Summer Season 2019: quais foram os vencedores e os perdedores?
Em mais uma Summer Season medíocre e poucos sucessos, vimos grande parte dos destaques de 2018 se repetindo, como Animal Kingdom, The Bachelorette e outros.
Assim como noutras temporadas de verão, a Summer Season de 2019 entra para história pela sua fraqueza e francamente pela sua mediocridade. Seja na missão de produzir grandes sucessos ou em lançar uma produção memorável, nada foi feito. Grande parte da TV aberta se deu bem em jogar na sua zona de conforto, o que destacaremos abaixo, enquanto outras fracassaram, mais uma vez, ao apostar em novidades roteirizadas.
É impressionante que neste ano estejamos trazendo destaques de 2018. Pode parecer preguiça deste que vos escreve, mas acreditem, quando digo que é, realmente é por falta de novidades. É notório que Animal Kingdom e Yellowstone tenham mantido seu status de fenômeno, enquanto outras estreias foram vítimas do enorme volume de produções atualmente em exibição.
Nesta análise abaixo, trago comentários sobre a audiência, assim como a qualidade dos lançamentos. Esquecemos de alguma coisa? Comente e me diga o que faltou ser incluído (ou excluído).
Vencedores da Summer Season
Game Shows da ABC
Novamente a emissora acertou em não só manter seu popular bloco de game shows aos domingos (Celebrity Family Feud; The $100,000 Pyramid e Match Game), mas também expandir. A emissora trouxe Card Sharks, Press Your Luck, a versão americana de Family Food Fight e Holey Moley. É verdade que nem todos foram sucessos de audiência, mas se compararmos com as apostas fracassadas de alguns anos atrás e do baixíssimo investimento destes títulos, a ABC acertou em cheio.
The Bachelorette
É impressionante que uma franquia tão madura consiga manter bons números. Mas não só isso. A façanha de The Bachelorette vai além dos sólidos dados no demográfico alvo. O programa comanda o engajamento nas redes sociais durante sua exibição, assim como conseguiu, de forma bem sucedida, manter o interesse de toda uma geração de mulheres. É cada vez mais desafiador colher bons resultados da Summer Season, mas Chris Harrison sabe como ninguém como organizar um show.
Spin the Wheel & Bring The Funny
Quem assistir Spin The Wheel vai dizer – Hmmm, os americanos finalmente descobriram o Roda Roda‘. Contudo, a própria televisão americana tem sua versão diurna do programa que ainda cativa brasileiros no SBT, conhecido como Wheel of Fortune. O game show que a Fox propôs para este ano foi disputado com outros canais e ainda teve a produção executiva de Justin Timberlake. Embora a audiência não tenha explodido, foi suficiente para manter os telespectadores sintonizados semanalmente.
Bring The Funny é outro caso de um programa que pode não parecer tão original (The Voice encontra Last Comic Standing), mas que conseguiu encontrar sua audiência. Exibido no desejável horário pós-America’s Got Talent, a atração ainda beneficiou-se do apelo de Chrissy Teigen para manter os telespectadores engajados. Pode ser que não seja a nova World of Dance e que também não funcione noutros horário da casa, mas nesta temporada o programa foi um acerto em todos os sentidos.
Roteirizados da TV Fechada
Confesso ao leitor que poderia, com muita tranquilidade, copiar o comentário de 2018 neste espaço. Os destaques são exatamente os mesmos. Animal Kingdom terminou sua quarta temporada na terça-feira (21/08) não só com uma grande mudança na sua narrativa, como também um crescimento de audiência. O drama cresceu, mesmo que pouca coisa (0.02 para ser mais exato), em relação ao seu Season Finale de 2018. É claro que a força da série vem do acumulado, mas em tempos decadentes de modelo linear, algo assim demonstra uma força única.
Apesar da baixa aderência da TV Land junto ao público de massa, Younger é um caso raro de sucesso. A história continua funcionando apesar da idade; a audiência continua sólida e está cada vez mais estável e o apoio da crítica continua firme. Sutton Foster é mais bem sucedida na Broadway do que na televisão (todos lembram de Thoroughly Modern Millie, mas felizmente esquecem de Bunheads), mas esta produção é um acerto para atriz, para o canal e para nós, os telespectadores.
