Crítica: Osmosis, série da Netflix, parece um episódio mal feito de Black Mirror
Crítica de Osmosis, série francesa da Netflix.
Nova série da Netflix, Osmosis peca e acaba sendo piegas…
Osmosis é mais uma tentativa da Netflix de expandir suas produções internacionais. Depois dos sucessos de La Casa de Papel na Espanha, Dark na Alemanha e 3% no Brasil, a plataforma de streaming quer é apostar. Entretanto, a sua nova série que é originária da França vai passar despercebida pelo público. E eu explico o porquê.
A trama tem um potencial incrível, que soa até mesmo como um spin-off de Black Mirror. Trata-se de uma nanotecnologia, chamada Osmosis, que é inserida no cérebro do sujeito. A partir dali, cruzando com informações da realidade, redes sociais, personalidades, entre outras coisas, o dispositivo é capaz de encontrar a sua “alma gêmea”. Ainda em teste, a Osmosis é uma grande promessa. E a série se propõem a acompanhar as “cobaias”, ou seja, as primeiras pessoas que se dispõem a usarem dessa tecnologia. Entretanto, a condução da história não é a das mais felizes.
O foco não é a tecnologia, mas sim o sentimento humano
Nesse ponto, Osmosis acaba sendo enquadrada como uma “prima inferior” de Black Mirror. Isso porque ela se propõem a contar uma história envolvendo tecnologias, algo que geralmente é colocada como a “grande vilã” da sociedade. Entretanto, com poucos minutos de episódio, já fica claro que a intenção da série passa longe disso. O foco mesmo, é mostrar os acertos e falhas do ser humano.
Esse seria um argumento até válido, se não fosse tão mal conduzida como na série. A cada cena, uma coletânea de clichês torna a série cansativa e piegas.
Os protagonistas são dois irmãos, que estão por trás da tecnologia. Paul (Hugo Becker) e Esther (Agathe Bonitzer) possuem divergências a ponto de enxergarem a tecnologia por ângulos completamente diferentes. Enquanto ele acha que é o caminho ideal para encontrar a “alma gêmea”, algo que ele julga necessário para ser feliz, Esther acha que os estímulos cerebrais feitos pela nanotecnologia podem curar pessoas de doenças, incluindo sua mãe que está em coma. Acontece que Esther só deu crédito para a tecnologia quando o próprio Paul foi despertado de um coma misterioso – que passa batido pela série, sem qualquer explicação.
Entre o jogo em que um tenta provar ter a razão mais do que outro, encaixam-se as cobaias do dispositivo. E, tal qual os protagonistas, elas são mostradas com uma série de clichês e histórias mal escritas, a fim de questionar as falhas da natureza humana. Dessa forma, a narrativa vai se tornando extremamente cansativa.
Questionamentos
A série tem até um questionamento válido, mas sua condução peca e feio. De alguma forma, ela quer que o público se questione até qual ponto a tecnologia funciona. E se, além de coletar os dados para criar o “par perfeito”, a tecnologia no cérebro manipulasse a pessoa? E as emoções? Além disso, qual o interesse real desse dispositivo ao coletar informações do cérebro do usuário?
São questionamentos importantes. Entretanto, passam a escanteio no momento que a série prefere investir em clichês de péssimo gosto para tentar fisgar o espectador.
Ladeira abaixo
A história de Lucas (Stephane Pitti), por exemplo, é um exemplo dessa completa confusão. Isso porque o roteiro tratou de colocar o rapaz gay do grupo em um casamento saudável e feliz. Entretanto, há algo que lhe falta: aventuras sexuais. E é então que ele usa a Osmosis para buscar sua “alma gêmea”, que lhe completa. Mas apenas nesse sentido, uma vez que ele pensa que sua verdadeira alma gêmea é o seu marido. Um argumento extremamente fraco, que acaba sendo taxado como estereotipado.
O mesmo pode-se dizer de Ana (Luna Silva), a personagem “plus size” do grupo. O aplicativo acaba levando ela até um professor de ginástica, que aparenta ser de bem com a vida. E é então que o “mundo” da personagem se choca com os questionamentos sobre se ela é gorda, e se ela tem o direito de ser feliz com alguém como ele. Ou melhor, se há chances disso acontecer. Claro, recheado de discursos de mal humor e auto estima baixa. Dessa forma, há uma inferioridade no texto que acaba soando errado. Assim, ao invés de discutir um assunto importante, acaba mais uma vez por estereotipar.
Assim, passado 30 minutos de série, você percebe que o roteiro não cresce muito além daquilo. E personagens que poderiam se tornar interessantes, como a própria Esther, dão lugar a questionamentos e cenas caricatas de personas nulas como o seu irmão.
No fim das contas, a série é sobre romance. Porém, não existe uma narração simples, que define o personagem. E é então que a série se perde ao tentar fazer mais do que uma narrativa simples para seus personagens. Assim, ela se torna uma série com “muita pompa” para no final das contas oferecer um enredo simples, familiar, em muitos momentos bregas e mal executados.
Desperdício
Dessa forma, a mensagem que ela gostaria de passar se perde. A série quer destacar que o ser humano não precisa ser limitado ou definido pelo o que a tecnologia nos proporciona, bem como pelo o que a sociedade dita. As vidas de cada ser humano é conduzida da forma como lhe bem convém. Porém, esses ensinamentos ficam ofuscados pela frustração de acompanhar uma história que é desenvolvida de forma fraca do início ao fim.
Uma pena. A sensação é de potencial jogado fora. Quem sabe da próxima vez os franceses acertam?