Crítica: Confie em Mim, série da Netflix, é morna e superficial
Critica da minissérie de suspense Confie em Mim, uma produção polonesa da Netflix, adaptação da obra homônima de Harlan Coben.
Sendo fã dos livros de Harlan Coben ou consumidor de suas produções da Netflix, você já está familiarizado pela forma com que o autor conta suas histórias. A estrutura é a mesma. O roteiro conduz o público por uma jornada de mistério e crimes, em geral envolvendo algum desaparecimento e assassinato, até a reviravolta final. Com uma escrita sinuosa e personagens cheios de segredos e de alguma forma conectados, suas produções são um conjunto de histórias que discutem os mais diversos temas. Em Confie em Mim não poderia ser diferente.
Adam começa a apresentar um comportamento estranho após o suicídi* de seu melhor amigo, Igor. Preocupados com o filho, seus pais instalam um aplicativo espião no celular do garoto a fim de descobrir alguma coisa que justifique sua mudança radical e o sentimento de culpa pela morte do amigo.
Após o desaparecimento de Adam, seus pais Anna e Michal decidem fazer todo possível para recuperar seu filho. À medida que descobrem que não conhecem tão bem o próprio filho. O que começa como uma história de uma mãe preocupada com o comportamento do seu filho, logo se torna uma trama conspiratória. Cabe ao público a tarefa de conectar os pontos da trama e seus personagens até desvendar seus mistérios.
Porém, a minissérie apresenta outro mistério envolvendo uma dupla de sequestradores que está capturando mulheres, enquanto tentam obter informações sobre um certo laptop que pode estar ligado ou não à misteriosa morte de Igor. A série revela muito pouco sobre a dupla e as coisas começam a fazer sentido apenas na parte final. E não há um desenvolvimento adequado para dupla de criminosos.
Estrutura de Confie em Mim é familiar, porém a trama é mal direcionada
Pawel e Laura, personagens principais de outra produção de Harlan Coben (Silêncio na Floresta), fazem uma participação aqui como núcleo de apoio. Os dois já tiveram sua cota de dor e sofrimento o bastante, então, desta vez, o roteiro é mais gentil com eles.
Apesar de uma rápida menção à história do casal, quem ganha mais espaço é a filha de Pawel, que a essa altura já cresceu e namora Adam. De toda forma, é interessante ver como o autor estabelece um universo compartilhado com suas produções polonesas.
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No entanto, a grande desvantagem de Confie em Mim é dividir sua atenção em duas tramas. Enquanto o desaparecimento de Adam e a rede de tráfico de drogas se desenvolve bem, a trama paralela sobre o desaparecimento e assassinato de mulheres parece perdida e desconexa.
Até o último minuto o espectador pode esperar por uma conexão inteligente entre as duas histórias, porém isso não acontece. Dessa forma, a segunda trama parece fraca e sem sentido, entregando um final insatisfatório e apressado. Já em relação a história de Adam, a polícia parece ineficaz, uma vez que os pais do garoto fazem de tudo.
Apesar de uma premissa interessante, a produção sofre ao tentar estabelecer um ritmo eletrizante típico de um thriller. O roteiro da série foge da armadilha comum de algumas produções de suspense que tendem a complicar muito as coisas só para confundir o espectador. Sendo assim, temos uma história simples de acompanhar que percorre caminhos coerentes e que no final faz sentido.
No entanto, falta adrenalina e um senso de perigo maior na forma como tudo é conduzido. O episódio final, apesar de entregar um desfecho, carece de desenvolvimento e emoção. Tudo é contextualizado de forma rasa.
Veredito
Ao contrário das demais produções de Harlan Coben na Netflix, Confie em Mim não é provocativa e seu desenvolvimento arrastado não ajuda muito a apresentar uma produção regular. Distribuída como uma minissérie, em seus seis episódios, a história parece perder um pouco a força ao tentar equilibrar várias sub tramas.
Ainda que seja interessante guardar alguns segredos para o final e criar reviravoltas, é também necessário entregar pistas sólidas e algumas respostas para manter o público interessado.
Embora haja um bom material, temas relevantes e boas ideias, tudo isso é prejudicado por uma história arrastada com um final apressado e sem fortes emoções. Tudo parece muito superficial, seja pelo mistério previsível, pelo roteiro fraco, pelas tramas mal amarradas ou pela atuação mediana. Mesmo não sendo uma produção terrível, não é notável.
Para quem é consumidor habitual dos thrillers originais da Netflix pode ser que encontre aqui algo com o mínimo de interesse para passar o tempo. Para os fãs do autor e conhecedores do material original, a experiência pode não ser tão boa assim. De fato, Confie em Mim aponta como uma das adaptações mais fracas de Harlan Coben. Um pena, visto que a minissérie tinha grande potencial.
Nota: 2/5