Yellowstone tem uma força impressionante. O drama traz uma história deliciosamente novelesca, além de ter Kevin Costner como o protagonista. O segundo ano mostrou-se ainda mais ousado, maduro e melhor planejado que a temporada de estreia. A audiência continua lá, seja linearmente (liderando a noite de quarta) ou no acumulado.
Chegando com certa desconfiança, Big Little Lies mostrou seu valor econômico (audiência cresceu 2.04% de um ano para outro) e firmou-se como favorita para o Emmy de 2020. E trazer para Meryl Streep é um acerto que nem preciso lembrar, né? Por fim, ainda ressalto outra série pouco valorizada: Claws. A comédia dramática foi incumbida da tarefa (nada fácil) de resgatar a TBS do marasmo e ainda continuar relevante. Fez isso e muito mais.
Política
Não há fadiga ou desinteresse do telespectador americano em política. Às vésperas da cobertura da campanha de 2020, os maiores eventos políticos da Summer Season foram dois debates: um organizado pela NBC e outro pela CNN. Mas quem previa desinteressa da população, errou (e muito). Os quatro debates promovidos pelos dois canais em noites distintas de junho e julho, atraíram uma audiência robusta e inesperada. Este que vos escreve, inclusive, crava uns poucos milhões de pessoas assistindo.
Na NBC, MSNBC e Telemundo, 15.3 milhões de pessoas assistiram na primeira noite e 18.1 milhões sintonizaram na segunda noite. Já na CNN, 8.7 milhões acompanharam os ataques da primeira noite, enquanto 10.7 assistiram ao confronto de ideias na segunda noite. É verdade que há uma queda do primeiro debate para o segundo, mas lembro aos leitores que a NBC está presente em 97% dos lares americanos, enquanto a CNN está em pouco mais de 70%.
HBO
Podem parecer décadas, ainda mais agora finalmente saímos de agosto, mas em julho a HBO retornou ao posto de emissora mais indicada ao Emmy com 139 nomeações. Algo extremamente positivo para um ano tumultuado para o canal cuja administração vem sofrendo baixas após a aquisição pela AT&T. Há alguns meses, o Toronto Star escreveu que – ‘A HBO quer ser a Netflix, mas deveria ser o contrário’. A volta por cima depois de um fraco 2019 é um alívio para executiva e nós, os telespectadores.
Não só de prêmios fizeram desta Summer Season uma boa temporada para HBO. Em meados de agosto, foi lançada The Righteous Gemstones. Com apoio de boa parte da crítica, a comédia foi o melhor lançamento do gênero em três anos. Ao mesmo tempo, o canal estreou o segundo ano de Succession. Embora não concorde com a afirmação de que o drama pode ser um substituto de Game of Thrones, a série retornou na sua melhor forma: audiência cresceu e a crítica aplaudiu.
Lembrando ainda das minisséries Our Boys e Chernobyl, que mostraram que há sim audiência nas segundas-feiras. E Big Little Lies, que comentamos acima, bateu alguns recordes registrados na sua primeira temporada.
Perdedores da Summer Season
Love Island (Estados Unidos)
O reality show esteve na lista dos destaques positivos do ano passado. Mas na sua versão original, que continua como um dos maiores sucessos da televisão britânica. Contudo, a tão aguardada versão americana afundou de uma forma espetacular. Ponha espetacular nisso. Numa aposta arriscada de exibir Love Island numa base diária (alguém lembra de Utopia na Fox?), o programa estreou ruim. Mas foi derretendo com o passar das semanas. Acredito que faria muito mais sucesso na TV a Cabo (alguém disse MTV?), cujo público é muito mais alinhado com a proposta. Principalmente agora que a CBS e a Viacom estão prontas para ser ViacomCBS.
Roteirizados da TV aberta
Como de costume, os roteirizados da TV aberta aparecem na lista negativa da temporada. A ABC apostou em Grand Hotel e Reef Break. A CBS ficou com Blood & Treasure. Já a NBC tentou a sorte com The InBetween. Mas nada parece ter funcionado, embora a produção da CBS esteja garantida para próxima temporada.
