Crítica: 3ª parte de La Casa de Papel investe na ação, mas não inova

Depois de conquistar o mundo, La Casa de Papel retorna maior, com muito mais ação e ambição. Ainda assim, peca por não inovar e repetir a fórmula.

La Casa de Papel retorna maior, mais ambiciosa e repleta de ação. O roteiro, porém, não arrisca e repete a fórmula das temporadas anteriores

Ninguém esperava o tamanho do sucesso de La Casa de Papel. Os próprios criadores da série não imaginavam o estouro que o programa seria, e a maior prova é uma cena da 3ª parte do programa. Ao incentivar e explicar o novo plano à equipe, o Professor mostra algumas imagens. Nelas, vemos diversas pessoas ao redor do mundo vestindo o macacão vermelho e a máscara de Dalí, símbolos do show. É possível sentir o orgulho dos atores e da equipe na sequência, que mostra, de forma rápida, o alcance do projeto.

O problema é que La Casa de Papel talvez tenha acreditado demais em seu potencial. Possuindo, aparentemente, um orçamento muito maior do que antes, a série investe em grandiosas cenas de ação e efeitos visuais. Enquanto as temporadas anteriores apostavam numa abordagem mais concisa, voltada aos personagens e aos conflitos na Casa da Moeda, agora visitamos inúmeros países, vamos e voltamos no tempo e temos ainda mais personagens para acompanhar.

Série cresce e vira uma superprodução, mas deixa de lado os personagens 

É nítido que La Casa de Papel cresceu. E isso é ótimo, já que a série parece ter investido bem o seu dinheiro. A fotografia está mais caprichada, a direção mais ousada e até a trilha sonora encontra espaço para sucessos internacionais de maior renome. O problema é que o programa vira uma série de ação mais básica, se preocupando mais com as sequências movimentadas e com as reviravoltas do que com os personagens ou com o problema central.

Na trama, depois de Rio ser preso, a equipe precisar se reunir para salvá-lo. Para isso, entra em cena um ousado plano arquitetado por Berlim antes mesmo do roubo à Casa da Moeda. O Professor e sua leal equipe partem para uma missão arriscada para salvar Rio, ter mais dinheiro e desafiar o estado. Desta forma, até a ideia central da série é maior e mais absurda.

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Agora, o objetivo não é roubar dinheiro e ficar rico. Desta vez, o foco é salvar uma pessoa e desafiar o Estado. Em diversas ocasiões o personagens declaram guerra ao Estado e assumem o posto de revolucionários com toda pompa e circunstância. A sede revolucionária é ótima e rende momentos divertidos e interessantes, injetando seriedade e relevância ao roteiro. Trata-se, portanto, de uma criatura totalmente diferente daquela que conhecemos em temporadas anteriores. La Casa de Papel está enorme e há prós e contras neste contexto.

Temporada começa muito bem, mas perde força assim que o roubo se inicia 

Os primeiros dois capítulos, que antecedem a invasão e roubo, são excelentes. Trazendo o velho elenco de volta, o roteiro estabelece de forma ágil e competente a situação de cada um. Além disso, temos uma nova perspectiva de suas personalidades, já que os vemos no mundo real e exterior, longe do aprisionamento da Casa da Moeda. Além disso, nestes dois episódios, parece que o show investirá em uma ideia nova e surpreendente. É a partir do terceiro capítulo, porém, que a série pisa no freio.

É decepcionante, de certa forma, perceber que a 3ª parte desenvolverá, novamente, um assalto a um prédio estatal. É como se o cenário não mudasse. Apesar do objetivo ser diferente (resgatar Rio), o percurso é quase o mesmo das temporadas anteriores. Deste modo, La Casa de Papel não inova, e assim que entramos no prédio, a história apenas se repete. Temos os ladrões de macacão vermelho, os reféns, o grupo que tenta invadir e o negociador que enlouquece com um fone de ouvido. No meio de tudo isso, surgem imprevistos que fazem o plano se transformar a cada cinco minutos.

É divertido? Sem dúvidas. E envolvente e bem executado. O problema é que não é novo. Assim como outras séries da Netflix, a terceira temporada aposta em uma fórmula já estabelecida. As engrenagens funcionam, mas não arriscam. Assim, La Casa de Papel é aquele jovem que cresceu, mas continuou sendo a mesma pessoa.

Apesar das repetições e problemas, La Casa de Papel ainda é diversão garantida

La Casa de Papel bebe em fontes conhecidas, e de certa forma se aproxima dos thrillers de Christopher Nolan e Michael Mann. Na 3ª parte vemos diversos flashbacks que revelam como o plano foi elaborado. A edição, ágil e com ótimo timming, mescla cenas tensas do assalto com momentos mais calmos envolvendo Berlim, Palermo e o Professor enquanto estes desenrolam os planos. De início, tal artifício funciona muito bem, já que injeta tensão e movimento à sequências mais emocionantes da temporada. O problema é que a abordagem é utilizada exaustivamente. Praticamente TODAS as cenas tensas possuem quebras no desenvolvimento para inserção de flashbacks, o que quebra o ritmo e incomoda pela repetição.

Apesar de tudo, La Casa de Papel ainda é garantia de diversão pura. Com grandes doses de ação e suspense, os roteiristas sabem exatamente o que entregar para agradar o público. Cada fala e atitude é pensada no retorno e aceitação do público. Por isso, é uma temporada acessível, de fácil degustação. Trata-se de uma história rápida, objetiva e bem executada, que certamente fará sucesso enorme entre a audiência. Poderia ser ainda mais interessante se ousasse um pouco mais na história e não só na potência visual.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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