Meryl Streep entrega uma das maiores vilãs da TV em Big Little Lies, da HBO
Atriz Meryl Streep está roubando a cena em Big Little Lies.
A hora e a vez de Meryl Streep na TV com Big Little Lies
Quando Meryl Streep foi anunciada como a mais nova integrante do time de Big Little Lies, havia uma razão para tal. A minissérie da HBO, que agora se tornara uma série – uma vez que fora renovada – precisava de uma força e uma necessidade para sua segunda temporada. Mal sabíamos, entretanto, que contar a história tendo a perspectiva de uma das maiores atrizes de todos os tempos, chamaria tanta atenção assim. Streep, com quatro episódios, tomou a história para si sem grandes esforços. E, também sem cerimônias, pode estar entregando uma mais maiores vilãs que a televisão já viu.
Atenção, essa matéria contém spoilers da primeira e segunda temporadas de Big Little Lies.
A personagem
Meryl Streep vem dando vida à Mary Louise, a mãe de Perry (Aalexander Skarsgård), morto na primeira temporada da série. Como o próprio trailer anunciava, a personagem apareceu em Monterey para buscar respostas sobre essa repentina morte. Afinal, o que teria mesmo acontecido?
Claro, sabemos que ele fora assassinado pela personagem de Zoe Kraviyz, ao ser empurrado pela mesma. Tudo isso, como legítima defesa, após Perry atacar Celeste (Nicole Kidman). As protagonistas concordaram em criar uma mentira e foi assim que confirmaram que o rapaz havia escorregado. Isso porque nem sempre uma legítima defesa é bem interpretada ou assegurada. Entretanto, sendo errado ou não o que elas fizeram, há uma carga que o personagem de Skarsgård trouxe durante toda a temporada, que justificou tal ação.
Desbravar essa carga, no entanto, não seria fácil. Principalmente através da mãe do rapaz, que até aquele ponto não fazia ideia de como seu filho tinha um comportamento violento. Seria a formação desse caráter algo familiar? As atitudes da personagem de Streep nos diz que sim.
A vilã
Desde que chegou na série, Louise não tentou fazer cerimônias. E, no maior estilo passivo agressivo, sempre tentou diminuir todos a seu redor. O alvo, sem dúvidas, fora Celeste. Mas até mesmo as pessoas próximas da personagem de Nicole Kidman sofreram as consequências. Assim, viram que a recém chegada matriarca não é flor que se cheire.
Assim, com seu rostinho sereno, Mary Louise consegue ir no ponto da ferida, desestabilizando quem está ao seu redor.
No primeiro episódio da temporada, por exemplo, ela tivera um momento único. Fora na mesa de jantar, ao incentivar os filhos de Perry a gritarem a raiva que sentiam que ela foi emblemática. Para não dizer, esquisita. Foi ali que tivemos uma primeira prova do seu poder persuasão. E mesmo tentando mostrar apoio para Celeste, ela estava mais preocupada em exaltar as qualidades do filho. Claro, sem enxergar que ele deixara problemas. Assim, a personagem de Streep utiliza da vulnerabilidade de Celeste para saber se houve algum culpado da morte do filho, bem como tentar se apoderar dos netos.
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Diante dos quatro primeiros episódios, vemos uma reviravolta, a ponto de Mary Louise ter se aproximado de Celeste para coletar provas de seu desequilíbrio, e tomar a guarda dos netos. Sem se importar com nada. Além disso, Louise foi descobrindo, aos poucos, que seu filho era um homem da pior espécime.
Importância social com o texto da série
Mary Louise, assim, chegou a desacreditar as mulheres que denunciariam a violência de Perry, representando o maior vilão da sociedade que é a dúvida em relação às denúncias de abuso e estupro. Dessa forma, a vilã representada por Meryl Streep não tem apenas a função de agitar uma trama fictícia, mas tem uma importância social ao mostrar que o descrédito destas denúncias podem partir de homens e mulheres, de qualquer idade.
Em outra passagem, por exemplo, Mary Louise chega questionar o nascimento de Ziggy, ao descobrir que possui um terceiro neto. Ao mesmo passo, quando descobre que a criança é filho de um estupro, implica que Jane (Shailene Woodley) poderia ter incentivado tal prática. E por mais absurdo que possa parecer, essa fala sobre a mulher incentivar ou dar espaço para que um estupro aconteça é mais comum do que possamos imaginar.
Logo, Mary Louise vem para abrilhantar ainda mais o papel de Big Little Lies. E, para reafirmar que a sociedade precisa dar mais atenção para estas denúncias. Bem como, entender melhor o porquê de tais mulheres a se humilharem publicamente para expressarem tais crimes. O texto da série mostra que para cada estupro cometido, haverá uma Mary Louise na esquina, pronta para desacreditar ou questionar a causa de tal prática. Não importando se essa pessoa que questiona seja homem ou mulher.
E já que abuso e estupro são crimes reconhecidos, aqueles que os acobertam tornam-se automaticamente criminosos. É por isso que, em certo nível, a presença da personagem de Meryl Streep é extremamente importante para que o texto do drama da HBO possa explorar ainda mais essa oportunidade de trabalhar um assunto tão importante e necessário paras nossos tempos.
Meryl Streep dona das telonas e, agora, dona das telinhas
Não há dúvidas, portanto, que a personagem de Meryl Streep veio para ficar guardada na galeria de grandes personagens da TV. E, além disso, exercendo uma função que chamamos de necessária. E mesmo com tal importância, diríamos que ela não teria o peso que tem se não tivesse sendo interpretada por uma atriz do cacife de Meryl Streep.
Há toda uma simbologia ao vermos uma mulher premiada com três Oscar, reconhecida internacionalmente por seu talento, se “sujeitar” a trabalhar em uma série de TV. Assim, mesmo com o movimento atual das celebridades hollywoodianas de migrarem do cinema para a televisão, Streep não precisava disso. Porém, viu em Big Little Lies uma oportunidade de fazer tal movimento com um sentido, uma razão.
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Sem dúvidas, a atriz conquistará todas as premiações na qual passar. Quando isso acontecer, saberemos que não foi apenas por dar vida a uma incrível vilã. Mas sim, dar voz à uma trama que implica questões importantes sobre estupro, práticas de abuso feminino e o descrédito que tais abusadas sofrem em nossa sociedade. É uma maneira de mostrar que a sociedade ainda tem de melhorar. E muito.