Coringa, Netflix e mais: os 10 melhores filmes de 2019

Coringa, Netflix, filmes de terror e estrangeiros são destaque na lista dos melhores filmes de 2019. São dez produções imperdíveis!

Coringa, Netflix, filmes de horror e estrangeiros são destaque na lista dos melhores filmes de 2019

2019 pode ter sido um ano ruim em diversos aspectos, mas o Cinema não deixou a desejar. O último, vale apontar, foi um dos melhores da última década no tocante à quantidade e qualidade dos filmes lançados.

Prova disso é a dificuldade que tivemos para encerrar uma lista com os dez melhores longas. Eram tantas opções que a lista mudava constantemente antes de ser finalizada nas dez obras finais. Tem drama, comédia, sucesso de bilheteria e Netflix.

Muita coisa excelente ficou de fora (A Favorita, No Portal da Eternidade, Se a Rua Beale Falasse, Vice) enquanto outras não puderam entrar por não terem sido lançadas comercialmente no Brasil (Retrato de uma Jovem em Chamas, The Farewell).

Confira abaixo os dez melhores filmes de 2019.

 

10 – Mid90s, de Jonah Hill

Para uma obra ancorada na nostalgia funcionar, é preciso que o público sinta o período retratado. É vital que ele seja transportado para um espaço no tempo. Elementos cênicos, música e figurinos ajudam na identificação, mas é o sentimento que dita as batidas e a aproximação. Em Mid90s, belíssima estreia na direção de Jonah Hill, é possível sentir os anos noventa.

A década está lá, nas estampas das camisetas, na largura absurda das calças, nas bandas que tocam nos rádios e nos videogames que bombavam, mas é nas angústias dos jovens, nas palavras trocadas e na incerteza do futuro que se encontra o DNA de uma época ao mesmo tempo tão distante e tão perto. Sem contar nenhuma história específica, com grandes conflitos e reviravoltas, Hill segue um grupo de garotos que vagam pelas ruas andando de skate e se descobrindo – mesmo sem saber que as mais simples conversas representam um passo rumo ao futuro.

 

09 – Dragged Across Concrete, de S. Craig Zahler

Uma das mudanças necessárias na cultura e seus consumidores é o entendimento de que não é preciso concordar com o que está sendo dito na obra para se gostar da obra como um todo. Há muita coisa questionável em Dragged Across Concrete, tantas outras são impossíveis de se concordar. O discurso impresso na narrativa é duvidoso, claramente inclinado ao conservadorismo.

Ainda assim, o longa de S. Craig Zahler é um feito cinematográfico imperdível. Zahler é um dos autores mais interessantes dos últimos anos, e acompanhar suas histórias é uma experiência única nos dias de hoje. Nos filmes do cineasta, ninguém está a salvo e tudo pode acontecer de um minuto para outro. Em Concrete, por exemplo, no meio do caminho, deixamos os protagonistas de lado para acompanhar uma novo personagem, que se despede da família para ir trabalhar em um banco. Tal personagem parece importante para o quadro geral, mas seu desfecho inesperado leva a narrativa a outros lugares. E é assim que o longa funciona: surpreendendo e deixando a audiência no escuro, sem saber, jamais, o que esperar.

 

08 – Suspiria, de Luca Guadagnino

Possessão, de Andrzej Zulawski, é um dos grandes filmes de horror da história por dois motivos, dentre tantos: o trabalho de câmera e a rica ambientação, cuja locação vira personagem. Suspiria, de Luca Guadagnino, brilha justamente nestes dois aspectos, e é impossível não lembrar do longa de Zulawski enquanto a narrativa avança. Investindo em uma edição frenética, que acompanha os passos do balé e torturas físicas com o mesmo entusiasmo, Suspiria é uma explosão visual tão inovadora e independente quanto o original, de Dario Argento.

