Oscar 2022, indicados a Melhor Filme, do pior ao melhor

O Oscar, a maior premiação do Cinema, ocorre neste fim de semana. Para antecipar, listamos os indicados e Melhor Filme do pior ao melhor.

Oscar 2022

Diga o que quiser sobre a qualidade dos filmes indicados ao Oscar deste ano, mas uma coisa é fato: esta é uma das edições mais imprevisíveis dos últimos anos. Apesar de algumas certezas, várias categorias importantes seguem sem um favorito explícito. Ataque dos Cães, da Netflix, passou a temporada inteira na liderança da corrida. Faltando uma semana para a premiação, entretanto, CODA, da Apple, venceu um dos principais prêmios da indústria, o PGA. A vitória o jogou no topo das apostas e, hoje, é impossível afirmar com certeza quem leva o maior prêmio da noite.

Outras categorias seguem incertas, como Melhor Atriz, Roteiro Original e Adaptado e algumas técnicas. Para quem gosta de Cinema e de Oscar, estas incertezas são revigorantes, principalmente se considerarmos o marasmo que as premiações têm se tornado. Este ano, depois de algumas edições, o maior prêmio da Sétima Arte volta ao formato de dez indicados. Desta forma, mais títulos têm a chance – e a honra – de serem incluídos na lista de Melhor Filme. Assim, em 2022 tivemos uma interessante variedade de projetos.

Um bom ano, um bom Oscar

Nesta perspectiva, vale apontar, tivemos um ótimo ano para o Cinema. Não há nenhum filme realmente ruim nesta edição (em qualquer categoria) e a maioria dos principais indicados são legitimamente bons. É a rara edição em que três ou quatro filmes podem vencer sem que haja muitas reclamações. Para completar, diversas joias ficaram de fora, como Red Rocket, de Sean Baker. Logo, com tanta coisa boa no catálogo, resolvemos listar os indicados a Melhor Filme do pior ao melhor.

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10 – King Richard

É preciso agradecer por uma edição do Oscar onde o “pior” filme da lista ainda é um bom filme. King Richard não tem grandes defeitos, mas é um longa que joga sempre em posição segura. É uma biografia que não arrisca e prefere mostrar apenas os pontos bons e limpos de seus personagens (assim como Bohemian Rhapsody). No fim, apesar de inofensivo, é um drama competente, que tens seus momentos de impacto e emoção. Will Smith está ótimo e deve levar a estatueta de Melhor Ator. Não chega a ser a melhor performance de sua carreira, mas é uma atuação segura e sincera. É um produto que não arrisca no visual nem na narrativa, mas agrada do início ao fim. Deve levar o Oscar de Ator e tem chances remostas em Melhor Edição.

9 – Belfast

Toda temporada do Oscar tem um Belfast. É aquele filme que desponta muito cedo como favorito, mas que perde sua força durante os duros meses de campanha. Quando fez sucesso em festivais e conquistou o público, Belfast logo ganhou atenção por ser uma espécie de Green Book. A concorrência, entretanto, foi severa, e logo tratou de escantear a obra semiautobiográfica de Kenneth Branagh. O drama, belissimamente fotografado em preto e branco, tem ótima direção e um elenco afiadíssimo, com destaque a Judi Dench e Ciarin Hinds. Assim como King Richard, porém, é um título inofensivo, que não arrisca em seus objetivos. Logo, acabou perdendo espaço para filmes maiores e mais corajosos. Não deixa de ser, entretanto, um confortável e competente drama nostálgico. Pode levar o prêmio de Roteiro Original, mas tem poderosos concorrentes na categoria.

8 – Beco do Pesadelo

O Cinema de Guillermo Del Toro é garantia de visuais arrojados e dualidades em meio à fantasia ou ao sobrenatural. Beco do Pesadelo é um longa moldado à moda antiga. Com seu ritmo próprio, o filme vai desenvolvendo seus personagens e narrativa como se fosse um longo romance. As reviravoltas são previsíveis, mas Del Toro faz uma costura tão envolvente que nos deixamos levar pelas tramoias do protagonista. O diretor mexicano repete, então, alguns temas que lhe são muito caros, mas nunca repete abordagens ou ideias. É um título menor se comparado a O Labirinto do Fauno ou A Forma da Água, mas ainda se destaca como um ótimo exemplar da carreira do diretor. No Oscar, tem chances em Direção de Arte, mas pode sair de mãos vazias.

7 – No Ritmo do Coração (CODA) (o favorito ao Oscar?)

O novo favorito ao Oscar é um filme que fez jus às expectativas. Quando surgiu no cenário dos festivais, logo chamou atenção da indústria, e sua compra pela Apple foi uma das mais caras da história. Os executivos sabiam que tinham em mãos um projeto valioso, que podia conquistar o público e ainda fazer bonito nas premiações. Estavam certos. CODA é o título mais bem avaliado em plataformas abertas ao público e chega, enfim, como favorito ao prêmio principal. É um bom título, mas a alcunha de Melhor Filme não lhe cabe.

