia Lillis comprova ser um dos jovens talentos mais promissores da atualidade. Criando uma Sydney introspectiva, Lillis faz um excelente trabalho ao manter sua personagem simpática. Um dos problemas de Fucking World, por exemplo, é que a dupla central, em determinado momento, beirava o insuportável. Já Sydney conquista por seu jeito tresloucado e sua evidente empatia e carinho pelas pessoas que ama e admira. Já Wyatt Oleff tem a difícil missão de expandir um personagem pouco explorado no material original. Stanley ganha proporção e torna-se um personagem querido e envolvente, servindo, também, como eficiente alívio cômico.
Por fim, I am not okay with this faz um belo trabalho ao tratar dos elementos sobrenaturais da trama. Investindo em uma abordagem mais Carrie e menos Eleven, a série aborda os poderes da jovem como um problema preocupante, um desenvolvimento complexo de seu amadurecimento. Aqui, seus poderes não são usados como diversão ou ferramenta de salvação, mas como um mistério assustador.
Ao alinhar os poderes ao desenvolvimento físico e psicológico da garota, que se torna mulher em uma realidade difícil, a série faz um comentário social bacana, mas nunca pedante.
Ao passar a régua e finalizar o serviço, o resultado é positivo. I am not okay with this pode não ser o sucesso surpreendente de Fucking World, mas tem tudo para agradar um público fiel. Curtinha e gostosa de assistir, é daquelas séries perfeitas para se assistir em uma só tacada!