Crítica: Coringa, com Joaquin Phoenix, traz uma das versões mais intensas do vilão

Coringa, estrelado por Joaquim Phoenix, mostra a origem de uma versão "alternativa" para o clássico vilão do Batman em uma versão intensa e insana.

Famoso vilão do Batman, Coringa encontra sua mais sinistra encarnação

O Coringa sempre foi um personagem complexo, com muito a ser explorado, e se voltarmos a 2008 entendemos que é esse o gosto deixado por O Cavaleiro das Trevas, filme de Christopher Nolan. O público queria um pouco mais dele, e a atuação monumental de Heath Ledger foi a cereja do bolo para atender essas expectativas. Com essa carga, e após um Coringa desajeitado de Jared Leto em Esquadrão Suicida, um hype enorme foi criado desde que a DC anunciou que o personagem teria seu próprio longa, isolado do Universo Cinematográfico, e com um dos atores mais talentosos que Hollywood tem atualmente.

Mas após assistir ao longa, a pergunta que fica é: Coringa, com Joaquin Phoenix, conseguiu atingir as expectativas?

Trajetória insana do Coringa é contada com uma produção impecável

Inicialmente, temos uma história incrível, envolta em uma cinematografia fantástica. Desde já, fica nossos aplausos para a DC que teve a coragem em deixar de lado a segura receita de filmes de super-heróis para apostar em uma roteiro completamente diferente, fora da sua zona de conforto. Se antes duvidavam da capacidade dela em se consolidar nas telas grandes, Coringa tira esse questionamento de cena.

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A trama é uma história original, sem qualquer adaptação de história em quadrinhos – apesar de elementos reconhecido pelos fãs aparecerem. O vilão, neste filme, é um humorista fracassado, que trabalha como palhaço e apresenta um distúrbio psicótico, que envolve transtorno de personalidade e risadas incontroláveis. Um verdadeiro combo para a insanidade.

Por isso e tudo mais, Coringa se mostra um filme corajoso. Isso porque transmite uma incrível sensação de realidade, ao mesmo tempo que é extremamente sombrio e perturbador. Gotham City, retratada aqui nos anos 70, parece uma cidade onde não existe felicidade, e para onde se olha só há sofrimento. Esses elementos, sem dúvidas, contribuem para construir a psiquê de Arthur Fleck, aqui alter ego do futuro vilão do homem morcego.

Em certo ponto, você se sente mal pelo personagem. A dor que Joaquin Phoenix consegue transmitir apenas em um olhar é algo digno de aplausos, e sem dúvidas enquadra-se em uma das melhores atuações do ano. Vê-lo atuando como coringa nos faz lembrar porque gostamos de cinema. Seja por sua risada, seus movimentos, sua lenta transformação de Arthur Fleck, um fracassado aspirante a comediante em Coringa é algo incrível de assistir. Até as roupas que ele usa durante a história evoluíam de tempos em tempos, com base na sua jornada. Fora os diálogos, que são fortes e surpreendentemente tristes. Assim, o público se pega ficando do lado dele o tempo todo e torcendo por ele.

Joaquin Phoenix entrega atuação impactante em Coringa. Imagem: Warner/Divulgação.

Homenagens

Apesar de querer ser um filme solo, isolado como uma obra única e rara do cinema, Coringa não deixa de ambientar-se no universo do Batman. Na história, além de se passar em Gotham City, temos Thomas Wayne – o pai do Batman, como um médico milionário que quer salvar a população, mas que ao mesmo tempo não deixa de fazer “politicagem”. Em certo ponto, você chega a questionar o caráter do pai de Bruce (que também aparece no filme), mas isso não soa tão importante para a trama em si.

Além disso, temos o Asilo Arkham, onde Batman futuramente irá prender vilões como o Charada, Duas Caras, entre outros…

Sem contar que a própria morte dos pais do Batman é mostrada de forma espetacular. Ela consegue fazer homenagens aos traços de Batman: Ano Um, de Frank Miller, detalhando as pérolas de Martha Wayne pelo chão, a sessão de cinema de A Marca do Zorro a qual a família sai, entre outros detalhes. E até mesmo o filme de Tim Burton (Batman, 1989) é homenageado, quando um bandido qualquer com máscara de palhaço é o responsável pelo assassinato dos pais de Bruce. Logo, assim como a trama estrelada por Michael Keaton e Jack Nicholson, o Coringa aqui de alguma forma tem responsabilidade na futura criação do Batman.

As várias camadas de um Coringa

Ao final da película, é possível que entender que trata-se de um estudo profundo de um homem com vários distúrbios psicológicos frente a indiferença das pessoas e do Estado. Assim, é perceptível sua paixão pelo trabalho de palhaço, mas seria possível fazer alguém rir em uma sociedade fria e violenta? A todo momento algo ruim acontece com Arthur, e você sente pena dele, percebendo que em nenhum momento do primeiro ato, ele teve a intenção de prejudicar as pessoas. Isso alimenta no espectador a sensação de injustiça contra ele.

É normal que as pessoas queiram compará-lo com o Coringa de Ledger, e eu não diria que este é melhor ou pior. São Coringas diferentes: o de Ledger, criado para gerar insanidade em uma Gotham City onde já existe o Batman; o segundo, mostrando uma origem da insanidade que o guiará por toda sua jornada.

Independente da violência, ou dos impactos que o filme possa causar em pessoas com o psicológico mais sensível, Coringa certamente estará entre os grandes filmes do século. Tanto Ledger quanto Joaquin Phoenix fizeram um trabalho fenomenal e quem levou a sorte grande foi o vilão, interpretado por esses dois.

Parabéns mais uma vez, DC! Pela coragem e pela obra prima que merece – e deve – ser reconhecida no Oscar de 2020. Nossa torcida, ele já tem!

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