Crítica: The Handmaid’s Tale tem 4ª temporada sólida, mas final duvidoso
Quarta temporada de The Handmaid's Tale termina com saldo positivo, mas deixa um final duvidoso no ar. Último ano é um dos melhores da série.
Até quando uma série deve existir? Em alguns casos, grandes sucessos chegaram ao fim enquanto estavam no auge (Breaking Bad), outras se estenderam além do ideial (Lost), enquanto algumas caminharam bem todo o tempo, e funcionariam com mais ou menos temporadas (Mad Men). Onde The Handmaid’s Tale se encaixa? A série da Hulu encerrou seu quarto ano em alta, mas com a inconfundível sensação de que o fim pode – e precisa – estar próximo.
A quarta temporada representou um ponto alto na trajetória do programa e marcou um dos melhores momentos desde a estreia. Ao finalmente abraçar novas abordagens e perspectivas, Handmaid’s Tale deixou de lado as amarras que prejudicaram a segunda e terceira temporadas. Ao sair de Gilead, a série – e June – puderam, enfim, crescer e explorar novas ideias. Fazia falta, por exemplo, mostrar como os locais vizinhos a Gilead estavam. O Conto da Aia, afinal, é uma distopia, mas pouco se via do teor quase pós-apocalíptico que rondava a trama e os personagens.
Série sai de Gilead e cresce com novas narrativas
Neste sentido, o quarto ano desenvolver as personagens fora de Gilead, e revelaram como várias das vítimas enfrentam os traumas de uma severa ditadura. Com isso, a série se dividiu entre a fuga definitiva de June e a vida no Canadá, longe do alcance dos Comandantes. Desta forma, The Handmaid’s Tale acabou aumentando o escopo e tornando-se mais épica. Saem os conflitos de câmara, que engessaram vários episódios passados, e entram as desavenças sociais e políticas. Agora, finalmente, temos ideia da relação entre o Canadá e Gilead.
Vemos, portanto, como a relação entre os países é, na verdade, uma Guerra Fria. Como uma bomba prestes a explodir, vemos que a realidade da série é muito próxima da nossa. Assim, ainda que o Canadá desaprove a filosofia de Gilead, o país pouco faz para lutar contra o regime do vizinho. Para completar, é visível que muitos canadenses apoiam as políticas de Gilead. É assustador, portanto, e um ponto positivo desta temporada, a sugestão de que a estilo de vida de Gilead poderia se estender para o resto do mundo com facilidade.
The Handmaid’s Tale segue um deleite visual, mas deixa alguns personagens de lado
Com o mesmo alto nível técnico de sempre, a quarta temporada explorou sua fotografia com o capricho habitual. Elisabeth Moss, inclusive, assinou alguns episódios, demonstrando grande talento atrás das câmeras. Nesta perspectiva, a série deve novamente se destacar no Emmy, levando uma porção de indicações ao prêmio. Do elenco, Moss deve – e merece – ser indicada ao prêmio de Melhor Atriz. E não se surpreenda caso ela vença. Sua atuação no capítulo Testimony, em especial, é de cair o queixo.
O roteiro, ainda que sólido na maior parte do tempo, não consegue lidar com todos os personagens e narrativas. Nick e Janine, por exemplo, embora tenham bom tempo de tela, não conseguem ter uma história fechada. É decepcionante, portanto, a forma como deixamos estes personagens em suas últimas cenas. As atuações de todo o elenco, entretanto, não decepcionam, e os destaques vão para Ann Dowd e Bradley Whitford, que mereciam mais tempo de tela juntos.
Final levanta sérias questões e parece forçado demais
Tudo nos leva ao desfecho da temporada que, apesar de entregar algo muito esperado pelos fãs, pisa em um terreno complicado através de uma duvidosa sequência. O fato é que a morte de determinado personagem, pelas mãos de quem vimos, acaba soando cartunesca demais, inacreditável demais. Pois a selvageria do ato acaba destoando de diversas personalidades. Ora, devemos presumir, então, que várias pessoas ali são assassinas frias e cruéis? Na tentativa de eliminar algo ruim, cria-se outras coisas ruins no lugar? É uma problemática que a próxima temporada precisa abordar.
The Handmaid’s Tale, portanto, chega ao fim com saldo positivo, mas com final duvidoso. Além disso, o episódio final mostra que, apesar de novas direções, a trama precisa se encaminhar para um final definitivo. Parece que qualquer coisa, daqui a para frente, será um passo além dos limites que poderiam ser alcançados. Assim, apesar de algumas pontas que precisam se amarrar, a narrativa central parece já ter atingido o seu máximo. Com isso, Handmaid’s Tale atinge um importante e satisfatório ponto com a excelente quarta temporada.
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Nota: 4/5