Crítica: “Em Nome de Deus” é uma desconstrução fiel ao poder do silêncio

Crítica da doc série do Globoplay Em Nome de Deus, produção que conta a história do médium João de Deus e os crimes que ele cometeu.

Imagem: Divulgação/Globoplay

Em Nome de Deus

Seguindo a denúncia apresentada em dezembro de 2018 no programa Conversa com Bial, o médium autointitulado João de Deus foi acusado e condenado por crimes de abuso sexual em centenas de mulheres e posse ilegal de armas. A derrocada do religioso foi uma surpresa para muitos, mas já esperada por vários. O que ficou claro, a cada depoimento, foi o motivo da impunidade por mais de quarenta anos: o silêncio.

O documentário “Em Nome de Deus”, de produção da Globoplay junto ao Canal Brasil, segue a excelente linha de produções como “Bandidos na TV” (Netflix) e “Marielle” (Globoplay). As precedentes citadas, para bem ou para mal, desconstroem nomes conhecidos e expõem fatos sobre casos notórios.

Na série sobre João de Deus, a linha do tempo traçada juntamente aos fortes depoimentos revelam uma imagem diferente da presente no imaginário popular de muitos brasileiros: um homem poderoso e inescrupuloso.

A desconstrução de um mito

Trabalhar com uma figura famosa e cultuada como João, entretanto, não é fácil. Sua influência tocou muitas vidas e pessoas são gratas até o presente momento por curas e melhoras que experienciaram ao longo dos anos. Pensando por esse ângulo, “Em Nome de Deus” se preocupa inicialmente em construir a imagem de João Teixeira antes de se preocupar em desconstruir o mito do João de Deus. Aliás, isso é algo feito com muita classe, contando com a presença ilustre de Drauzio Varella.

Sucesso internacional, os crimes de João fizeram vítimas por todo o mundo. Mesmo assim, seguiu livre até pouco menos de dois anos atrás. Sua influência foi construída baseada no silêncio de suas vítimas. Além disso, o trabalho de investigação do documentário faz um excelente trabalho em juntas as mulheres e apresentar suas histórias ao público como uma unidade.

O discurso do médium era repetido e, geralmente, usava os mesmos truques com suas vítimas. Portanto, a edição dos episódios é assertiva em costurar vários depoimentos com a visão jurídica do promotor do caso em Goiás, que reforça o repúdio aos fatos citados.

Seguindo nessa linha de pensamento, a produção entende que seu maior triunfo é seguir o caminho estabelecido naquele programa em dezembro de 2018: oferecer um espaço para que aquelas vozes sejam ouvidas. Logo, “Em Nome de Deus” é um lugar seguro em que as vítimas que sofreram em silêncio por anos podem finalmente falar sobre os horrores que as perseguem até hoje.

“Em Nome de Deus” não é uma série fácil de assistir. Mesmo muito bem montada e com pouquíssimos episódios (seis de 50 minutos), o tema é muito denso. Não é para ser assistida em todos os momentos, mas é para melhor. Quem se propor a maratonar os episódios, que o faça de mente e coração aberto para ouvir e entender tudo que aquelas mulheres passaram. A série mistura o entretenimento dos programas sobre crimes reais e o fundamental papel do jornalismo, como fala Pedro Bial na série. “Dar voz para quem não tem”. As vozes estão lá, nos resta ouvir e garantir que cenas como aquelas nunca mais se repitam na nossa sociedade. Nunca mais o silêncio.

Menção muito merecida: Mesmo que a criação da série seja de Pedro Bial, fica evidente que a roteirista Camila Appel tem o crédito por liderar a investigação e narrar a série. Trabalho fenomenal da jornalista.

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Sobre o autor
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Guilherme Bezerra

Pernambucano estudante de jornalismo. Apaixonado por séries desde sempre, aprendeu inglês maratonando How I Met Your Mother. Viajou por mundos e pelo tempo com o Doutor e nunca consegue dispensar uma maratona de Friends. Não vale esquecer a primeira maratona de séries com A Grande Família!

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