Crítica: 3ª temporada de The Good Fight é um acerto em todos os sentidos
Depois de duas temporadas maravilhosas, The Good Fight retorna com uma terceira temporada cheia de promessas e boas perspectivas. Será que cumpre?
‘Isso não é normal. Isso não é normal. Isso não é normal’. Esse é praticamente um bordão diário que digo para me manter consciente e não me distrair com bobagens. Seja no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido ou em qualquer outro lugar do mundo é cada vez mais difícil encontrar pessoas que saibam explicar o que está acontecendo. Ansiedade que aflora quando lê o jornal ou escuta as notícias do dia. Precisa-se de um escapismo diário para não enlouquecer de vez. ‘Verdade não é verdade,’ disse o advogado do presidente Trump há alguns meses na televisão. Felizmente temos The Good Fight para mostrar que a boa luta ainda importa e é necessária ainda mais.
Desde o início da terceira temporada, ficou claro que o roteiro continuaria fazendo seu comentário político acerca do que vem acontecendo no mundo real. Erosão da democracia, total desapego aos fatos e as leis e uma necessidade enlouquecida de resolver os problemas em contraposição às instituições. Tudo temos neste ano. Contudo, a série vai além e resgata um dos ingredientes que tornaram The Good Wife tão boa: comentário social. É claro que ele sempre esteve lá, haja vista o esclarecedor debate sobre violência policial que tivemos no primeiro ano. Contudo, não com a mesma personalidade que The Good Fight trouxe nesta terceira temporada.
Dois dos episódios que mais me incomodaram, no bom sentido, foi The One with Lucca Becoming a Meme e The One where a Nazi Gets Punched. Ambos propõe uma difícil, porém necessária conversa sobre equidade salarial entre negros e brancos, homens e mulheres e a tradicional disputa de classes. Pode parecer conversa de socialista, mas o roteiro resolve fazer diferente do tradicional e propor uma conversa difícil e um tanto desconfortável para quem assiste.
Encarando o problema de frente
Será que você, querido leitor, já lidou com o fato de ser privilegiado por um sistema fundamentalmente comprometido? Este que vos escreve, um homem branco, teve que confrontar essa questão ao ver esse debate imperando durante todo o episódio. ‘Será que eu não agi daquela forma? Ou falei aquela bobagem?’ Certamente são questões delicadas porque sempre mexem com o emocional das pessoas. Contudo, acredito que a proposta aqui vai muito além da vontade de causar polêmica ou criar discussão. A ideia de The Good Fight sempre foi, e acredito que sempre será, propor o auto conhecimento e a reflexão.
Seria ótimo que séries trouxessem essa proposta mais vezes. É verdade que temos diálogos bastante interessantes sobre racismo e problemas sociais em séries como The Neighboorhood ou na já finalizada Superior Donuts. Contudo nada como temos aqui. Uma conversa honesta, objetiva e feita para te deixar bastante desconfortável. Confesso que me senti dessa forma durante todo o episódio, o que realmente me ajudou a crescer como ser humano. Além disso, foi reconfortante ver Jay socando um nazista.
Eu vim para arrasar
Desde quando Michael Sheen apareceu no trailer da terceira temporada, fiquei intrigado com o que ele traria para série. Será que mais humor? Ou simplesmente uma performance arrasa quarteirão? Após assistir a Season Finale, acredito que ele trouxe ambas as alternativas, mas me surpreendeu ainda mais. Sabemos que o ator é espetacular. Arrasou em Masters of Sex, The Spoils of Babylon e promete fazer o mesmo em Good Omens e Prodigal Son. Contudo, ele conseguiu entender a missão que o roteiro incumbiu para seu personagem.
Ele não estava em cena para mostrar que nossos sistema jurídico tornou-se o pior dos espetáculos. Mas sim, personificou tudo o que há de errado no sistema. Ele representa a corrupção de moral e dos valores, a completa aversão às tradições e ao sentimento de vale tudo pelo poder. Seu poder é tão grande que ele corrompe a mais inocente e ingênua das personagens: Maya. Sua transformação começa desde o Season Premiere, com sua audição para bad girl, até o final onde abandona o normal, clássico e correto (Diane) para se juntar ao corrupto, rasteiro e trapaceiro Roland Blum.
É uma metáfora dos nossos tempos que não poderia ser melhor introduzida e desenvolvida. Então nos resta esperar 2020 para descobrirmos o que acontece quando a SWAT invade a casa de Diane e Kurt. Um brinde à Robert e Michelle King por mais um trabalho maravilhoso, perfeito e suntuoso.