Crítica: The Dropout é imperdível e uma absurda história real

The Dropout é história real mais estranha que a ficção. E Amanda Seyfried brilha na melhor atuação de sua carreira.

The Dropout

Há algumas histórias reais que são muito absurdas para serem verídicas. Em alguns casos, precisamos nos render às pesquisas para nos certificarmos de que não estamos sendo enganados. Com The Dropout, minissérie disponível na Star+, o ato de checagem é constante. As ações e efeitos vistos no programa são tão insanos que não conseguimos conceber muitos deles no âmbito da realidade.

A primeira pergunta que salta é: como diversas empresas e pessoas deram milhões de dólares nas mãos de uma jovem cujo projeto não funcionava? Como alguém investiu em algo que simplesmente não existia?

Na trama, acompanhamos Elizabeth Holmes, uma jovem com futuro promissor. Ela tem boa família, é inteligente e foi para Stanford. Durante a faculdade, ela tem uma ideia e resolve colocá-la em prática, mesmo que não tenha dinheiro ou capacidade técnica e intelectual para fazê-la.

À época, ela conhece Sunny, um empresário que tirou a sorte grande quando vendeu uma antiga ideia e, assim, ficou com tempo livre e dinheiro de sobra. Holmes larga a faculdade e, sem demora, abre sua própria companhia para, então, dar início à sua ideia.

The Dropout é o retrato de um mundo que investe na mentira

E a ideia era boa. Na teoria, Holmes gostaria que uma gota de sangue fosse o suficiente para a realização de diversos exames que, normalmente, levam dias para serem feitos e utilizam maiores quantidades de sangue. A tal gotinha iria para uma máquina portátil, pequenina e com poucos botões. Lá, a tecnologia faria a leitura em poucos minutos e o exame seria emitido.

O problema é que a máquina nunca funcionou. A bem da verdade, é possível que ela tenha funcionado uma vez, e mesmo assim sob fortes influências externas e provavelmente por acidente.

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Assim, o projeto de Holmes era um fracasso. Foi um fracasso desde o início e assim permaneceu por anos. Ainda assim, Elizabeth conseguiu montar um império e em pouco tempo se tornou uma das mulheres mais ricas do mundo. Criou a Theranos, uma enorme empresa, e abocanhou fatias enormes de investidores. Um dos patrocinadores colocou mais de 100 milhões na companhia de Holmes, mesmo sem nunca ter visto a máquina funcionar.

Amanda Seyfried está impecável no papel de empresária farsante

The Dropout, portanto, é excelente por traçar um retrato absurdo da sociedade moderna. Vivemos a era em que as pessoas não vangloriam pessoas, mas empresas. Hoje, o público não é fã de um artista, mas de uma companhia. Muitos “surfam na onda” que tipos como Steve Jobs criaram. A própria Elizabeth Holmes era fã ardorosa de Jobs. Seu jeito de agir, falar e se vestir mimetizava o do criador da Apple. Holmes era uma ideia, algo que ela e os outros projetaram. Assim como sua máquina, Holmes nunca existiu de fato.

Sua voz era uma farsa. É notório que a jovem engrossava a voz para parecer mais velha e experiente. E Amanda Seyfried dá um show ao personificar a empresária. A atriz, aliás, merece todos os elogios e prêmios por sua performance cirúrgica de Holmes. Seyfried modula a voz e se move como Elizabeth. Basta ver vídeos da moça real para ver o brilhantismo do trabalho da atriz.

Vale apontar, ainda, que Seyfried não imita a Elizabeth Holmes real. Ela encarna o personagem e dá suas próprias nuances à mulher. Compare seu trabalho com o de Viola Davis em The First Lady, onde a atriz apenas imita os trejeitos de Michelle Obama.

Minissérie é um absurdo que precisa ser contado hoje

Por seu teor absurdo, The Dropout é enérgica, envolvente. Acompanhá-la é como assistir um thriller eletrizante de ficção. Cada episódio traz uma reviravolta diferente e cada personagem é mais icônico que o outro. Assim, não é só Seyfried que brilha. Naveen Andrews está excelente, ao passo que Sam Waterston, Stephen Fry e William H. Macy roubam também a cena.

Juntos, estes personagens foram uma galeria que ficção nenhuma seria capaz de criar. Assim, The Dropout se junta a Dopesick como as séries sobre a indústria e as mentiras que nos contam.

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Para completar, The Dropout é a exceção de uma regra que seguidamente comentamos por aqui. Defendemos que algumas histórias reais precisam de tempo para serem levadas às telas. O criador de The Crown, por exemplo, acredita que seja preciso 20 anos para que consigamos interpretar e, enfim, dramatizar eventos reais. Um dos problemas de The First Lady, inclusive, era justamente ficcionalizar momentos muito recentes. Tempo, afinal, coloca as coisas no lugar e só assim entendemos seus desdobramentos.

The Dropout, entretanto, relata fatos muito recentes. Os últimos detalhes da história, por exemplo, aconteceram este ano, em 2022. Ou seja, trata-se de um drama que ainda está sendo escrito. The Dropout é diferente das outras por um simples fator: urgência. A minissérie conta uma história atual que precisa ser contada agora.

É um absurdo que aconteceu e tem acontecido com frequência no mundo corporativo. Neste sentido, The Dropout é como A Rede Social, de David Fincher: é um épico que precisa ser contato enquanto ele acontece!

Do contrário, ninguém acreditaria!

Nota: 5/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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