Aqui, uma jovem se muda para a Alemanha e entra para uma companhia de dança, apenas para descobrir que suas colegas são bruxas e se preparam para um grande acontecimento. Cada núcleo funciona com fluidez, enquanto a trilha de Thom Yorke compõe uma ambientação que é a combinação musical perfeita para a fotografia e a direção de arte. No meio de tudo isso, Tilda Swinton entrega atuações que só comprovam o talento descomunal da atriz.

 

07 – Nós, de Jordan Peele

Uma das maiores riquezas de um filme é a sobrevivência ao tempo e sua existência fora dos limites da exibição. Em outras palavras, um filme é mais rico se ficar na sua cabeça por um longo tempo. É por isso que obras que suscitam discussões são regularmente lembradas pelo público. Nós, de Jordan Peele, foi lançado no início de 2019, mas permanece na boca do público até hoje. Parte dessa força vem da sensibilidade social de Peele, algo já comprovado em Corra, de 2017.

Outra parcela deste sucesso vem da habilidade do roteirista e diretor em amarrar uma narrativa interessante e relevante a elementos fantásticos, complexos e passíveis de interpretação. Seus filmes são um enorme playground para qualquer cinéfilo, algo para se assistir, presta atenção e caçar os mínimos detalhes na história e no visual. A cada nova visita e a cada nova lembrança de Nós, um novo detalhe importante surge, enriquecendo a experiência e atestando o selo de qualidade.

 

06 – Coringa, de Todd Phillips

Coringa, assim como Clube da Luta, é o tipo de filme que será adorado por massas que não entenderam a história e seus personagens. É um filme que tende a criar desacordos entre o público justamente pelo discurso delicado e pela envergadura. Muitos considerarão este o melhor filme do ano e outros tantos negarão a obra justamente por esta ser a favorita de uma grande parcela.

O próprio sucesso de Coringa é, portanto, um reflexo daquilo que o longa constata. A sociedade foi criada e caminha cada vez mais rápido para ser uma célula desunida, em constante conflito e negação de problemas. Assim como o filme de David Fincher, o de Todd Philips será mal interpretado em várias frentes, tanto por aqueles que consideram o discurso impecável quanto por aqueles que não enxergam profundidade no que é dito pelo roteiro. Essa ambiguidade e o impacto da película no público é o que enriquecem Joker de forma aterradora, provando que este é, para o bem ou para o mal, um dos filmes mais importantes desta geração.

 

05 – Parasita, de Bong Joon-Ho

Caso seja preciso escolher apenas um cineasta que possa representar o século XXI até aqui, este seria Bong Joon-Ho. De Expresso do Amanhã a Okja, seus filmes sempre trazem um profundo estudo social. A grande diferença, contudo, é que não há a intenção de ser didático, tampouco de panfletar. Joon-Ho insere os discursos em narrativas divertidas, que flertam com gêneros e brincam com tecnologias. Até mesmo um filme de monstro gigante, O Hospedeiro, é uma chance para se discutir o meio ambiente e a relação entre o Homem e a Natureza.

Em Parasita, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o cineasta faz uma análise de classes certeira e universal, sem nunca perder o humor e o tino para reviravoltas chocantes. Cada quadro tem significado e avança a narrativa, enquanto cada piada involuntária é um ácido comentário sobre nossas realidades. Parasita não aponta dedos, mas expõe; o cinema de Joon-Ho é consciente e atual, mas sem perder a pecha de Cinema com C maiúsculo.

 

04 – Era uma vez em Hollywood, de Quentin Tarantino

Quentin Tarantino, assim como S. Craig Zahler nesta lista, é um sujeito que não está muito interessado na história ou na lógica de sua violência. Assim como fizera magistralmente em Bastardos Inglórios, em que Hitler é metralhado em um cinema, Tarantino rearranja um acontecimento histórico para contar a história como ela deveria ser, e não como de fato foi. Com isso, o cineasta cria um universo só seu, onde seus personagens e diálogos são a lei. Ao comprar a ideia e aceitar que tudo passa por um filtro tarantinesco, o público passa a aproveitar uma das obras mais ricas e pessoais do autor.

