Santa Clarita Diet retorna mais equilibrada em boa segunda temporada

Crítica da segunda temporada de Santa Clarita Diet

Imagem: Netflix

[spacer height=”20px”]

O tempo passou e Santa Clarita Diet retornou surpreendendo muita gente. A comédia original na Netflix não é o tipo de programa que é aguardado pelo público, como Game of Thrones, cujos fãs contam os dias para assistir a próxima temporada. SCD estreou, se despediu e retornou sem muito alarde. Foi quando a segunda temporada chegou ao catálogo que muita gente percebeu: um ano já passou e SCD ainda existe. Não que o show seja ruim ou esquecível, mas trata-se de um produto inofensivo. Vejamos as tramas desenvolvidas neste segundo ano: ideias novas que vieram e foram sem grandes alardes, sem muito desenvolvimento. SCD, ironicamente, é como fast-food: é ótimo, mas não agrega em nada. É muito bom na hora, mas logo a fome volta e o sabor se perde.

Dito isso, afirmamos: a segunda temporada de Santa Clarita Diet é diversão garantida. Os risos estão lá, embora em menor frequência se comparados ao ano de estreia; o gore também se faz presente, mas também de forma mais contida. De um modo geral, é que como se SCD pisasse um pouco no freio e afinasse o instrumento: uns tons abaixo, outros acima, uns desarranjos aqui e ali e outros acertos. É uma série que ainda está se encontrando e, como todo projeto da Netflix, encontra seu ritmo de forma muito peculiar.

PUBLICIDADE

Ao contrário das séries tradicionais da TV, que dialogam com o público semanalmente, mudando seus rumos e estilos conforme o feedback da audiência, as produções da Netflix são produzidas e lançadas de uma vez só, como um filme. Assim, equipe e elenco têm um ano para estudar a recepção e adequar suas abordagens. Percebe-se, portanto, que SCD tenta consertar alguns de seus problemas iniciais (o excesso de violência e as atuações over de alguns atores), sendo bem sucedida na maioria das tentativas.

Assim, como toda comédia seriada tradicional, SCD se preocupa mais com piadas pontuais e situações de rápida resolução, criando uma leve mitologia que costura todos os capítulos. Na segunda temporada sabemos um pouco mais sobre a origem do problema que transformou Sheila em uma espécie de zumbi. Além disso, retomamos algumas tramas antigas, como aquela envolvendo o diretor da escola em que Abby estuda. SCD ainda apresenta uma série de novos personagens (alguns vêm e vão com rapidez considerável) e dá mais espaços a outros já conhecidos. O mais notável, contudo, é que vários coadjuvantes da primeira temporada somem ou pouco aparecem nos episódios do segundo ano.

O foco, portanto, recai nos personagens principais e em poucos alívios, como a cabeça falante de Nathan Fillion. Assim, Drew Barrymore retorna com a mesma leveza e bom humor de sempre, ao passo que Timothy Olyphant reduz o ritmo exagerado de seu personagem. O ator, que passava dos limites na temporada passada, consegue achar uma pegada mais aceitável, mas ainda assim desafina em alguns momentos. O fato é que Olyphant tem carisma enorme, mas funciona mais no drama do que na comédia.

SCD faz uma segunda temporada tão boa quanto a primeira, com direito a alguma melhorias. Falta ainda, um certo grau de urgência. Ainda que seja uma comédia, a série poderia se beneficiar de algumas tramas, colocando perigos maiores e mais duradouros no caminho dos Hammond. Uma das melhores ideias são os novos personagens que sofrem do mesmo mal de Sheila; os roteiristas, contudo, descartam rapidamente os novos nomes, pouco explorando as possibilidades que viriam do conceito.

E assim SCD segue suas resoluções rápidas, o que não é ruim, mas torna tudo mais efêmero: um dedo de Sheila é arrancado e logo é reimplantado e funciona perfeitamente; um personagem some, cria-se um mistério e logo reaparece; outro surge como ameaça e no mesmo capítulo se despede; o soro que impede a deterioração de Sheila logo é feito e mais nada sobre isso é discutido. Neste cenário, a segunda temporada apresenta diversas ideias, uma mais absurda e divertida que a outra: de uma cabeça que fala a uma bola de carne com patas. Faltava apenas desenvolver algumas com mais atenção.

No geral, Santa Clarita Diet faz uma boa segunda temporada. Não se compromete e muito menos se acha mais importante do que é, o que, no final das contas, é o melhor que a série pode fazer. Ótima para uma maratona, SCD veio, foi embora, voltou e já se foi novamente. Caso seja renovada, nos lembraremos dela no próximo ano, quando retornar para um terceiro ano que já até havíamos esquecido que existiria.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.