Law & Order: SVU surpreende (e acerta) ao focar em crimes de ódio
Tratando sobre crimes de ódio, Law & Order: SVU surpreende com muita força, objetividade e vontade de tratar temas difíceis com honestidade.
Os Estados Unidos de hoje é mais uma América pós-Trump do que propriamente a ‘América de Biden’. Faço tal constatação a partir dos problemas que o atual presidente enfrenta. Economia descompassada com inflação nas alturas. Divisão cada vez maior entre americanos comuns. Assim como dificuldade de aprovar leis em virtude da radicalização do partido republicano. Sem contar com o descontrole da pandemia. Tudo isso é uma herança maldita do ex-presidente. A descrença no Estado, a ideia de que seu vizinho é seu inimigo por votar diferente. São por essas razões que Law & Order: SVU acerta ao propor um episódio sobre crimes de ódio.
Em Silent Night, Hateful Night temos uma véspera de Natal sangrenta em Manhattan. Sinagogas são apedrejadas, negócios administrados por imigrantes destruídos e minorias escorraçadas no meio da rua. A onda de violência é tamanha que a Unidade de Crimes Especiais, que não lida com esse tipo de atividade, é escalada para ajudar na força tarefa. O grupo é liderado pelo chefe de polícia interino, mas com grande apoio da Unidade de Crimes de Ódio do bairro de Nova York. Será que eles vão dar conta da onda de violência em plena véspera de Natal?
Será um novo spin-off?
Vocês, assim como eu, aguarda ansiosamente a NBC resolver o futuro de Law & Order: Hate Crimes. A última atualização que tenho para compartilhar com vocês é de junho de 2020 quando o projeto foi colocado no Peacock. Outras fontes, contudo, dizem que a série foi cancelada da mesma forma que For The Defense: sem nem ter saído do papel. Seja como for, o material base evidenciado nesse episódio é incrivelmente forte, propositivo e importante para os Estados Unidos de 2022. Felizmente, temos Law & Order: SVU para manter assuntos desse tipo em evidencia.
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É importante lembrar que crimes de ódio aumentaram incríveis 100% na cidade de Nova York em 2020 pela violência contra comunidade asiática. O assunto, portanto, é relevante. Está na comunidade das pessoas. Nas igrejas, nas sinagogas, nos metrôs e na pizzaria. O roteiro é eficiente em entender como tratar de questões delicadas de forma corajosa, objetiva e sem perder a humanidade. Acredito que o roteiro poderia ter buscado um desempenho melhor do seu elenco, principalmente o coadjuvante sem muita experiência, faltou profundidade em algumas sequências.
É tudo sobre amor
O que continua me deixando profundamente frustrado é que o roteiro cisma em limitar seus personagens a peripécias amorosas. Amanda Rollins (Kelli Giddish) é complexa. Teve um crescimento difícil e uma relação conturbada com o pai. Mesmo assim, suas questões se limitam a homem. Seja Carasi (Peter Scanavino) ou Declan Murphy (Donal Logue), ela tem oscilado entre paixões, casos bem como sexo. Não sabemos como ficou sua família em Atlanta, tampouco se os filhos estão bem ou se são intolerantes a lactose. Mas não sabemos. E algo me diz que continuaremos sem saber, por pura preguiça dos roteiristas.
Em suma, tivemos o melhor episódio da temporada até aqui. Law & Order: SVU tem problemas, mas continua mostrando sua relevância ao não ter medo em tratar questões complexas de peito aberto. É preciso, contudo, lembrar que não estamos na PBS com direito a documentários elaborados sobre a sociedade americana. Isto é um drama de televisão que precisa, também, aproveitar seu talento e leva-lo ao limite. Por fim, ressalto que não é a toa que a última atriz a ganhar o Emmy foi Zendaya por Euphoria, cujo trabalho fala por conta.
Nota: 3.5/5