Crítica: Normal People e a beleza do amor difícil e real

Normal People assume a responsabilidade de se falar sobre amor e vida real. O resultado é uma série sensível e sincera sobre as belezas e durezas do amor.

Normal People assume a responsabilidade de falar sobre pessoas normais e acerta em cada passo do caminho

O título Normal People carrega um peso enorme. Como bem sabemos, o cinema e a TV tentam evocar a normalidade de nossas vidas há anos. Os resultados, porém, sempre são dúbios, independente da qualidade destas obras. Embora os roteiros e atores acertem em alguns pontos, é impossível alinhar a normalidade das telas com aquele que nos acomete na realidade.

Normal People, da Hulu e BBC3, assume o risco de falar sobre a vida e acerta. O segrego é manter os pés no chão e falar de forma franca e emocionalmente direta.

Na trama, baseada no livro homônimo de Sally Rooney, Marianne é uma jovem rica e nada popular. Ela vaga pelos corredores da escola sem ter amigos e falando apenas para reagir a provocações. Apesar da clara inteligência e do humor ácido, a garota prefere se isolar de uma comunidade que também não a quer. Já Connell é popular, embora leia muito, seja pobre e sempre dê preferência aos estudos.

A mãe do rapaz trabalha na casa de Marianne, e logo os dois se cruzam em uma sintonia que parece vibrar só para eles. Mas os relacionamentos são feitos de encontros e desencontros, e as idas e vindas da vida mantêm os jovens em indesejáveis afastamentos.

Normal People traz a sensibilidade e cuidados de quem sabe ouvir e enxergar as coisas belas da vida real

Série irlandesa, Normal People traz todas as características das produções locais, com todo o charme britânico e abordagem sem rodeios. Embora toque em diversos pontos batidos, amplamente desenvolvidos em produções norte-americanas, Normal People acerta ao focar seus personagens como se estes fossem realmente normais, e não clichês do ensino médio. O isolamento de Marianne, por exemplo, não é só por ela ser estranha ou fechada, mas porque ela e a comunidade em sua volta criaram barreiras que não precisavam existir, repelindo duas coisas que poderia viver em tranquilidade.

O modo como acompanha as conversas entre o casal também revela um cuidado e sensibilidade notáveis da série. Marianne e Connell não são estereótipos, mas foram colocados em tais situações, mesmo que não queiram. A forma como retrata o desejo e o sexo entre os jovens é outro acerto da produção, que não tem medo de revelar a fria nudez das pessoas normais ou o embaraço das trivialidades de uma transa.

Neste sentido, embora fiel ao romance original, Normal People tenta se afastar da simplicidade do livro. Bem escrito e escondendo uma profundidade enorme em seus parágrafos curtos e simples, o livro de Rooney traz a mesma sinceridade da série, mas acaba, muitas vezes, se afastando da almejada normalidade do título. Os jovens das páginas são mais clichês, enquanto os das telas trazem nuances maiores.

Boa direção, bela fotografia, trilha viciante e o frio da Irlanda completam o pacote

Essa abordagem mais complexa se dá por alguns motivos: Rooney trabalha nos roteiros da série, o que permite a retomada e reinterpretação de alguns elementos do livro. Além disso, a direção de Lenny Abrahamson traz um naturalismo mais que bem-vindo à narrativa e ao visual do programa. Conhecido por saber capturar o olhar infantil e O Quarto de Jack e o estranho em Frank, Abrahamson abraça o frio da Irlanda, bem como sua paleta dessaturada, para fazer uma das séries mais bonitas e sinceras da temporada. Em um mundo justo, o sujeito deveria estar entre os indicados ao próximo Emmy.

Acertando ainda na trilha sonora original e adaptada (você se verá procurando pelas músicas que tocam nos episódios), Normal People emociona e faz rir ao tocar em diversas vivências que o público certamente compartilha. Ao tratar dos percalços do amor, muito deles criados por nós mesmos, a série se distancia dos romances jovens adolescentes e adentra o terreno das histórias de amor sinceras e conscientes. Histórias de amor belas, duras e normais. E por isso únicas e inesquecíveis.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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