Critica: The Society, série da Netflix, é interessante mas peca na falta de ousadia
Confira crítica de The Society, nova série da Netflix.
Nova série, The Society é uma mistura de outras produções
The Society é a nova série da Netflix voltada para jovens adultos, inspirada no conto O Senhor das Moscas. Mas é possível encontrar similaridades com outras produções como Under the dome, Between, Lost, The 100 e até mesmo com a série literária Gone que pega emprestado alguns elementos do referido conto.
Escrita por Chris Keyser (Party of Five), The Society apresenta uma primeira temporada de 10 episódios com aproximadamente uma hora de duração. A história se passa em West Ham, uma cidade com um sério problema de mau cheiro de origem desconhecida. Enquanto o problema é sanado, surge a ideia de se fazer uma excursão com todos os jovens estudantes da cidade. Porém, devido ao mau tempo eles precisam retornar aos seus lares. Asim, logo eles percebem que o mau cheiro sumiu, bem como seus pais.
Com a cidade vazia e sem supervisão, a primeira decisão é unânime e os jovens promovem uma festa com álcool, sexo e drogas. É um momento de curtição e de apresentar as tramas dos personagens e seus problemas interpessoais. Porém, com a ressaca vem a reflexão. Eles estão isolados do resto do mundo e as reações são as mais diversas possíveis.
Em um primeiro momento, a serie estabelece toda a possibilidade de perguntas diante da estranha situação de isolamento dos jovens. Mas os motivos para tal evento se perdem ao longo da temporada. O foco se torna explorar a vida deles em sua nova condição, mas no fundo poucos são os desenvolvidos. É como se eles fossem objetos de estudo, depois que o caos se instala surge a necessidade de ordem.
Mas para que essa sociedade funcione é preciso uma liderança, e é então que nasce então uma disputa por poder.
Estudo sobre o comportamento humano
O que acontece quando jovens ficam sem supervisão? Não há segurança, ou a quem recorrer, caso algo trágico aconteça. Não há nenhum adulto para dizer “não” ou impor limites. Sendo assim, as pessoas acham que podem fazer tudo. Mas cada ação tem uma reação, e cada ato tem um consequência.
Inicialmente há um misto de preocupação sobre o sumiço de todos e um alívio por estarem sozinhos. Mas a medida que a euforia passa, a tensão começa a predominar. Quando todos chegam à conclusão que estão sozinhos e que a ajuda não virá, surge a necessidade de organizar uma nova sociedade e fazê-la funcionar, embora alguns estejam mais interessados nisso do que outros.
Uma rápida divisão entre homens e mulheres acontece e nesse contexto surge um discurso sobre feminismo e a importância da união das mulheres. Enquanto isso, os homens mostram sua masculinidade e liberdade através da selvageria primitiva. Mas essa separação é logo abandonada, assim que um crime acontece, mudando a dinâmica da convivência em grupo.
A série levanta questões sobre a natureza humana, o conflito do pensamento sobre bem individual e bem coletivo. A construção da ideia de democracia é difícil, afinal estamos falando de jovens. Cada um vem de uma realidade diferente. Existem os privilegiados, os desfavorecidos e os que ficam a margem da sociedade. Eles se envolvem em situações que levantam discussões e dilemas morais. Na construção dessa nova sociedade eles logo percebem que as falhas no sistema estão diretamente relacionadas com as falhas humanas.
Os problemas de The Society
O conceito da trama é ótimo, mesmo que percorra alguns caminhos cheios de clichês, os quais já foramo vistos em outras produções. Porém, a série perde a oportunidade em desenvolver discussões mais aprofundadas sobre socialismo, democracia, moral e outros temas apresentados. Ainda, falta ousadia no texto, que é conduzido de forma extremamente lenta. Vale ressaltar que tudo soa artificial, e nisso nenhuma trama escapa.
Os personagens centrais não ganham a devida importância ao longo da temporada e são poucos os personagens realmente atraentes. Alguns são mais desenvolvidos, enquanto outros são minimamente explorados em cima de clichês. A série também apresenta diversos núcleos e, com isso, um excesso de tramas que acabam não sendo bem exploradas. Tal fato acaba comprometendo o ritmo da série.
Na primeira expedição apenas descobrem que todas saídas da cidade desapareceram e a cidade está cercada por uma floresta que parece não ter fim. A segunda expedição ocorre apenas no final da temporada e, pela primeira vez, eles se aventuram na floresta e mostram interesse em descobrir alguma informação que tenha algum significado e importância para eles. A impressão é que eles se acostumam com a nova realidade e somente no final da temporada nasce o desejo de tentar descobrir alguma informação relevante sobre seu novo status.
Considerações finais
O sentimento final é de desanimo e desperdício de uma boa trama que foi mal desenvolvida. A série entrega pouquíssimas respostas e falha em conduzir e desenvolver o mistério central da trama. Além disso, a edição não contribui muito. Em um determinado episódio há uma passagem de tempo, mas parece que nada mudou. As transições de cenas algumas vezes têm cortes abruptos.
No final das contas, a série não é tão atraente. Tudo que é construído é interessante ao ponto de valer a pena explorar novos cenários, novas possibilidades e se aprofundar no desenvolvimento dos personagens. Mas é necessário mais ousadia para lidar com os temas propostos e desenvolvê-los.
A última cena levanta um novo mistério que pode ajudar a manter o interesse na trama, mas ali já é um pouco tarde para tal. Em uma possível segunda temporada, o roteiro precisa se arriscar mais e percorrer caminhos mais ousados para continuar falando sobre a natureza humana e desta vez, precisa de mais profundidade e complexidade. Ou se não, o sentimento de desperdício irá continuar prevalecendo…