Crítica: New Amsterdam aprofunda coadjuvantes em 1×02
Review do segundo episódio da primeira temporada de New Amsterdam, da NBC, "Rituals".
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No piloto de New Amsterdam, havia elogiado a intensidade da série, mas ponderei que seria melhor aprofundar a construção de seus personagens. E foi isso que vimos em “Rituals“.
A partir das premissas individuais dos personagens colocadas no episódio de estreia da série, o roteiro dividiu o elenco em núcleos menores para aprofundar os laços e abordar questões éticas e sociais bastante relevantes. O papel da religiosidade na assistência hospitalar, a relação entre médicos e pacientes, o necessário cuidado com psicoterapias; esses temas foram abordados com cuidado pela trama.
Se no episódio de abertura tivemos a história centrada no protagonista, Max Goodwin, desta vez ele assumiu um papel de guia das tramas, quase atuando como nossa testemunha ocular do que acontecia. Sua participação na maior parte das cenas não foi decisiva, mas serviu para nos colocar no cenário, seja pelos diálogos explicativos, seja pelo olhar “de fora” para as situações.
Na história do próprio personagem, vimos o desenvolvimento de seus laços com sua parceira, Georgia, ainda internada por riscos à gravidez. Tivemos a oportunidade ver mais nuances de sua relação, como a entrega de Georgia à maternidade, em detrimento da atitude obsessiva de Max quanto ao trabalho. O diagnóstico de câncer apareceu como uma sombra ao longo do episódio, sendo discutido abertamente somente entre Max e Helen Sharpe.
Certamente, veremos nos próximos episódios o desenrolar do dilema de Max, o que me deixa curioso para saber como os roteiristas pretendem avançar nesse ponto: Max sofrerá gravemente com o tumor, precisando de tratamento intenso, ou o câncer será curado rapidamente? As decisões trarão consequências diferentes ao enredo maior da série.
Bloom e Reynolds discutem religiosidade
O título do episódio, “Rituals”, certamente tem maior identificação com a trama entre Bloom e Reynolds, que lidam com o caso de uma paciente sofrendo da “síndrome do coração partido”, uma condição que demanda intervenção cirúrgica. Sua família, de descendência haitiana, pede aos médicos que permitissem a realização de um ritual de proteção, o Gad Ko, típico da cultura local.
A abordagem do roteiro ao dilema religioso foi interessante, pois não recaiu na armadilha de tornar o ritual em solução para o problema ou em simples anedota. O importante a ser ressaltado, e feito de maneira coerente, foi a importância do ritual para a paciente e sua família, independente de uma relação biológica com a cirurgia.
Foi também importante o episódio não ter explorado a relação entre Bloom e Reynolds na chave amorosa, mostrando também o profissionalismo e uma discussão de caráter ético.
Frome e Kapur formam uma dupla e tanto
Outra trama do episódio envolveu o neurologista Kapur e o psiquiatra Frome. Os dois se viram em meio ao caso de um adolescente que teve um ataque na escola, agredindo um colega, levando-o a ser medicado pelo serviço público educacional.
Em outro exemplo do valor de uma relação atenciosa entre médicos e paciente, Frome e Kapur conseguem descobrir a essência do problema, o trauma do menino pela morte do pai. A dobradinha entre os dois funcionou muito bem, revelando mais aspectos da personalidade de Kapur (acabamos descobrindo que ele tem um filho!). Frome tem se mostrado um personagem mais plano, mas a interpretação de Tyler Labine tem sido convincente e tocante.
No que toca ao título do episódio, o núcleo discutiu os rituais do serviço público educacional americano, saturado de problemas e com pouca capacidade material de lidar com eles. Ao fim das contas, a solução dos médicos foi ir de encontro aos ritos, sendo mais heterodoxos.
Sharpe seguiu sua mudança de personalidade
Entre todas as personagens apresentadas neste início de série, Helen Sharpe certamente é a mais afetada pela chegada de Max. No primeiro episódio, a oncologista saiu do estrelato para voltar à prática médica. Agora, o tema foi a relação médico-paciente, aflorando o lado humano da atuação da médica.
Em cenas e diálogos sutis, mas emocionantes, vimos Sharpe se conectando com sua paciente, principalmente na delicada cena da pintura das unhas. Acredito que essa transformação de Sharpe renderá uma relação cada vez mais próxima a Max.
Ao fim das contas, “Rituals” mostrou novamente o potencial de New Amsterdam. Personagens com potencial narrativo e emocional, um cenário problemático, e um protagonista que a cada cena parece estar mais próximo de ser retirado de seu posto. Todos esses elementos tornam a série atrativa, e sua abordagem mais social a diferencia um pouco das demais produção do gênero.
Vejamos o que aguarda Max e sua equipe…