Crítica: Sombra e Ossos é fantasia bonita, mas confusa
Sombra e Ossos, da Netflix, enche os olhos com belo visual, mas confunde com muitos nomes e conceitos. Estreia, porém, tem personalidade.
Sombra e Ossos vale a pena?
Estabelecer fantasias é tarefa difícil. Ainda que elas sejam baseadas em livros ou universos já criados, passar um mundo e seus personagens para as telas é missão difícil.
Sombra e Ossos, nova série da Netflix, nos relembra o quão complicado é amarrar uma narrativa coesa e objetiva tendo tamanha mitologia por trás. Neste sentido, um dos maiores problema do projeto é justamente ter muita coisa para mostrar e discutir.
Harry Potter, Star Wars e O Senhor dos Anéis, por exemplo, funcionam muito bem pois começam por baixo. De forma simples, suas histórias e personagens começam com calma, em narrativas mais tranquilas e acessíveis. Uma Nova Esperança, por exemplo, é o primeiro capítulo de um dos universos mais ricos do Cinema. Mas caso paremos para analisá-la, trata-se de uma fantasia muito simples: são poucos nomes, cenários reduzidos e conflitos bem estabelecidos. Embora haja um mundo gigantesco por trás, a primeira parte da saga nada mais é do que a trajetória de alguns personagens do ponto A ao ponto B. Sem muitos desvios.
Muitos nomes e conceitos tornam a experiência confusa
Prova de que esta abordagem funciona é que quando George Lucas decidiu tornar Star Wars mais político e complexo, o público torceu o nariz. Olhe para Ameaça Fantasma e verá uma trama que não sabe para onde vai ou o que fazer com o que tem em mãos. Algo semelhante acontece com Shadow and Bones. Baseada na saga literária Sangue e Ossos, de Leigh Bardugo, a nova aposta da Netflix assusta logo de cara, quando vários nomes – de pessoas, lugares, objetos, etc. – são jogados na tela sem muita cerimônia.
Na trama, acompanhamos a jovem Alina. Aparentemente normal, a moça tem a vida virada de cabeça para baixo quando descobre ser uma Grisha. Grishas são capazes de controlar determinados elementos, o que divide o grupo em subgrupos. Alina, entretanto, se destaca por ser uma Conjuradora do Sol. Trata-se de uma habilidade raríssima que a torna especial e alvo ao mesmo tempo. Sabe aquela velha história do Escolhido? Pois é.
Personalidade da série e personagens é o que garante o retorno para novos episódios
Apesar de ser confusa aqui e ali, Sombra e Ossos tem personalidade suficiente para se destacar das demais. Inspirada em parte pela Rússia Imperial, a mitologia da saga busca estabelecer um universo rico em detalhes sociais, políticos e econômicos. Não se surpreenda, portanto, caso o conflito entre nações se assemelhe a uma guerra real. Neste sentido, apesar da complexidade, Sombra e Ossos é uma fantasia muito próxima do nosso mundo. Apesar de poderes, criaturas e elementos sobrenaturais, a saga tem pés no chão.
A ligação se dá, aliás, pela cronologia: o universo de Ravka, Fjerda e outros parece estar em um tempo semelhante ao nosso século XIX. Não há, portanto, a pegada medieval de tantas outras aventuras. A abordagem que investiga a cultura russa, portanto, chama atenção pela originalidade e ligação com elementos reais do nosso mundo.
Sombra e Ossos é tecnicamente irretocável
Nesta perspectiva, Sombra e Ossos faz uma excelente criação de mundo. Os cenários são grandiosos e ricos em detalhes, ponto para a direção de arte caprichadíssima. O mesmo pode se dizer da fotografia, que busca estabelecer visuais diferentes para cada nação. Um dos pontos que mais chamam atenção e merecem elogios, entretanto, são os figurinos. Bebendo nessa fonte que se inspira em elementos reais, as roupas trazem detalhes originais que deixam claro o tom único e fantasioso da obra. Os chapéus altos e de peles, tipicamente russos, são facilmente reconhecíveis, mas trazem características próprias da série.
Sombra e Ossos enche os olhos e diverte, embora confunda com tantos nomes, lugares e conceitos. Com o tempo, é possível que fique mais fácil de compreender o que acontece na trama. Quando este momento chegar e tudo ficar mais compreensível, é provável que a série cresça e se torne realmente imperdível. Por hora, vale a pena acompanhar as aventuras de Alina e seus coadjuvantes. O elenco jovem segura a barra e não vai decepcionar. Só preste atenção e vá de coração aberto. Se você tiver outras coisas na cabeça ou pouco interesse, a série não fará o favor de chamar sua atenção.
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