Não faz muito tempo que a imprensa especializada anunciava que o sucesso de Under The Dome inaugurava uma nova era na Summer Season, onde os canais apostariam ainda mais em séries roteirizadas. Não mais. Apostaria, inclusive, que não vai demorar muito tempo até que tenhamos apenas reality e game shows.
Além disso, vamos relembrar que as outras apostas roteirizadas da CBS (Instinct, The Good Fight e Elementary) registraram médias inferiores a certas reprises.
Fox tenta algo novo e tropeça
What Just Happened? merecia ser esquecida permanentemente. Num misto de talk show com Whose Line Is It Anyway?, Fred Savage não só colocou mais um fracasso na sua carreira, mas também trouxe números medonhos para o canal. Oscilando entre 0.3 e 0.2 no demo, a atração perdeu diversas vezes para reprises. Nem preciso comentar, né?
A ideia em produzir First Responders Live era ótima. Na verdade avaliei a proposta como certeira quando foi anunciada por duas razões. Primeiramente porque 9-1-1 é um dos maiores sucessos e acertos da Fox dos últimos anos em questões criativas e (principalmente) de audiência. Sendo assim, parece correto presumir que os mesmos telespectadores teriam interesse em assistir um programa não só bastante similar, como também ainda mais real.
Em segundo lugar, lembro que Live PD (algo parecido com o Polícia 24h) não é uma das maiores audiências da TV a Cabo, mas também foi responsável por promover um raro crescimento nos números totais da A&E na Summer Season de 2018. Mas o programa não conseguiu atrair telespectadores.
Big Brother
A atração ainda é um dos maiores acertos da CBS na Summer Season, diria que o único trunfo que a emissora tem em meio a fracassos e desastres. A audiência é incrivelmente sólida, gera engajamento nas redes sociais e mantém os anunciantes independentemente do que aconteça. O problema é que a temporada de 2019 foi incrivelmente chata, previsível e tediosa. Nada do que os participantes fizeram mostrou-se ousado, divertido de assistir ou memorável.
Foi notória a tentativa da produção de injetar drama e reviravoltas, mas quando o elenco escolhido é fraco, nada parece funcionar. Algo que a versão brasileira do Big Brother viu neste ano. Se o marasmo não fosse suficiente, a temporada ainda se viu mergulhada em controvérsias com denúncias de bullying e racismo. A polêmica foi tamanha que os próprios executivos do canal tiveram que se manifestar num momento que a própria CBS enfrenta problemas internos nesse sentido.
Importados da CW
Serei muito honesto com o leitor: adoro quando um canal decide investir em conteúdo roteirizado ao invés de seguir com reprises e programas baratos e enfadonhos. A CW ganhou meu coração nesta Summer Season ao tentar emplacar essa estratégia. Principalmente depois de fracassar de forma espetacular com a boba, porém divertida, Significant Mother em 2015.
Contudo, como estamos aqui para analisar o que funcionou e o que não funcionou do ponto de vista de audiência, sinto em dizer que a ideia não prosperou. Muito pelo contrário, afundou. Grande parte não passou da média de 0.1, onde a melhor marca foi 0.2.
É verdade que também tivemos uma atração bastante interessante, Hypnotize Me, com Taye Diggs, mas que não chamou atenção dos americanos. Sendo assim, é importante ressaltar a proposta da CW em sair do marasmo e apostar em originais, mas isso já não funcionou no passado (alguém lembra da parceria bizarra com a TMZ com Famous In 12) e não prosperou desta vez.
Netflix
O serviço de streaming vai lembrar dessa temporada de verão como um dos seus piores momentos de 2019, mesmo que a Disney+ ou a Apple TV+ ainda estejam na incubadora. No último mês de julho, a empresa divulgou ao mercado e seus acionistas um resultado medonho do segundo trimestre deste ano.
A plataforma perdeu pouco mais de 120 mil assinantes nos Estados Unidos, além de ficar abaixo do esperado no que se refere a expansão internacional. Contudo, a parte criativa também não funcionou. Os grandes sucessos da Netflix nesta Summer foram títulos consagrados: Stranger Things, Orange Is The New Black, GLOW e Black Mirror. Ou seja: nada de novo, apesar dos bilhões de dólares gastos anualmente com conteúdo.