Crítica: Calls, do Apple TV+, é a série mais intrigante e diferente do ano

Em resumo, usando apenas vozes e poucos elementos, Calls, lançamento da Apple, é melhor do que metade das séries no ar atualmente. 

Calls

Com vozes e poucos elementos gráficos, Calls é uma das melhores surpresas do ano

Quando a Apple lançou seu projeto de streaming há alguns anos, prometeu uma porção de nomes de peso. Além de diretores renomados, ainda garantiu a presença de estrelas do primeiro escalão para protagonizar suas produções.

Ainda que não tenha lançado um super sucesso, o estúdio tem se esforçado e criado programas interessantes e com identidades próprias. The Morning Show é sólida, Servant é intrigante e Ted Lasso é a melhor comédia da atualidade. Calls, nova série de suspense da plataforma, é um dos projetos mais intrigantes, enervantes e diferentes que você verá este ano.

Criada e dirigida por Fede Alvarez, a série de nove episódios curtos tem uma premissa corajosa. Na tela vemos apenas os nomes dos personagens enquanto estes conversam pelo telefone ou celular. Assim, acompanhamos apenas a voz das pessoas, sem nunca vermos seus rostos ou ações. Visualmente, portanto, temos apenas as frases ditas por cada um e uma porção de animações intrigantes que dançam na tela, ditando o ritmo dos episódios.

PUBLICIDADE

Formato assusta no início, mas rouba a atenção e não solta mais

Num primeiro momento a abordagem assusta e quase afugenta, mas é preciso aguardar apenas alguns minutos para que o roteiro fisgue sua atenção e nunca mais a libere. Alvarez, conhecido por filmes como A Morte do Demônio O Homem nas Trevas, é um diretor de forte apelo visual. Aqui, sem o recurso tradicional das imagens, o cineasta se desdobra comandando um trabalho impecável de vozes, além de explorar ao máximo as animações que dão vida às ligações.

É irônico afirmar, aliás, que Calls tem algumas das melhores atuações que vi nos últimos meses. Ainda que ninguém apareça na tela, os atores dão um show ao emprestar suas vozes aos personagens. Desta forma, é possível que você já tenha chorado, gargalhado e se encolhido na cadeira antes do terceiro capítulo chegar ao fim. No elenco encontram-se artistas gabaritados que vão de Aaron Taylor-Johnson, a Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas e muitos outros.

O fio condutor de toda a série é um evento apocalíptico que acontece às vésperas de um novo ano. O fenômenos aparece no primeiro capítulo de forma arrebatadora, fazendo a audiência roer as unhas de nervosismo. A partir do segundo episódio acompanhamos outros personagens em datas que antecedem o tal acontecimento. O grande ponto é que cada história é diferente, no estilo Black Mirror. Cada capítulo tem personagens e tramas distintas, mas todas interligadas por pequenos detalhes que compõem o quebra-cabeças misterioso.

Histórias soltas formam um intrigante quebra-cabeças de horror e ficção

No processo, Calls é como uma coletânea de contos de vários escritores de horror e ficção. Há viagens no tempo, roubos, intrigas, invasões e uma porção de narrativas inventivas e bem escritas. Como um todo, Calls é uma das maratonas mais satisfatórias do momento, já que os episódios curtos e envolventes fazem com que voltemos compulsivamente para a história seguinte.

Comandada com brilhantismo por Fede Alvarez, Calls representa uma das melhores e mais ousadas apostas da Apple. Além disso, se revela como uma das séries que melhor resume o mundo pandêmico e isolado de hoje. No fim, o diretor, elenco e equipe evitam que a série soe como um simples podcast ou radionovela. As imagens contam e ajudam a contar uma história, mesmo que sejam apenas retas, pontos, distorções e animações abstratas.

Em resumo, usando apenas vozes e poucos elementos, Calls é melhor do que metade das séries no ar atualmente.

E você, conferiu Calls no Apple TV+? Deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades do Mix de Séries.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.