Crítica: O Gambito da Rainha é a série Netflix que você tem de assistir
Crítica sem spoilers da minissérie O Gambito da Rainha, produção original da Netflix que narra a história de uma jogadora de xadrez.
Drama da Netflix acertou em cheio!
Na semana passada a Netflix estreou a nova minissérie O Gambito da Rainha. A produção criada com início, meio e fim, foi idealizada exatamente dessa forma, pra não ter continuação. Mas do jeito que ela é envolvente, a vontade que fica é de querer mais.
Confesso que este título em nada me chamou atenção. Além disso, uma série sobre xadrez e vícios certamente não me enxeria os olhos. Mas, como eu sempre dou chance para essas produções – até mesmo porque me encarreguei de fazer esta resenha – fiquei extremamente surpreso com a qualidade do roteiro e da produção. Se eu pudesse qualificar O Gambito da Rainha com uma frase, eu colocaria “emocionante do início ao fim“.
Adaptada por Scott Frank, do romance de mesmo nome escrito por Walter Tevis, O Gambito da Rainha tem muitos quesitos como seu principal atrativo. Boas atuações, uma excelente produção e edição, além de uma linguagem visual deslumbrante. E mesmo que tenha pequenos problemas ao longo do caminho, é a maratona que mais está valendo a pena atualmente na Netflix.
O jogo começou
A série acompanha a história de Elizabeth, ou simplesmente Beth. Interpretada incrivelmente por Anya Taylor-Joy, a atriz de Peaky Blinders deu vida a uma personagem que tem suas emoções exploradas de forma bem aprofundada.
Quando criança, Beth foi parar em um orfanato, após perder a mãe em um acidente de carro. Lá, acabou se chocando com um mundo de regras e imposições, no ano de 1967. Foi lá também que ela acabou vendo no vício em remédio um escape – e ao mesmo tempo, um insight para ver no que era realmente boa: jogar xadrez. Sim, o jogo de xadrez é a parte fundamental para que a trama se desenvolva, por mais que o jogo em si seja extremamente monótono. Eu mesmo, tenho sono ao ver uma partida. Só que jogar xadrez exige mais do que todos pensam. Agilidade mental, inteligência, e astúcia. É quase como que necessário prever o movimento do seu adversário. E é incrível como que, de certa forma, os movimentos do jogo podem refletir os movimentos da vida real, representando suas vitórias, mas também suas derrotas.
Tão importante para a história da própria Beth, está Bill Camp – que dá vida ao Sr. Shaibel, o zelador do orfanato. É ele o responsável por ensinar Beth a jogar xadrez, escondidos no porão do local. E sem dúvidas, ele dá um show de atuação – mesmo sendo reservado e, por vezes, de poucas palavras. Sua química com a personagem, ainda criança, é o que atrai o espectador a continuar. Afinal, somente a partir do segundo episódio vemos de fato a vida de Beth quanto adulta.
Dificuldades da vida
Ao se propor a acompanhar a trajetória de Beth, em meio ao mundo do xadrez, por vezes podemos acreditar em se tratar de uma história real. Por que os personagens, somados ao roteiro de Scott Frank, se mostram tão convincentes de si, que chegam a levar o espectador a acreditar na história.
Quando Beth vai para sua família adotiva, é ali que ela acredita que pode fazer do xadrez o seu futuro. Uma metáfora para que, pela primeira vez, ela pudesse escolher seu próprio destino. Nesta parte da trama, também, nos envolvemos com a história de Alma Wheatley, interpretada por Marielle Heller. A mãe adotiva de de Beth é uma dona de casa feita para ser complacente por seu marido inconstante e aviltante, justamente em um período em que a mulher era extremamente rebaixada pela sociedade.
Essa química entre as duas se torna importante quando, a partir disso, suas individualidades crescem conforme Alma e Beth embarcam em aventuras – viajando pelo país para competir em torneios de xadrez, cada uma ousando sonhar além das quatro paredes ou da pequena casa fornecida pela sociedade.
Ver esse relacionamento se desenvolver é o grande ápice de O Gambito da Rainha. Só que mesmo com o crescimento das duas tramas, sabemos de alguma forma que se trata da história de Beth. Isso se dá num contexto que, durante as partidas de xadrez, nos conectamos com a personagem através de seus ricos detalhes e características. Vale ressaltar também que a medida que Beth fica mais velha, ela também se torna mais confiante e mais sábia. E a interpretação de Taylor-Joy vai se transformando – mesmo que de uma forma sutil. Esse tipo de trabalho é difícil, e ela consegue fazer com que o espectador absorva todos estes detalhes de forma natural.
Existem problemas?
Sim, existem. Afinal, a estrutura do roteiro, em certos momentos, pode ser cansativo para parte dos espectadores. Principalmente porque, em muitos pontos, assistimos as partidas de xadrez. E como o IndiWire classificou, mesmo que surjam de forma redundante ao longo da série, as partidas não parecem repetitivas. E, cada vez que inseridas, são necessárias para alguma evolução dos personagens e do roteiro.
Tudo isso conduz a um final incrível. A história consegue ser bem amarrada, extremamente satisfatório. O fato de Beth envolver seu vício com os jogos, sem dúvidas, é um prato cheio para o interesse na série. Só que, no fim, os ensinamentos passados nos faz refletir que, as vezes, podemos fazer tempestade em copo d’agua com nossos problemas. O Gambito da Rainha deixa lições de vida incríveis e emocionantes, que fazem dessa uma maratona necessária. Se ela será sucesso, ou lembrada, só o tempo dirá. Mas esta, sem dúvidas, é a série da Netflix que você tem de assistir.
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