The Affair: Apesar de temporada irregular, série tem belo desfecho

The Affair chega ao fim com temporada irregular, mas tem desfecho emocionante e coerente, fazendo deste um dos melhores dramas da última década.

Imagem da série The Affair
Imagem: Divulgação/Showtime

Um dos melhores e mais subestimados dramas da TV recente, The Affair chega ao fim

The Affair nunca foi apenas sobre Noah e Alison.

Apesar de ter começado com o relacionamento dos dois, a série logo se mostrou um vasto drama sobre diversas relações humanas. Não demorou para que Helen crescesse e tivesse seu próprio ponto de vista na história. Também não levou tempo para que as crianças, filhas dos adultos protagonistas, ganhassem tempo de tela e seus próprios problemas. E não custou para a série ganhar o coração de um pequeno, mas fiel, grupo de fãs. No último domingo, The Affair chegou ao fim e deixou um vazio no peito, daqueles que só as boas séries deixam quando acabam.

Depois de cinco temporadas, um dos dramas mais respeitados do canal Showtime chega ao fim fazendo aquilo que tão bem fez nos últimos anos. Permitindo que os personagens abrissem o coração e falassem, The Affair terminou da maneira ideal: focando no ser humano e em quão complicada é a sua existência. Ao olhar para trás, é assustadora a quantidade de acontecimentos que se desenrolaram a partir de um “simples” caso. Ao ver os personagens no último episódio, é fácil perceber os anos que se passaram e toda a vida que se enrolou e desenrolou com o passar do tempo.

Personagens complicados e, assim, humanos

Uma das riquezas da série sempre foi apostar na complexidade de seus personagens, e suas personalidades difíceis. The Affair nunca endeusou Noah Solloway. O escritor/professor nunca foi o homem exemplar, tampouco o galã cuja razão sempre anda ao lado. Noah foi, desde o princípio, um homem falho, o tipo de sujeito que facilmente desprezaríamos e criticaríamos na internet e entre amigos e familiares. A grande questão é que Noah nunca foi só preto, nem branco. Assim como todos os demais personagens, ele sempre permaneceu em uma área cinzenta, turva. Assim como eu, e você, que lê este texto.

Nos capítulos derradeiros, Helen questiona o ex-marido: como ele pode ser tão bom e empático em alguns momentos e tão cruel em outros? O fato é que todos, dentro e fora dessa história, carregam armas capazes de salvar e de aniquilar. Todos os personagens, sem exceção, em algum momento, foram cruéis com alguém, mas também demonstraram amor e compreensão. Essa riqueza de detalhes e aprofundamento se deu graças à brilhante estrutura da série, que buscava entender sua narrativa e seus personagens através de diferentes pontos de vista.

Diferentes pontos de vista enriqueceram The Affair por cinco temporadas

Esta nunca foi uma história sobre certezas e sobre fatos, mas sobre as diferentes percepções sobre as coisas. O tom de voz, a duração e intensidade de um olhar, a cor da roupa, a música que toca no fundo: tudo depende da nossa percepção, do universo que carregamos dentro de nós mesmos. The Affair percebia isso desde o primeiro minuto, e todo seu brilhantismo nasceu daí.

Ainda que a quinta temporada tenha sido notavelmente irregular, The Affair conseguiu entregar cinco anos sólidos. É raro um programa manter o nível desta forma por tanto tempo, e embora tenha tropeçado nos capítulos finais, acertou de forma certeira no episódio derradeiro. O último ano errou ao adotar uma abordagem futurista demais para o futuro dos personagens. As ferramentas e os problemas do futuro de The Affair acabaram destoando do caráter real e naturalista que construíra até então.

Temporada final, porém, é a mais irregular do programa

Além disso, a personagem de Anna Paquin não funciona completamente. Embora a ideia seja excelente, a execução deixa a desejar. A premissa de que nossos erros impactam em gerações seguintes é genial, mas só é bem trabalhada no último episódio. Antes disso, Paquin tropeça em uma trama familiar que não funciona e em uma investigação tola que não rende os frutos desejados.

É na longa conversa com Noah, contudo, que tudo se encaixa. Até mesmo os problemas mais graves da temporada são amenizados com a bela troca de ideias que Joannie e Noah têm no restaurante onde tudo começou. Quando ela chega ao local, e Noah a recepciona dizendo “bem-vinda ao fim do mundo”, somos transportados à primeira temporada, quando Alison disse a mesma coisa para um Noah recém-chegado. Ao discutirem sobre as reverberações dos erros e medos em gerações seguintes, The Affair amarra suas ideias e chega ao ápice, comprovando-se como um notável épico sobre as relações humanas.

Problemas graves de The Affair são corrigidos no último segundo, mas deixam marcas

A temporada falha, ainda, ao desenvolver as acusações de má conduta por parte de Noah. É interessante rever as atitudes do personagem sob a ótica atual, percebendo que há consequência para seus erros. O roteiro erra as tangenciar o tema em diversas ocasiões. O mais preocupante, contudo, é notar que o texto quase perdoa Noah, beirando o absurdo de transformá-lo em vítima, enquanto as mulheres surgem como loucas mentirosas. Como sempre, The Affair amarra a situação de forma correta antes que tudo desande

Outro grande problema da temporada é resolvido no capítulo final. Como se a criadora quisesse se desculpar e consertar cada errinho, o roteiro dá atenção aos filhos de Helen e Noah, erroneamente deixados de lado durante grande parte do quinto ano. Alguns personagens, entretanto, não recebem o desfecho merecido: Sasha não aparece e outros sequer são citados.

Bem-vindo ao fim do mundo

Nada importa, entretanto, quando a história toca o coração do público. Noah dançando no abismo é emocionante, ao passo que condiz com toda a história da série. O carinho, respeito e amor entre Helen e Noah é uma das relações mais bem trabalhadas na TV. The Affair não era sobre o amor perfeito, idealizado, mas sobre o amor que machuca, que arde. Ao entender que o amor envolve carinho, mas também dor, The Affair fecha seu ciclo.

Nas alturas, à beira do abismo!

Você confere os episódios de The Affair, aqui no Brasil, pela Netflix.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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