Crítica: Sintonia, série da Netflix, acerta em sua história mas peca em outros quesitos
Confira nossas primeiras impressões para Sintonia, nova série brasileira da Netflix. A atração é produzida pelo famoso nome musical Kondzilla.
Sintonia é a nova série brasileira da Netflix
Nessa sexta-feira, chega à Netflix a mais nova produção nacional, intitulada Sintonia. Ela foi criada pelo Kondzilla, um dos maiores canais do YouTube, em parceria com a produtora Los Bragas. Com seis episódios, a série promete mostrar mais sobre a periferia do nosso país, com a mistura de música e outros elementos.
Estive no tapete vermelho do lançamento da série, ocorrido no último dia 06 de agosto. Lá eu bati um papo com Rita Moraes, uma das produtoras da série e irmã da atriz Alice Braga. Na ocasião, ela ressaltou a importância que Sintonia trará a nível global, de como através das histórias os outros países se conectarão à atração.
O que esperar de Sintonia?
Vamos lá! Assisti aos três primeiros episódios e confesso que fui sem expectativa alguma. Não sou hipócrita em admitir isso, uma vez que não sou tão fã assim de funk, portanto rolou, sim, um certo “preconceito”. Pois bem, até que me surpreendi, positivamente dizendo.
Primeiramente, o que me chamou a atenção foi de, finalmente, uma produção nacional retratar sobre a periferia em São Paulo. Inúmeras produções – e em altas porcentagens – do gênero sempre buscam o Rio de Janeiro como cenário, senão vez ou outra Salvador. Já está na hora de nossas produções abordarem a realidade de outros Estados, saindo dessa bolha.
A história foca em Doni, um garoto da periferia, filho único de um casal de comerciantes evangélicos. O garoto sonha em tornar-se um grande nome do funk nacional, e o pontapé inicial de tudo é justamente mostrar essa sua saga. No entanto, pelo menos no primeiro episódio, outras tramas tiveram mais força. Tais tramas, apesar de secundárias, nos apresentaram um pouco mais dos outros dois protagonistas, Rita e Nando.
Não é apenas de funk que a história vive
Primeiro foi mostrado mais sobre a garota, que já deu pra ver que tem um passado sofrido. Pra mim, sua trama foi a mais envolvente, com sua melhor amiga sendo presa injustamente. Só achei que demoraram muito para mostrarem sobre o paradeiro de Cacau, por ter sido detida com o pacote de maconha da amiga. Entretanto, tenho que aplaudir de pé a cena em que a protagonista leva uma surra da mãe da jovem. A sequência foi muito bem feita e, pra mim, foi o ápice do primeiro episódio.
Nando é irmão de Rita e, por trás de um pai de família, é também envolvido com o tráfico. As coisas pioram ainda mais para seu lado, quando lhe é ordenado matar um policial. Esse plot eu também achei muito importante e precisa, explicitando essa guerra que é muito comum. Algo me diz que o personagem ainda pode surpreender com sua história, ainda mais nos próximos episódios.
Outra temática abordada é a religião. Como citado no começo da review, os pais de Doni são evangélicos, mas o destaque nesse quesito não fica para eles. A sequência de Rita frequentando a Igreja em que a amiga de sua mãe é pastora mostrou também a realidade desse universo. Mesmo que muitas pessoas humildes procuram esse tipo de religião para encontrar respostas, tais lugares, quando numa proporção pequena, encontram suas dificuldades.
Nem tudo são flores, e os defeitos não são poucos
Como citei, as tramas secundárias têm mais força, e isso não é bom. Eu mesmo até agora não me prendi à história de Doni propriamente dita. Por mais que o intuito é mostrar sua ascensão no funk, o garoto é ofuscado a todo momento. Sua trama ganhou mais relevância quando aparece na história a MC Dondoka, que nada mais é que uma fusão de Anitta e Ludmilla no início de suas respectivas carreiras. Falando na atriz (e também cantora), toda vez que aparecia em cena carregava o núcleo nas costas. Será que está tudo bem com a coluna dela?
Outros defeitos aqui a serem abordados são justamente as atuações. Ok, sei que muitos deles não são conhecidos ainda pelo público e tudo mais, só que em vários momentos tudo soou muito sofrido. Do elenco jovem e principal, Bruna Mascarenhas, que interpreta Rita, conseguiu sua reviravolta. A atriz, carioquíssima da gema, soou totalmente forçada no primeiro episódio, tentando se adequar ao perfil de uma jovem paulistana. Isso me lembrou muito o que aconteceu recentemente com Claudia Raia em Verão 90. Paulistana, a veterana encontrou dificuldades no início da novela da Globo em se adequar a uma perua totalmente carioca. Felizmente, Bruna conseguiu nos episódios seguintes se encontrar, uma vez que sua personagem tem uma importância grandíssima.
Pelo fato dessa primeira temporada ser bem curta, senti que pecaram também na inconstância em relação aos acontecimentos. Muita coisa ali se passa e desenrola rapidamente, enquanto outras que não haviam necessidade para tanta enrolação.
Vale a pena assistir a série?
Está sendo muito bacana ver mais produções brasileiras ganharem destaques, e com certeza essa não será exceção. A atração tem tudo para chamar a atenção, mesmo com muitas atuações sofríveis. Se acontecer, será principalmente vindo de outros países, uma vez que o funk vem ganhando certa notoriedade no cenário internacional.
No entanto, quero muito que Sintonia ganhe força nos demais aspectos. Não é desvalorizando o fator musical, mas as tramas secundárias me chamaram muito mais atenção do que a principal.