Crítica: Série do Amazon, Good Omens é um exemplo de adaptação consciente
Crítica da série Good Omens, da Amazon Prime Video.
Good Omens acerta em cheio!
Você gostaria de viver em um mundo onde Frances Mcdormand é Deus? Aposto que esse mundo seria tão divertido que até Satanás seria um Benedict Cumberbatch da vida! Se essa ideia de atrai, Good Omens é o lugar certo para você.
A nova minissérie do Amazon Prime Video adapta a história do livro Belas Maldições de Neil Gaiman e Terry Pratchett. Tal trama narra a saga de um anjo e um demônio, que tentam impedir o fim do mundo. Mas vale ressaltar, por motivos pessoais. Com seis episódios, a série nos mostra um grande domínio do gênero e das adaptações literárias.
É o fim do mundo!
Um dos primeiros fatores que pesam de forma muito positiva para a série é o domínio que ela tem de sua própria história. Tal fato, inclusive, pode ser creditado à participação do autor do livro na produção. Em momento nenhum os longos episódios de cinquenta minutos perdem o público graças a maneira magistral em que todos os fatos são apresentados e desenvolvidos.
No mundo das séries, é muito comum encontrar um programa que trás duas narrativas paralelas nos episódios. Lembre-se de formatos como Lost e seus flashbacks… Porém, algo mais comum ainda é levar o público ao tédio com tal segmento. Em Good, mesmo que seja de muito interesse da audiência acompanhar os flashs para o passado da dupla, isso não impede em momento nenhum o aproveitamento da trama principal. Inclusive, os episódios – em especial o terceiro – sabe dominar muito bem esse desejo do público por mais informações e nos recompensa no momento certo.
Com um começo muito forte e consistente, Omens só começa a dar pequenos sinais de cansaço narrativo bem no finalzinho, o que rapidamente é abafado pela conclusão das histórias. A escolha por seis episódios pode ser aberta a debates, mas parece ter salvado a série de ficar rodando em círculos por um tempo.
O time dos sonhos
Mais uma vez mostrando sua consciência própria, Good Omens sabe que um dos seus fortes é o elenco. Com essa informação, eles sabem trabalhar perfeitamente os nomes de peso que escolheram como protagonistas e logo no primeiro episódio o público se vê ciente e torcendo pela amizade dos dois – que de inicio aparenta ser improvável, mas com o tempo podemos mudar essa percepção.
Michael Sheen parece ser um pouco estereotipado para a comédia mas com esse papel, o anjo Aziraphale, ele mostra que realmente é um talento. O personagem carrega o que entendemos como “características boas” mas não se prende a isso e consegue trabalhar todas as pequenas sutilezas do anjo. David Tennant, por outro lado, consagra o que todos já sabíamos: ele pode se dar bem em qualquer papel. Seja o mocinho absoluto, como em Doctor Who, ou o vilão absoluto, em Jessica Jones, você torce por Tennant porquê ele é bom. Em Omens, não é diferente. Seu personagem, o demônio Crowley, tem todas as nuances necessárias para o personagem extremamente carismático que acompanhamos ao longo dos episódios.
Existe um desafio em adaptar um livro com menos de trezentas páginas para quase seis horas de televisão. Nesse processo, é natural que se adicione conteúdo que ocupe certos espaços. Nesse sentido, é sentida a falta de mais tempo de tela para bons atores que poderiam trazer bem mais para a trama, como Jon Hamm interpretando um anjo e Nick Offerman interpretando um dos humanos da trama.
Além disso, cercados de atores desse calibre, ainda encontramos uma dupla que interpreta dois personagens descendentes de importantes nomes na trama. Os desconhecidos Jack Whitehall e Adria Arjona, assim, acabam por serem sufocados pelos grandes nomes do elenco e não apresentam grandes momentos nem personagens carismáticos, ficam na média.
Tecnicamente falando…
Nos quesitos mais técnicos, a série se sobressai em alguns pontos e encontra dificuldades em outros. A trilha sonora, por exemplo, conta com a gigante participação do Queen. Algo que é muito bom. Além disso, as músicas introduzidas nas cenas do demônio de Tennant costuram momentos importantes. E as letras conversam de forma genial com as cenas apresentadas. Queen é sempre uma boa escolha.
Em se tratando de uma adaptação de livro, sabemos que grande parte das escolhas visuais foram feitas para a série. Elas são ótimas! A maneira que brincam com as cores do “bem” e do “mal” é de um divertimento enorme. Uma das melhores atividades para o telespectador é acompanhar o demônio mudando sempre de visual ao longo dos tempos. Bem como, o anjo – a criatura mais “contida” – se mantendo praticamente igual por seis mil anos.
Contudo, ao assistir todos os episódios, temos a sensação de que a verba dos efeitos especiais foi toda guardada para o personagem de Benedict. Várias cenas apresentam efeitos aquém do esperado numa adaptação de Neil Gaiman para um serviço de streaming. Claro, principalmente se tratando de um número tão limitado de episódios. Entretanto, em alguns momentos, até deixa mais engraçado o estilo no sense da série. Mas ainda é algo que quebra a suspensão de descrença da série e nos tira do que está acontecendo na tela.
Se conhecer é essencial!
Good Omens, desde o começo, traz algo que muitas séries demoram anos para encontrar: sua identidade. Muito disso se deve ao fato de já ter um material de base, claro. Já nos primeiros minutos, a série mostra a que veio. Bem como o tipo de história que pretende contar.
Com várias referências bíblicas e personagens históricos fazendo divertidas aparições, a série relata tudo com sua visão original. No caso, as visões de um anjo e um demônio que amam muito a Terra. O seu humor não é escrachado mas é extremamente divertido. Além disso, os personagens são, de certa forma, caricatos. Mas em nenhum momento eles parecem irreais e é nesse ponto que a série marca um gol lindo de se ver.
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O novo filho da Amazon Prime é uma mistura de ficção, humor, amizade e até religiosidade no formato de um grande filme dividido em seis episódios. A maior crítica que eu poderia fazer nesse momento é “que chato não ter mais deles”.
Como tudo demais é veneno, terminamos cientes de que a história foi bem contada. E que, se fosse esticada, talvez não aproveitaríamos tanto. Good Omens é um investimento muito bacana do Prime em um estilo diferente com um público fiel. Sem dúvidas, vale uma maratona incrível de um final de semana.