Crítica: The Righteous Gemstones é ácida e inteligente, mas pouco diverte
The Righteous Gemstones estreou no Brasil e nos Estados Unidos no último domingo (18). Será que realmente vale a sua atenção? Vem que eu te conto.
Documentário da HBO surpreende
Agosto é um mês ruim. Simples assim. Demora uma eternidade para terminar. Mas principalmente: é um dos piores meses de lançamento na televisão, seja brasileira ou internacional. Nos Estados Unidos vemos uma espécie de ressaca misturado com um sentimento de que tempos melhores virão em setembro. Contudo, sempre tem algo que transforma esta penúria em algo mais suportável. Há anos esse meu escapismo tem sido Animal Kingdom, uma joia subaproveitada desde sua estreia. Felizmente, a HBO fez alguma coisa sobre isso e colocou Succession no ar. Mas junto com….The Righteous Gemstones? Seria um documentário enfadonho sobre comunidades isoladas? Melhor do que isso.
The Righteous Gemstones acompanha a família Gemstone, uma dinastia de televangelistas que ganha vida enganando fiéis, ou melhor, pregando a palavra do Senhor para milhares de fiéis em todo o mundo. Contudo, nem tudo é o que parece. Quando o culto termina e vemos a família no seu habitat, fica claro que eles não seguem nada daquilo que falam e levam vidas um tanto pecaminosas. Logo no primeiro episódio temos uma amostra da hipocrisia quando o filho do meio, Jesse (Danny McBride), flerta com a derrocada caso um vídeo (bastante) comprometedor vaze na internet. O conteúdo da gravação? Sexo, drogas e mais drogas.
A partir dessa síntese, é possível perceber que essa não é a sua nova Greenleaf. E a boa notícia é que a série não procura ser, embora ambas as produções tenham o mesmo objetivo: cutucar e expor a podridão ao redor das famílias lideradas pelos mega pastores da vida real. Quase toda grande cidade americana, principalmente do sul, tem um para chamar de seu. O que traz um vasto conteúdo para Danny McBride, o criador e roteirista desta comédia, trabalhar e brincar.
E a comédia? Sumiu?
Os Gemstones são uma caricatura, beirando até uma catarse sobre os tempos em que vivemos. Há um tom ácido, objetivo e sagaz nos diálogos que os personagens discutem religião. Contudo, McBride consegue algo estritamente complexo: criticar e brincar com a cultura e valores de certas comunidades sem aliena-las. O ator prometeu que esse não era seu objetivo numa entrevista concedida à Entertainment Weekly, mas tudo se espera de Hollywood em 2019. Paguei para ver e fui surpreendido positivamente. Entende-se a mensagens, entretém-se com certas piadas e ainda convida o telespectador para ver mais.
É importante ressaltar, contudo, que The Righteous Gemstones não é uma comédia tradicional. Na verdade, acompanha o mesmo modelo que McBride utilizou para fazer Vice Principals e Eastbound & Down funcionar. Não é um humor inexistente, mas também não é escrachado que joga-se no pastelão. Ficará frustrado aquele que espera substituir Veep com este título. Muitas vezes o telespectador ficará buscando onde está o humor. Falo com propriedade porque aconteceu comigo diversas vezes. Mas a história consegue ser tão deliciosa, fascinante e primorosa que o fato de você não estar rindo com uma produção cômica é algo realmente secundário.
Mas como assim, uma comédia que não faz rir é boa? Exatamente. E aproveito para lembrar que estamos período dessa ‘Era de Ouro da Televisão’ que é difícil colocar um título numa caixinha. Os produtores estão mais ousados, como vimos em Orange Is The New Black ou Transparent. Então não fique preocupado se não der risada o tempo inteiro. Preocupe-se em entender a ideia e captar a mensagem. Além disso, John Goodman e Adam Devine dão um show à parte o que faz quase 60 minutos valer a pena.