Crítica: Expresso do Amanhã, da Netflix, muda foco da trama original

Critica da primeira temporada de Expresso do Amanhã, serie original Netflix. Uma adaptação do filme homônimo de 2013 de Bong Joon-ho (Parasita).

Critica Expresso do Amanha

Em formato de série, Expresso do Amanhã é uma produção equilibrada

Expresso do Amanhã, nova série da Netflix, é baseada no filme de 2013 dirigido por Bong Joon-ho (vencedor do Oscar por Parasita). Ambas as obras são adaptações da HQ francesa Le Transperceneige de Jacques Lob, Jean-Marc Rochette e Benjamin Legrand, publicada em 1982. É uma história distópica sobre um experimento para impedir o aquecimento global que falhou e causou uma nova era glacial destruindo a vida no planeta. Os únicos sobreviventes estão a bordo de um super trem chamado Snowpiercer, idealizado pelo visionário e misterioso Sr. Wilford.

A trama ainda é sobre os sobreviventes do colapso climático que se abrigam em um trem e viajam ao redor do mundo sem parar. Neste cenário a divisão dos passageiros, as diferenças de classes e a política de sobrevivência geram um conflito social, o que motiva uma rebelião. No entanto, o roteiro da série apresenta uma mudança. A rebelião é adiada, pelo menos inicialmente, para dar espaço a uma investigação de assassinato nos vagões da terceira classe.

Temendo a desordem e o medo entre os passageiros, Melanie Cavill (Jennifer Connelly), a porta voz do trem e secretária da locomotiva, a pedido do Sr. Wilford, recruta o passageiro dos fundos, Layton (Daveed Diggs) um ex-detetive para investigar o caso. A trama é situada sete anos após a catástrofe climática, e o super trem é composto por 1001 vagões divididos por classes sociais que abrigam o que restou da humanidade. Tudo funciona porque há um equilibro no sistema do trem que deve ser respeitado.

PUBLICIDADE

Série utiliza conceito do filme, mas adiciona novas subtramas

A primeira classe, isto é, os primeiros vagões, estão reservados para os ricos – a classe que financiou e/ou pagou pelo ingresso no trem. Desfrutando de todo luxo e conforto que o dinheiro pode comprar. É alheia aos problemas dos demais grupos do trem, desde que sua segurança não seja ameaçada. Os trabalhadores e operários representam a terceira classe. Basicamente, eles pagam sua estadia e alimentação com trabalho, mantendo o trem em pleno funcionamento.

Enquanto isso, nos fundos do trem, estão as pessoas pobres e os rejeitados por esse novo modelo de sociedade. Uma espécie de comunidade. Sem recursos, sem dignidade, ganhando apenas uma barra de proteínas para se alimentar. Eles tiveram que forçar sua entrada na tentativa desesperada por sobrevivência.

A série apresenta alguns momentos brutais como os que são vistos no filme, mas não vou me estender em traçar as comparações entre as duas produções. No entanto, a trama perde o imediatismo para se aprofundar em outras questões, deixando a crítica social e a insurgência dos rebeldes em segundo plano. Mas há um fato curioso envolvendo o Sr. Wilford revelado no final do primeiro episódio.

Considerações

Expresso do Amanhã, enquanto filme, é uma produção mais crua, brutal e direta. Diferentemente da série. Adaptar esse tipo de material para TV significa ampliar o conceito central e incluir novas subtramas para preencher todos os episódios da temporada. A série cumpre bem o papel em apresentar um mundo distópico com seus belos cenários e o CGI do mundo devastado pelo gelo. Mas não aproveita todo potencial do material original.

Falta o elemento claustrofóbico e a selvageria, pelo menos nos dois primeiros episódios. A escolha em revelar tudo do trem já no episódio piloto não favorece em nada a trama. Mais interessante seria explorar o trem através da ótica de Layton, afinal de contas, seu plano é invadir o trem em direção ao motor. Sua investigação vai lhe permitir conhecer outros vagões e traçar uma estratégia para assumir o comando. Já a cenografia é competente em determinar a divisão das classes e os múltiplos cenários.

Mas a trama parece se mover, então será difícil às coisas ficarem monótonas no trem Snowpiercer. Ao longo de sua temporada a trama de investigação de assassinatos com ares de procedural policial, vai dar espaço para a rebelião, que é o que interessa. Enquanto isso, acompanhamos a performance de Jennifer Connely, o grande destaque da produção e Daveed Diggs, que tenta trazer um pouco de equilíbrio ao seu personagem destinado a se tornar líder revolucionário. Ele entrega um trabalho nada extraordinário.

Nos EUA a série é transmitida pelo canal TNT, enquanto a Netflix distribui mundialmente. Já renovada para uma segunda temporada antes de sua estreia, sem dúvidas é uma boa produção para quem é fã de ficção cientifica e histórias distópicas. Mas um aviso, embarque sem bagagens e sem expectativas se você assistiu ao filme de Bong Joon-ho. Para os viajantes de primeira viagem será um bom passeio.

A primeira temporada de Expresso do Amanhã terá 10 episódios com exibição semanal na Netflix às segundas.

Confira abaixo o trailer da série:

Sobre o autor
Yuri Moraes

Yuri Moraes

Redação

Yuri Moraes é formado em Direito e Marketing Digital e atualmente cursa Produção Cultural. Morador do Rio de Janeiro, sempre foi um grande apaixonado por conteúdo audiovisual e o universo da cultura pop. Um cinéfilo declarado, um seriador nato. Formado em teatro, descobriu sua paixão pela escrita e desde então vem estudando e se capacitando como escritor. Redator do Mix de Séries desde 2016, se desenvolveu como profissional da área e já colaborou com diversos textos em formato de críticas, reviews semanais e notícias. Através de seus textos busca sempre apresentar uma análise pessoal, técnica e sincera das produções que assiste, sem deixar o bom humor de lado. Sempre atualizado nos assuntos do momento, faz cobertura de diversos eventos representando o site. Outra paixão que caminha lado a lado é produção de eventos. Colecionando em seu currículo experiências em grandes eventos, possui verdadeira paixão em fazer parte do processo de construção e execução de eventos culturais. Com isso, equilibra seu trabalho de departamento pessoal com o ofício de escritor e produtor cultural.