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É um drama muito conservador, além de ser o remake de um longa francês recente. CODA segue um caminho semelhante ao de Green Book: é um filme que muitos gostam, mas poucos querem ver vencendo um Oscar, principalmente contra monstros como Paul Thomas Anderson, Steven Spielberg e Jane Campion. Deve levar, ainda, Melhor Ator Coadjuvante e Roteiro Adaptado, o que enseja ainda mais a vitória na categoria principal.

6 – Drive my Car

O representante internacional chega à noite do Oscar já como vitorioso. Além de ser favorito na categoria de Estrangeiros, Drive my Car ainda conquistou vagas em Melhor Direção e Roteiro Adaptado. Trata-se de apenas um título internacional no meio de vários que 2022 nos entregou. Aqui, Ryusuke Hamaguchi faz um drama de singelezas, de diálogos conflitantes, que se confundem entre ficção e realidade. Em suas três horas de duração, Drive my Car é um estudo de personagens e relações, e como preferimos nos envolver em situações que podem ou não determinar o rumo de nossas vidas. É um longa que fala alto sem jamais elevar o tom de voz. Garantido em Filme Internacional, pode se beneficiar de uma divisão de votos em Roteiro Adaptado, onde a briga é entre Ataque dos Cães e CODA.

5 – Duna

Trabalhar na quantidade e qualidade de Denis Villeneuve só prova o quão talentoso é o sujeito. Depois de garantir suas habilidades na ficção científica com Blade Runner 2049, o canadense assume um dos títulos mais importantes do gênero, Duna. O resultado é um épico visual e narrativo que deve limpar as categorias técnicas do Oscar. Na contramão dos blockbusters contemporâneos, Duna assume um ritmo mais comedido e desenvolve sua vasta mitologia com calma e ordem. Entre fotografia e efeitos deslumbrantes, o primeiro volume do projeto deve subir várias vezes ao palco da Academia. Deve levar Fotografia, Edição, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Som e ainda abocanhar Direção de Arte e talvez Maquiagem. Ufa.

4 – Não Olhe Para Cima

Não Olhe Para Cima não foi tão bem adotado pela crítica, mas conquistou o público e principalmente os prêmios. Depois de A Grande Aposta e Vice, Adam McKay retorna ao campo da comédia mais cristalina. O resultado é um filme engraçado e esperto, antenado nos problemas que assomam o mundo real e virtual dos dias de hoje. Não Olhe Para Cima, portanto, não tem medo dos absurdos e os abraça com boa vontade, para validar suas alegorias. No Oscar, pode levar a estatueta de Roteiro Original

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3 – Amor, Sublime Amor

Não há diretor vivo, em qualquer país, que entenda tão bem a linguagem cinematográfica como Steven Spielberg. Dos grandes, talvez Martin Scorsese se aproxime, mas o cineasta de A Lista de Schindler e Jurassic Park já demonstrou inúmeras vezes seu talento inigualável entre o público e a crítica. Não é de se espantar, portanto, que Amor, Sublime Amor pareça mais um de seus musicais, e não o primeiro, como de fato é. O diretor está tão confortável e certo do que faz, que parece ter nascido para comandar uma releitura do musical. Amor, Sublime Amor pulsa, acerta como um soco, e toca afinado como uma impecável orquestra. A união de som e imagem, costurada por uma edição arrebatadora, é a prova de que só um mestre é capaz de milagres. O filme é favorito absoluto em Atriz Coadjuvante, mas pode surpreender em algumas técnicas.

2 – Licorice Pizza

Paul Thomas Anderson é o tipo de gênio que pode passar a carreira inteira sem vencer um único Oscar. Com Licorice Pizza, o cineasta tem a chance de garantir sua primeira estatueta, a de Roteiro Original. Mas o prêmio não está garantido, e Anderson deve brigar voto a voto com pelo menos dois títulos: Belfast e Não Olhe Para Cime, fora A Pior Pessoa do Mundo, que parece ter conquistado a Academia. A comédia romântica nostálgica de PTA é um típico exemplar de sua carreira, e carrega todos os elementos que permeias sem demais filmes. Aqui, uma coletânea de memória se unifica como um conjunto de crônicas. É uma obra apaixonante, sensível e engraçada que pode ser incompreendida pelo grande público.

1 – Ataque dos Cães

Estranho seria se Ataque dos Cães fosse favorito absoluto ao Oscar. Sua vitória se assemelharia à de Moonlight, pois trata-se de um longa que está na contramão do que a Academia gosta. Introspectivo, seco e repleto de simbolismos, o drama de Jane Campion é uma história de sugestões, de possibilidades. É sobre violência e sexualidade reprimidas; sobre dependências e masculinidade tóxica. Em um mundo justo, então, levaria pelo menos cinco prêmios: Melhor Filme, Direção, Ator (para Benedict Cumberbatch), Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Caso abocanhasse Edição e Fotografia, melhor.

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Depois de passar a temporada inteira na liderança, Ataque dos Cães agora luta no soco por categorias que antes era favorito absoluto. Trilha Sonora, que parecia garantido, agora vai para as mãos de Hans Zimmer e Duna. Roteiro Adaptado se afasta cada vez mais e até mesmo Direção tem suas fundações ameaçadas. Assim, pode se tornar o estranho caso do filme que vence Filme e Direção, mas nada mais. Premiação louca para tempos loucos.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.