Em seu nono filme, às portas de uma anunciada aposentadoria, Tarantino comprova uma experiência e segurança irrestritas. Seja no domínio da câmera, no uso do humor ou no ritmo que consegue empregar aos diálogos, o cineasta revela uma evolução inegável. Depois de viver o Cinema por décadas e contribuir para a sua história, Tarantino hoje é um sujeito mais consciente e sensível. Era uma vez em Hollywood não é um drama histórico, tampouco uma comédia de ação. É, integralmente, uma carta de amor à Sétima Arte, a um período no tempo e no espaço.

 

 

03 – Cafarnaum, de Nadine Labaki

Cafarnaum foi injustamente categorizado por muitos como um filme que abusa da pobreza para criar divertimento ou gerar reações emocionais do público. Trata-se de uma ideia superficial acerca de um longa que foge justamente dos conceitos mais simples e precoces. A grande diferença de Cafarnaum para uma atrocidade como Quem Quer Ser um Milionário?, por exemplo, é que no longa libanês a pobreza não é engraçada, recompensadora ou banhada em luz. A dor está presente e constante, embora exista espaços para breves momentos de alegria e paz.

O que Nadine Labaki faz aqui é o tipo de trabalho que só acontece quando planetas se alinham e algo sobrenatural acontece. As performances que a diretora extrai de seu elenco jovem, por exemplo, beira o inacreditável. A câmera observa os personagens sem jamais parecer intrusiva, e sua mensagem, embora pareça simples, carrega um peso que deve ressoar de forma universal. Desta forma, Cafarnaum deve e merece ser lembrado como um dos filmes mais sensíveis e definidores da década.

 

02 – História de um Casamento, de Noah Baumbach

Quando alguém em Closer – Perto Demais ou Antes da Meia-Noite afirma que o amor pelo companheiro já não existe, a dor é sentida pelo simples fato de que o tal amor existe, sim, mas já não vê mais motivo para tal. Nestas histórias, as duras afirmações geram cicatrizes profundas não porque o ódio predominou, mas porque o amor ainda se arrasta por baixo das brigas e lágrimas.

Em História de um Casamento, Noah Baumbach analisa o fim de um casamento de forma democrática, sem jamais apontar dedos ou considerar que apenas um lado está correto. No processo, o cineasta percebe algo simples, mas revelador: é possível conhecer um casal e suas vidas ao analisarmos o fim e não o começo de seu relacionamento. As brigas da dupla revelam anos de incertezas, decepções, sentimentos e palavras guardadas. Adam Driver e Scarlett Johansson carregam o peso de seus personagens com atuações impecáveis, dignas de todos os prêmios da temporada. Como Driver canta ao final de História de um Casamento, estar vivo é algo complexo. Estar vivo é amar e sofrer ao mesmo tempo, pela mesma razão e pela mesma pessoa.

 

01 – O Irlandês, de Martin Scorsese

Martin Scorsese, um dos maiores cineastas da história, não conseguiu financiar um filme com Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci e Harvey Keitel no elenco e Steven Zaillian (A Lista de Schindler) no roteiro. O sonho de qualquer cinéfilo foi renegado por inúmeros estúdios até chegar na Netflix, que bancou o épico de Scorsese quase sem restrições. O resultado de uma obra comandada por Scorsese no ápice de sua forma artística, com total liberdade sobre o projeto, é próximo da perfeição.

O Irlandês é o tipo de obra-prima que surge de tempos em tempos para restabelecer seus responsáveis como lendas do Cinema. Não que Scorsese, De Niro e Pacino precisem provar algo, mas vê-los brilhar é uma das melhores coisas que a Sétima Arte proporcionou em 2019. Veja a cena em que De Niro fala com uma viúva no telefone, ou quando Pacino ouve sérias notícias durante uma festa. Assistir O Irlandês é testemunhar os melhores profissionais do Cinema dando tudo de si no melhor filme de 2019.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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