Crítica: The End of the F***ing World repete fórmula em uma boa 2ª temporada

The End of the Fucking World repete a fórmula do primeiro ano e se sai bem ao colocar os personagens na estrada e uma nova ameaça em seu encalço.

Imagem da série The End of the Fucking World
Imagem: Netflix/Divulgação.

Série retorna com a mesma estranheza em uma temporada levemente inferior à primeira

The End of the Fucking World acabou conquistando o público da Netflix, ao misturar elementos estranhos e outros já conhecidos e estabelecidos pela cultura pop.

Embora caprichasse na dose hipster, a série jamais se afastou do terreno seguro. Em uma mistura atenuada de Wes Anderson e irmãos Coen, a série fez um ótimo trabalho na surpreendente primeira temporada. O resultado rendeu uma inesperada renovação, e o novo ano surge como a típica continuação que não precisava existir, mas é boa do mesmo jeito.

O ponto a ser compreendido é que F***ing World tem um estilo visual, narrativo e de personagens muito específico. Aqui, a abordagem funciona em doses homeopáticas. É por isso que a temporada de estreia funciona tão bem: são episódios curtinhos em uma temporada que se encerra rapidamente e em alta. Insistir no formato por mais tempo gera um desgaste já esperado.

É fato que parte do humor e da dinâmica da série vinha da personalidade de sua dupla protagonista. O problema é que ambos são pessoas quase insuportáveis. Com isso, um dos problemas do segundo ano é que, a certa altura, fica difícil de aturar o temperamento de Alyssa e a letargia de James. Embora o roteiro tente sugerir uma mudança, não há uma virada de verdade. O casal segue praticamente o mesmo de antes, só que sem frescor e cientes dos defeitos um do outro.

A Morte pede Carona: nova ameaça ao casal está mais perto do que nunca

Já deu pra perceber que estamos falando do casal, ou seja: James está vivo. E a resposta para seu destino vem rapidamente, logo no segundo capítulo. Apesar de ter feito mistério em fotos e trailers, a série não demora para revelar o paradeiro do rapaz. De início, o roteiro estabelece a ameaça da nova temporada: Bonnie é a “ex-namorada” do sujeito que a dupla assassinara no primeiro ano. A personagem é claramente inspirada na própria HQ que deu origem ao programa. Nas páginas, uma policial persegue os adolescentes; o problema é que a mulher era amiga do falecido e ambos participavam do mesmo culto/rede de psicopatas.

Bonnie é uma boa personagem, mas lhe falta irreverência. Falta humor e um toque mais sádico em sua personalidade e ações. Seu lado humano e sua inaptidão social, contudo, a tornam mais crível e simpática aos olhos do público. Os demais coadjuvantes que surgem pelo caminho desempenham um ótimo papel, seja para alívio cômico ou para fazer a trama avançar.

Roteiro continua esperto ao repetir fórmulas, mas é menos engraçado

Mas The End of the Fucking World é, essencialmente, uma história sobre Alyssa e James. E é justamente quando a dupla se reúne e põe os pés na estrada que a segunda temporada cresce e retorna à forma. Como comentamos em nosso texto especial sobre as teorias da série, The End of the Fucking World é uma série que se engrandece quando está em movimento. Como em um típico road movie, a série é uma trama de situações, uma comédia de erros em que um problema leva a outro. O segundo ano se sai bem neste quesito, embora exagere nas coincidências e acidentes.

Com isso, a segunda temporada não é uma decepção, mas não supera seu primeiro ano. O roteiro segue esperto, embora menos engraçado. Os atores permanecem afiados (a dupla central é ótima, com destaque aos tiques nervoso de James) e a direção é certeira na criação do estranho universo. A falha encontra-se apenas em repetir a fórmula e dar voltas sem sentido em torno das mesmas questões. Note que caso James tivesse revelado determinada informação com antecedência, e não no sexto capítulo, muito poderia ter avançado e se transformado.

The End of the F***ing World é rápida e diverte com capítulos curtos e temporada enxuta

Neste sentido, os claros problemas sociais e psicológicos dos personagens acabam prejudicando a própria trama de avançar. Assim, a dupla desperdiça vários minutos discutindo ou remoendo inutilidades em pensamentos. Caso abraçasse mais descaradamente a HQ original e transformasse o casal em uma dupla de psicopatas assumidos e violentos, F***ing World assumiria a irrealidade e o absurdo que parece ter vergonha de carregar.

De todo modo, acompanhar James e Alyssa neste universo é ótimo. Maratonar a temporada é tarefa fácil e mais vemos o tempo passar. Com episódios de 20 minutos, o show voa com excelente ritmo, quase como um filme em que não tempo a perder. Não era uma continuação extremamente necessária, mas é ótimo ter este desfecho e revisitar os personagens. Talvez esta seja a última vez que os vemos.

Nossa relação com a série é semelhante à de Alyssa e James: perdeu-se o frescor e estamos cientes dos defeitos. Ainda assim, há qualidades suficiente para nos fazer ficar.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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