Crítica: Stranger Things 4 prova que é a melhor série da Netflix

Volume 1 da quarta temporada de Stranger Things estabelece a série como a maior e melhor série da Netflix.

Stranger Things

Quase três anos após a terceira temporada, Stranger Things retorna como se nada tivesse acontecido e como se ainda fosse uma das maiores séries da televisão. E isso acontece pelo simples fato de que ela ainda é, indubitavelmente, um dos maiores títulos da cultura pop moderna.

Em seu quarto ano, a criação dos irmãos Duffer se mostra mais segura do que nunca, atingindo o ápice de suas faculdades narrativas e visuais. Com sete episódios bem recheados, o primeiro volume da penúltima temporada de Stranger Things é um deleite para os fãs que aguardaram bastante tempo por seu retorno.

Um dos segredos para a solidez de Stranger Things é o caráter familiar e robusto empregado em seus bastidores. Enquanto o escopo da história cresce a cada novo capítulo, a feitura é quase artesanal. Se prestarmos atenção nos créditos, veremos que os irmãos Duffer escrevem, produzem e dirigem tudo com apenas alguns colaboradores. Shawn Levy é o mais antigo e acompanha a dupla desde a estreia.

Mantendo o círculo de criadores pequeno, cria-se uma bem-vinda linearidade de detalhes. Além disso, vale apontar que Matt e Ross Duffer são mestres da antecipação, sabendo estabelecer cenários e situações com talento e facilidade raros.

Stranger Things 4 temporada
Imagem: Divulgação.

Todos os núcleos funcionam e caminham para um clímax imperdível

Os primeiros episódios do volume 1, aliás, provam este ponto. Encontrando vários dos personagens principais em situações novas, os Duffer logo encontram o ritmo para acompanhar cada núcleo. O mais importante, entretanto, é a capacidade do roteiro em deixar todos em pé de igualdade e importância. Assim, não demora para que o núcleo com Eleven seja tão envolvente e bem desenvolvido quanto o de Dustin, Nancy, Hopper e companhia.

Neste sentido, os irmãos continuam investindo em uma fórmula que funciona e que eles têm aperfeiçoado desde o primeiro ano: a dos núcleos que caminham separados até se encontrarem no clímax em comum.

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Bebendo na fonte de O Senhor dos Anéis e outras sagas épicas recheadas de aventuras e personagens, Stranger Things busca acompanhar todos os personagens com o mesmo cuidado. Para completar, o texto, direção e atores tratam de garantir os conteúdos emocionais de cada situação, estabelecendo fortes conexões entre as narrativas e o público. Com isso, torcemos por todos na mesma medida e mergulhamos em tensão, enquanto aguardamos para que determinado núcleo volte a ser mostrado.

Caso algum personagem não apareça, é porque o roteiro precisa que ele não dê as caras. Nesta perspectiva, Stranger Things dá uma aula à Euphoria, que jamais consegue estabelecer um padrão entre seus personagens, que acabam mal desenvolvidos ou totalmente esquecidos.

Stranger Things

Nova temporada abraça os horrores da ficção e da realidade

Neste quarto ano, como já discutido amplamente, Stranger Things abraça o horror sem amarras. A mais óbvia das inspirações é A Hora do Pesadelo. Do clássico de Wes Craven, a série tira várias de suas novas investidas. Além das enormes garras de Vecna, o próprio conceito do vilão que invade o subconsciente e ameaça com ilusões é muito próprio de Freddy Krueger.

Para completar, o próprio visual e a voz do inimigo parecem retiradas de um pesadelo na Elm Street. E não é só daí que a nova temporada retira suas inspirações. Outros clássicos do gênero são referenciados direta ou indiretamente.

São as referências a terrores reais, entretanto, que elevam o quarto ano de Stranger Things. A série se mostra, mais do que nunca, ciente de seu tempo. Mas não só o tempo em que a história é ambientada, mas do período em que é lançada. Assim, é com bastante alívio e uma ponta de orgulho, que uma série tão popular e divertida resolva entregar alguns discursos fortemente sociais e políticos.

Desta forma, ao vermos Jason discursar efusivamente sobre bons costumes, versículos da Bíblia e justiça com as próprias mãos, somos jogados diretamente ao presente. A série, então, encara Jason como um vilão, uma pessoa perigosa que vive no mundo real, e não no Invertido. Ao estabelecê-lo como antagonista, o programa se mostra corajoso ao pintá-lo como o típico cidadão norte-americano e conservador. Daqueles que citam Deus apenas para, em seguida, clamar pela morte de pessoas inocentes.

Personagens recém-chegados já roubam a cena e elevam a ação

Outro aceno à realidade é o fato de Eddie ser perseguido apenas por ser um fã de jogos e rock. É impossível, portanto, não lembrar do caso dos acusados de Memphis, jovens injustamente condenados por crimes hediondos. A maior prova de seus supostos crimes? Gostar de preto, rock pesado e elementos obscuros.

Stranger Things, então, reafirma sua característica mais marcante: a de abraçar e homenagear aqueles que sofrem bullying, que são ignorados pelos mais populares e encontram na cultura um jeito de escapar. A série não esquece, portanto, e sugere, mais de uma vez, que os demogorgons e Vecnas estão por todos os lugares e podem estudar ou trabalhar ao seu lado.

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Jason é um personagem novo, assim como Eddie, Argyle e outros. É com alívio, portanto, que constatamos que todos os recém-chegados funcionam e já garantem seus espaços entre os favoritos dos fãs. Eddie é um poço de carisma, enquanto Argyle garante bons alívios cômicos. Jason, por sua vez, é um bom vilão e faz jus aos clássicos bullies dos anos 1980.

Entre os rostos antigos, quem menos aparece acaba sendo Will e Mike. Enquanto Dustin, Lucas e Max acabam participando ativamente das investigações, Will e Mike ficam com uma tarefa relativamente simples e monocórdia, que é resgatar Eleven.

Volume 1 prepara o terreno para o início do fim de Stranger Things

Com alguns diálogos expositivos que escancaram artificialidade, Stranger Things comete pouquíssimos tropeços. Assim, a série chega ao seu quarto ano como o melhor e principal título da Netflix. Além disso, vale ressaltar como o formato de lançamento da plataforma funciona para a série. Stranger Things é uma série extremamente “maratonável”. Assisti-la em uma ou duas tacadas é um dos maiores prazeres televisivos.

A série, enfim, talvez represente uma tradição que se extingue, sendo o último de seu tipo. Pouca ou nenhuma série atual engaja o público como ela, tampouco desperta a vontade de uma maratona. Prova do poder do projeto é o fato deste permanecer relevante e na boca do povo por quase três anos entre a terceira e a quarta temporadas.

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Belíssima, a quarta parte de Stranger Things traz a melhor fotografia da série até aqui. Cinematográfico, o programa esbanja em luzes e sombras, além de entregar alguns dos melhores efeitos visuais jamais vistos até então. Para completar, o trabalho de direção de Matt e Ross Duffer é seguro e criativo, representando o mais alto padrão do que pode ser encontrado na TV atual.

Além disso, a quarta temporada traz alguns dos momentos mais bonitos e bem filmados da série. O Mundo Invertido visto no quarto ano, por exemplo, é o mais interessante e bem explorado até agora.

Preparando o terreno para o aguardado segundo volume, Stranger Things se despede temporariamente deixando todos os seus núcleos em notas altas. Com os dois capítulos que restam, a quarta temporada tem tudo para ser uma das melhores da série. Uma espera de um mês nunca pareceu tão longa.

Nota: 5/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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