Crítica: The Crown entrega temporada divisiva e polêmica

Quinta temporada de The Crown se divide entre a crítica severa e a passada de pano displicente. No final, entrega temporada polêmica.

The Crown

Poucas obras artísticas tem a chance que The Crown tem. A série da Netflix pode cobrir décadas de história, desenvolvendo personagens e acontecimentos na mesma tapeçaria narrativa.

No processo, Peter Morgan, o criador da série, tem a oportunidade de recriar os desdobramentos políticos, sociais e culturais do Reino Unido. Tudo, é claro, tendo a Família Real como foco principal.

Grandes épicos literários já cobriram anos e anos de história. Cem Anos de Solidão, Os Miseráveis e outros abordaram as transições e duelos geracionais com maestria. Neste sentido, The Crown é um drama ambicioso que troca o elenco a cada duas temporadas, avançando a narrativa enquanto as épocas passam deixando marcas e ensinamentos.

Assim, a série que começou pouco depois da 2ª Guerra Mundial e trouxe Winston Churchill, agora chega aos anos 1990 com o mesmo frescor e urgência de antes.

5ª temporada se divide entre a crítica e a “passada de pano”

Morgan, chefe da série, já afirmou em entrevista que não pretende abordar assuntos muito recentes. Para ele, nenhum evento com menos de 20 anos deve ser dramatizado. Isso porque os fatos precisam de tempo, contemplação e discussão antes de serem encenados.

A quinta temporada de The Crown, portanto, comprova a teoria do autor. Isso porque os novos episódios da série parecem constantemente sob pressão, já que os escândalos são muito recentes.

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Desta forma, enquanto tecem duras críticas à Família Real, os roteiros tentam amenizar alguns dos assuntos mais espinhosos. A estratégia pode ser boa e desastrosa na mesma medida. Costurar personagens complexos e multifacetados torna a narrativa mais interessante e envolvente, claro, mas a linha é tênue.

Em outras palavras, enquanto tenta tornar os monarcas mais humanos, também ameniza seu erros.

O quinto capítulo, por exemplo, que traz o escândalo envolvendo gravações telefônicas de Charles e Camilla, se divide entre criticar o príncipe e torná-lo uma figura pública e amada. Neste aspecto, o episódio se desenrola com estas duas frentes, entre tapas e beijos.

Assim, não deixa de ser uma leve covardia por parte da série que Charles surja como um arauto das causas sociais justamente no episódios em que sua traição fica evidente.

The Crown conta as polêmicas mais recentes da família real

O fato é que, ao tratar de histórias recentes, as controversas tendem a ser maiores. As pessoas lembram. Elas estiveram lá, leram os jornais. Por isso, consideram ser testemunhas confiáveis da história. Desta forma, muitos julgam saber mais ou melhor sobre determinados temas ou acontecimentos.

Com isso, o quinto ano de The Crown dificilmente vai agradar a todos. Os simpatizantes da Coroa vão criticar a série pelas duras críticas feitas à família. Já os críticos vão desaprovar o programa por eventuais “passadas de pano”.

A divisão entre público e crítica é natural, principalmente no ano em que a Rainha faleceu, e seu filho, Charles, assumiu o trono. A opinião pública está sensível – e todos se julgam representantes da verdade. Ainda assim, The Crown faz um brilhante trabalho de recriação de época.

Além disso, apesar de Elizabeth se tornar uma coadjuvante de sua própria história, a série acerta ao focar em outros membros da família. Philip e Charles por exemplo, representam alguns dos melhores momentos da temporada. Margareth, entretanto, segue sendo um dos pontos mais baixos e frágeis da série. Sempre que o roteiro se debruça nela e em seus dramas, o show perde ritmo e interesse.

Recriação de época e Diana estão entre os pontos altos

Tecnicamente impecável, The Crown segue irreparável na recriação de personagens e momentos. Vale apontar, por exemplo, que quanto mais recente é a história, mais complexa é a recriação de lugares e figurinos, dada a proximidade com os dias atuais. Ainda assim, a série faz um trabalho belíssimo ao dar vida à década de 1990.

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Mas nada disso funcionaria sem um elenco talentoso. E, como de hábito, há boas atuações de sobra por aqui. Elizabeth Debicki, arriscamos em dizer, talvez seja a melhor e mais fiel versão de Diana já vista nas telas. Seus trejeitos são exatos, sua voz é precisa e cada detalhe parece alinhado com a versão original da princesa.

Outro que acerta o tom é Jonathan Pryce, que regula seu Príncipe Philip com inteligência. Sua versão está sempre entre a candura e a dureza, entre a sensibilidade e o profundo amargor. Dentre os personagens, talvez seja o mais complexo.

Rainha se torna coadjuvante entre tantos personagens e escândalos

Imelda Staunton passa boa parte da temporada ofuscada por seus parentes. Sempre que aparece, entretanto, faz um retrato sensível da rainha. Sua tarefa é árdua, já que esta é a versão de Elizabeth que melhor conhecemos. Ainda assim, Staunton vive a monarca numa mistura complexa de rigidez e bom humor, bem ao estilo da Rainha que conhecemos nos últimos anos.

Sendo a temporada mais polêmica até aqui, The Crown chega em seu momento mais delicado e arriscado. Ainda assim, segue com texto firme e visual impecável. Carregando o peso da história e das polêmicas, The Crown acaba sendo um dos programas mais curiosos e importantes da televisão moderna.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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