Crítica: Them exagera na violência e não chega a lugar algum

Them, nova série de terror da Amazon, choca através da violência exagerada. Apesar de alguns sustos, série fica abaixo da expectativa.

Them

Série do Amazon vale a pena?

Enquanto as décadas rolam sem pausa, com anos se atropelando uns atrás dos outros, gêneros cinematográficos nascem e morrem regularmente. O musical, por exemplo, tem altos e muitos baixos. Por mais que tenha gozado de enorme popularidade em tempos idos, hoje os musicais parecem ter espaço no teatro e em algumas poucas e corajosas produções cinematográficas. Os filmes de ação também se renovam, os dramas buscam novas inspirações e a comédia se metamorfoseia conforme a sociedade avança. O gênero que só tem pontos altos é o terror. O terror é venerado sempre. Them é a nova série do gênero que promete levantar discussões dentro e fora do terror.

A grande sacada do terror é que todo e qualquer assunto pode ser enovelado em suas fórmulas. É possível falar de racismo, guerras, conspiração e economia através do terror. E o melhor: tudo com doses cavalares de diversão. Entre uma facada e outra, entre o sangue que espirra e as tripas que despencam, há comentários sociais que latejam em constância.

Série pesa a mão na violência 

Quando Carrie caminha pelo salão em chamas, coberta de sangue de porco, há um forte comentário feminista permeando cada fenômeno psíquico. Quando o Leatherface balança a serra-elétrica que corta o ar, ou quando a quadrilha de sádicos aterroriza uma família, o cinema está respondendo – e reagindo – ao Vietnã. Corra Nós reflete sobre o racismo contemporâneo enquanto Babadook discute a depressão que tanto assombra a sociedade moderna. Madrugada dos Mortos critica o consumismo, O Bebê de Rosemary discute a opressão masculina e O Iluminado aborda o vício enquanto catalisador da violência e do sobrenatural.

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Them, nova série da Amazon, bebe na fonte dos grandes títulos de terror para discutir as desigualdades sociais e o racismo que assola os Estados Unidos – e o mundo –  desde sempre. O que é mais assustador, afinal? Um demônio ou um grupo de mulheres suburbanas de vestidos coloridos e raiva enclausurada? Neste sentido, Them bebe na fonte que tornou-se famosa com os sucessos recentes de Jordan Peele. A diferença, porém, é que o cineasta de Corra sabe dosar o escapismo com a crítica social sem pesar nenhum dos pontos.

Em Them, entretanto, a balança é desigual. Enquanto capricha na direção e edição, pesa a mão na violência. Enquanto Nós Corra trazia a violência como tempero, Them a serve como prato principal. Com isso, o racismo e a violência deixam de ser comentários sociais e viram discursos de violência gratuita. Neste aspecto, a série da Amazon não conhece limites. Enquanto um diretor mais experiente e responsável cortaria a cena um ou dois frames antes, aqui vemos as maledicências na íntegra. O quinto capítulo, por exemplo, beira o insuportável.

Alguns sustos genuínos estão garantidos

Ainda assim, Them levanta algumas interessantes questões. Em um episódio, por exemplo, vemos um grupo de homens brancos discutindo o mercado imobiliário e como este pode ser transformado pela chegada de negros em bairros tidos como “brancos”. É o mais próximo que o roteiro pode chegar de uma crítica contundente e que não caia no lugar comum. Ainda assim, é pouco, principalmente se compararmos a investida com Lovecraft Country, sucesso da HBO que abordou o mesmo tema com mais capricho e segurança.

Vale apontar, entretanto, que Them conta com momento genuinamente assustadores, o que é raro em séries de terror. A figura de rosto pintado, por exemplo, sempre é uma presença que causa desconforto. O espectro que assombra a filha mais jovem é outro elemento que lateja e assusta. Estes pontos funcionam, em grande parte, graças à direção que capricha no aspecto técnico. Os movimentos de câmera jamais deixam de surpreender e a fotografia chama atenção.

Falta consistência ao roteiro que se preocupa demais em chocar

Falta ao roteiro, porém, um norte melhor definido. A impressão que fica, ao fim, é que não há uma narrativa bem estabelecida. Acompanhamos, portanto, uma série de sofrimentos sem uma costura geral. Para onde esses personagens estão indo? De onde eles vêm? Falta a Them a mitologia que enriquecia Nós Corra. Nos filmes de Peele há um conceito forte e bem estabelecido. São elementos narrativos tão fortes que extrapolam o cerco fílmico e ganham a internet através de análises, teorias e discussões.

Em Them há apenas o terror pelo terror em uma história que acha estar sendo muito esperta ou socialmente relevante.

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Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.